quinta-feira, 28 de julho de 2011

SKATE: UM GIRO POR DENTRO DO ESPORTE DAS PEQUENAS RODAS

Por Cássio Ribeiro


Uma coisa é certa: o esporte chamado skate surgiu num dia de mar liso, sem ondas.


Bem no início da década de 1960, surfistas da Califórnia entediados com o mar calmo adaptaram rodas de patins em pranchas de surf para descerem as longas e famosas ladeiras de asfalto extremamente liso da cidade de São Francisco. O local é famoso pelas gravações de cenas de perseguição e saltos de carros para os filmes de Hollywood.




Marcelo Coruja desafiando a gravidade no skateparque de Guaratinguetá/SP



A primeira modalidade da prática do skate foi o Freestyle, que é uma espécie de dança composta por acrobacias no solo. Utiliza um skate menor e dispensa saltos e rampas.



O Freestyle ou estilo livre


No início da década de 1970, o skate perdeu espaço para as bicicletas. Muitas pistas fecharam e só alguns amantes do esporte continuaram a praticá-lo em vias públicas, corrimãos e praças.


Nascia a modalidade Street, na qual o skatista anda nos meios urbanos em qualquer lugar que represente obstáculo e a qualquer hora, inclusive em sessões que acontecem no meio da madrugada.





No Street, os obstáculos naturais das cidades e o skate se encontram



No final da década de 1970, houve um racionamento de água nos Estados Unidos, e as piscinas da Califórnia foram esvaziadas. Arredondadas e lisas, acabaram servindo de cenário perfeito para o surgimento da modalidade Vertical.






Seca nos EUA + piscinas vazias = surgimento do Vertical

Em 1991, o esporte pegou carona com a explosão fenomenal do disco Nevermind, da banda Nirvana, e adquiriu estilo arrojado com manobras mais radicais e desafiadoras em pistas cada vez mais verticais.



Bob Burnquist momentos antes de se "jogar" em mais um arriscado drope na Megarampa


O primeiro desafio para quem quer começar a praticar o esporte é achar o centro de gravidade (equilibrar-se sobre o skate de forma estável), depois levantar a frente e dar as primeiras batidas e giros de 360 graus, passando então para o estágio do "ollie", que consiste em saltar batendo a parte traseira do skate, ao mesmo tempo em que estica a perna dianteira à frente. Essa é a primeira manobra básica do skate e serve de base para todas outras.



Para o iniciante, deve ficar claro desde o início que skate, satisfação e queda convivem juntos sobre as quatro rodinhas. Os equipamentos de segurança são essenciais e obrigatórios. "Não adianta querer evoluir de um dia para o outro; 90% no skate é transpiração e 10% inspiração."


O lema desde o início, se há o desejo de realizar uma manobra, é repetição e repetição, explica o skatista Marcelo Coruja de Guaratinguetá/SP. Com 31 anos, Coruja é tricampeão amador do Vale do Paraíba e 17º colocado da primeira etapa do mundial de skate realizada no Brasil, estando entre os 30 melhores skatistas do país. Coruja considera o esporte uma espécie de dependência e acha os brasileiros os melhores do mundo. Para ele, a falta de investimento obriga os profissionais a morarem no exterior.



Acidente de percurso de Marcelo Coruja





 Skate, satisfação e queda convivem juntos sobre o carinhosamente chamado "carrinho"



Andar de skate é improvisar, equilibrar-se, ter coragem e força de vontade. É saber cair, sem beber, e depois levantar. É prever a distância e a velocidade necessárias para realizar uma manobra. É sentir o vento cortar o rosto de forma aveludada como o mel que acaricia a garganta ao descer.



Calças ou bermudas largas, tênis surrado, camisetas compridas e boné; figurino que, junto com o carrinho, torna o esporte singular e se funde em um todo como a expressão do próprio corpo no desafio da gravidade.



ENTREVISTA COM MARCELO CORUJA




Marcelo Coruja, como é conhecido, ganhou o primeiro skate de seu pai aos 7 anos de idade para "brincar". Com o apoio dos pais, alguns anos mais tarde iniciou a carreira de skatista em Guaratinguetá, cidade do Vale do Paraíba paulista. 

