domingo, 17 de fevereiro de 2013

A GUERRA FRIA, OS CELULARES E OS JOVENS





Por Cássio Ribeiro


Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o mundo foi dividido em dois grandes pólos de influência política. De um lado, os interesses capitalistas dos Estados Unidos, de outro, a então União Soviética com seu sistema socialista centralizado no monopólio de poder do Estado.

O sistema estatal soviético agonizava e estava praticamente em colapso, mas ressurgiu com força total após a vitória conquistada diante dos nazistas, na histórica Batalha de Kursk, em Stalingrado, em 1943. A ocasião marcou a primeira derrota do todo poderoso e até então invencível Exército Nazista de Adolf Hitler na Segunda Guerra Mundial.

Os nazistas, enfraquecidos pela primeira derrota, foram empurrados pelos soviéticos de volta para a Alemanha durante dois anos; fato que possibilitou a invasão da Normandia pelos Aliados liderados pelos americanos, além do primeiro bombardeio aéreo realizado pela Real Força Aérea Inglesa sobre a Alemanha desde o início da Segunda Guerra, bombardeio esse que culminou com a rendição dos nazistas e a derrota de Hitler.

Nesse contexto, surge o mundo bipolar simbolizado pela construção do Muro de Berlim, que dividiu o território alemão em duas zonas de influência. A parte leste da Alemanha e da Europa ficou sob domínio político da União Soviética, e a parte oeste sob o controle capitalista americano. Começava então uma corrida armamentista desenfreada, na qual os dois lados investiram milhares de dólares em armamento, tecnologia de guerra e tecnologia espacial.

Embora jamais tenham entrado em combate armado diretamente, ocorreu a chamada Guerra Fria, na qual vários conflitos pelo mundo foram financiados pelas duas potências, estando sempre de um lado idéias capitalistas e, de outro, idéias socialistas, como nas guerras do Vietnã e da Coréia por exemplo.


 A construção do Muro de Berlim ...


representou fisicamente a divisão do planeta em uma bipolaridade marcada pela divisão entre o capitalismo americano e o socialismo soviético, ...



 além da chamada Guerra Fria


Durante a Guerra Fria, os soviéticos investiram quase todos os recursos financeiros em aparatos bélicos, porém, deixaram a saúde e os cuidados com a economia em segundo plano.


Essa política acabou ocasionando a queda da influência ideológica socialista no mundo, que foi simbolizada pela derrubada do Muro de Berlim, em 1990, e o consequente desmembramento da União Soviética.

Com o fim da União Soviética e da Guerra Fria, os Estados Unidos ficaram com todo o aparato tecnológico desenvolvido durante décadas, e resolveram empregar, a partir da década de 1990, tal aparato
tecnológico adaptado como bens de consumo, espalhando-o de forma comercial pelo mundo como fornos de microondas, internet e aparelhos celulares.

Nos dias atuais, os celulares formam apenas um fator de exportação do entretenimento e da cultura dos EUA, que é responsável pela acumulação de capitais e lucros em escala global por meio das multinacionais.


Essa é a principal razão da idéia de globalização tão em moda ultimamente. O alvo principal do imperialismo cultural dos EUA é a juventude, que é mais vulnerável à propaganda comercial americana. A mensagem é simples e direta: modernidade e consumismo.



Não há aqui a pretensão de pregar contra o uso de aparelhos celulares, que são até úteis e trazem facilidades, conforto e comodidade. O problema se configura quando o uso desses aparelhos torna-se uma obsessão ligada diretamente à etiqueta social, alienando os consumidores para sempre trocarem seus celulares pelo último modelo; fato que ocorre também com diversos outros produtos.

A massa humana então torna-se o principal componente do jogo ideológico do imperialismo cultural, que é norteado pelas relações desiguais entre países com realidades econômicas bem diferentes (ricos e pobres); nesse jogo, as vantagens econômicas são sempre usufruídas pelo país que possui a economia mais forte.



A palavra chave é ‘consciência’, ou a falta dela, no sentido de entendimento interno dos mecanismos deste jogo. O imperialismo cultural enfoca a juventude não só como um mercado, mas também por razões preventivas e políticas, a fim de cortar pela base uma possível ameaça futura de oposição contra as formas de controle econômico e cultural estabelecidas pelo sistema capitalista atualmente.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

ARAL: O MAR QUE AGONIZA






Por Cássio Ribeiro

O Mar de Aral já foi o 4° maior lago ou mar interior do mundo, com uma área inicial de 68 mil quilômetros quadrados.  Assim como o Mar Cáspio e o Mar Negro, sua formação ocorreu há cerca de 5,5 milhões de anos, devido a uma diminuição no nível dos mares.




O Mar de Aral se tratava originalmente de um rico ecossistema que reunia peixes, pássaros e muitos outros animais selvagens, mas começou a encolher e perder seu volume de água a partir de 1960, quando a então União Soviética começou a drenar as águas dos rios que o alimentavam (Rio Syr, ao norte; e Rio Amu, mais ao sul) para a irrigação de imensas plantações de arroz, melões cereais e algodão, chamado pelos soviéticos na ocasião de Ouro Branco.


Como resultado, os níveis de água do Aral cairam rapidamente em 50 anos, e atualmente, a área ocupada pelo Mar já diminuiu 90%, dividindo-o em dois pequenos lagos, chamados Aral do Norte e Aral do Sul. Muitos cientistas afirmam que o ocorrido trata-se da transposição para irrigação mais mal administrada da História.



 Localização do Mar de Aral no mapa da Ásia, com a representação do lago original dentro do retângulo, antes do início da seca registrada


E a mesma representação num mapa em escala maior, onde são observados na Ásia Central os rios que alimentavam o Aral antes das transposições: Rio Syr, ao norte; e Rio Amu, ao sul (clique para ampliar as imagens)



Comparativo com imagens de satélite que mostram a secagem gradativa o Aral entre 1977 e 2006



Seca gradativa representada em tons de azul entre1960 e 2000


Aral do Norte e Aral do Sul atualmente


O encolhimento do Mar de Aral é considerado o maior desastre ecológico causado pelo homem no mundo. Com a seca gradativa e rápida, problemas gravíssimos começaram a surgir. A pesca comercial local, que nos anos 80 sustentava cerca de 60 mil pessoas com a produção de 40 mil toneladas de peixe por ano, está praticamente extinta.









Além do desemprego e das dificuldades econômicas geradas, a região do Aral é extremamente poluida, o que gera gravíssimos problemas de saude pública. A seca do Mar do Mar também já influencia nas mudanças climáticas locais, com verões cada vez mais secos e invernos cada vez mais frios.





A poeira proveniente das tempestades de areia vindas do leito do lago seco, carregada de agrotóxicos e outros produtos químicos, associadas à queima de combustíveis fósseis, tem causado graves problemas respiratórios entre a população da região.
 





Os soviéticos conseguiram irrigar o deserto às custas do desastre ambiental, e hoje, sua ex-república, o Uzbequistão, é um dos maiores exportadores de algodão do mundo.


Muitos dos canais foram mal construídos, permitindo uma evaporação e a consequente perda de até 75% da água transportada.


Em contrapartida, a então União Soviética afirmava que o Aral já estava naturalmente condenado, pois sua extinção ocorreria certamente com o passar do tempo, não sendo o desvio das águas dos rios que o alimentavam o fator determinante para o seu fim. Alguns especialistas soviéticos afirmavam que o Aral era um "erro da natureza", e que era óbvio que a evaporação do lago seria algo inevitável.




No verão de 2003, o sul do Mar de Aral estava desaparecendo mais rápido do que o previsto. Nas partes mais profundas do mar, as águas do fundo eram mais salgadas do que as do topo, e ambas não se misturavam. Assim, apenas a parte superior do mar foi aquecida no verão, e evaporou-se mais rapidamente do que estava ocorrendo até então




Em 2004, a área da superfície do Mar de Aral era de apenas 17.160 quilômetros quadrados, ou 25% de seu tamanho original, havendo ainda  um aumento significativo dos níveis de salinidade.




Em 2007, a área do Aral  já tinha diminuido para 10% do seu tamanho original, e a salinidade já era de 100 gramas por litros de água (a salinidade original antes do desastre ambiental era de 35 gramas por litro). 



Em outubro de 2003, o governo do Cazaquistão anunciou um plano para construir uma barragem de concreto que separa as duas metades do Mar de Aral (norte e sul).



A barragem foi concluída em agosto de 2005 e, desde então, o nível da água do Aral do Norte subiu um pouco e sua salinidade diminuiu. A partir de 2006, uma pequena recuperação do nível do mar foi observada, possibilitando uma modesta volta da atividade pesqueira na região do norte. 
 

 
Um comparativo entre imagens de satélite mostram uma modesta recuperação no Aral do Norte: na imagem de baixo, o lago do norte em 2005 e antes da construção da barragem; e na imagem de cima, o mesmo lago um ano depois, em 2006, com a barragem já concluída. Nota-se que o processo destrutivo é muito mais rápido do que o observado durante a recuperação




Em 2008, o nível de água no Aral do Norte já havia subido 24 metros, o que representa 50% de aumento em relação ao nível de água observado antes da construção da barragem. O Mar, que havia recuado quase 100 quilômetros ao sul da cidade portuária de Aralsk, está agora a apenas 25 quilómetros da mesma. 


 Já o Aral do Sul, que fica no Uzbequistão, bem mais pobre que o Cazaquistão, ao norte, continua abandonado à própria sorte. Apenas o pequeno excedente de água do Aral do Norte, quando há, é permitido fluir para o Aral do Sul.


O ocorrido com o Mar de Aral deixa claro que obras de transposição como a do Rio São Francisco, no Brasil, embora de extrema importância emergencial para a resolução da seca no Nordeste Brasileiro, devem ser realizadas com minucioso planejamento e, principalmente, com estudos prévios aprofundados sobre as consequências ambientais posteriores, a fim de que não se leve vida e riqueza para uma região em função de impactos ambientais destrutivos e da aniquilação de outra.