O esporte tornou-se seu ritmo de vida e passou a ser sua principal atividade. Já participou de mais de 230 campeonatos na categoria Street, conquistando ótimas colocações. Confira abaixo uma entrevista exclusiva com Marcelo Coruja, acompanhada de um ensaio fotográfico com momentos do skatista em suas radicais manobras.









Coruja fazendo seu fusca modelo 1953 fabricado na Alemanha ficar pequeno, com a cidade de Guaratinguetá ao fundo e...






pouco antes de dropar


Rádio Web Matrix: Defina o esporte Skate?


Coruja: O Skate foi sempre um esporte inovador e anárquico pelo fato de não existirem regras para a prática. O skatista simplesmente anda. Não é preciso interagir com terceiros, seguir regras ou regulamentos, nem mesmo é necessário um terreno específico para a prática.






Rádio Web Matrix: Até que idade você acha que um ser humano pode andar de skate, ou seja, até quando o corpo humano suporta a prática do esporte?


Coruja: Acredito que não há idade específica para parar. Conheço pessoas mais velhas que andam muito bem. O segredo está nos cuidados com o corpo, treinos regulares, disciplina.






Rádio Web Matrix: Até que idade você pretende andar de skate?


Coruja: Andarei até quando as pernas deixarem (risos). O skate corre no meu sangue. Enquanto correr sangue em minhas veias, vou estar em cima do carrinho.





Rádio Web Matrix: Quais os sons (músicas) que você curte ou prefere curtir quando se arrisca nas manobras da modalidade Vertical? São os mesmos sons que escuta quando faz Street, ou quando anda Street prefere outras músicas?


Coruja: Não diferencio os sons e gosto de tudo, mas o que mais me inspira são os gritos da galera. A motivação alheia domina meus pensamentos. Faço coisas por impulso.



Rádio Web Matrix: Vi no seu site que você agora também está participando de campeonatos como juiz confederado pela CBSK (Confederação Brasileira de Skate), depois de passar por um teste de avaliação da confederação, no qual somou 84 pontos. Quanto que a experiência na prática do esporte por longos anos influencia no julgamento das manobras como juiz durante os campeonatos?


Coruja: Como na maioria dos esportes, para ser árbitro e estar apto a julgar um atleta é preciso passar por uma série de avaliações físicas, psicológicas e teóricas. No skate não é diferente. Os testes não são fáceis e mesmo o mais experiente skatista precisa estudar para se dar bem, principalmente na prova teórica.


Como juiz, tento passar para os skatistas um pouco da minha experiência de vida. Desde o meu começo no skate, foram muitos anos de vida. Passei por muitas mudanças, muitos estilos, muitas diferenciações de manobras, muitos amigos e muitas viagens. De certa forma, tudo contribuiu para a minha concepção sobre o skate, mas não posso ficar só nisso. Procuro sempre estar me atualizando, pois o skate muda muito rápido. Como juiz, tenho a obrigação de saber o que acontece no meio.




Sentado à direita da mesa como árbitro da CBSK


Rádio Web Matrix: Cite alguns nomes da nova geração que você considera boas revelações e promessas para o skate do Vale do Paraíba. Comente sobre o estilo de cada um desses skatistas que você citar por favor?


Coruja: Há uma diversidade de atletas de ponta no Vale. Vou dar dois exemplos de atletas que convivo nos treinos da categoria Street: temos o Thiago Barbosa e o Anselmo Carvalho, ambos com muita variação de combos e saltos. Possuem constância, treinam diariamente, são de Guaratinguetá.



Com Marcelo Coruja ao centro,  a galera de Guaratinguetá no skateparque da cidade, que fica localizado à rua Luiz Pasteur, sem nº, próximo ao Largo do Ícaro, no bairro do Pedregulho. Para saber mais sobre a carreira de Marcelo Coruja, acesse www.marcelocoruja.com.br e corujaskates.blogspot.com

Um comentário:

  1. Cara muito legal essa matéria! eu pouca coisa sabia de Skate e tem muita informação disponível aqui. O principal é saber, que em nossa Guaratinguetá, tem gente que é fera no esporte! ENTÃO, EMPRESÁRIOS E COMERCIANTES DE GUARATINGUETA, O QUE ESTÃO ESPERANDO! VAMOS PATROCINAR ESSA GALERA E EXALTAR O NOME DE NOSSA CIDADE!

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