quinta-feira, 28 de julho de 2011

SKATE: UM GIRO POR DENTRO DO ESPORTE DAS PEQUENAS RODAS

Por Cássio Ribeiro


Uma coisa é certa: o esporte chamado skate surgiu num dia de mar liso, sem ondas.


Bem no início da década de 1960, surfistas da Califórnia entediados com o mar calmo adaptaram rodas de patins em pranchas de surf para descerem as longas e famosas ladeiras de asfalto extremamente liso da cidade de São Francisco. O local é famoso pelas gravações de cenas de perseguição e saltos de carros para os filmes de Hollywood.




Marcelo Coruja desafiando a gravidade no skateparque de Guaratinguetá/SP



A primeira modalidade da prática do skate foi o Freestyle, que é uma espécie de dança composta por acrobacias no solo. Utiliza um skate menor e dispensa saltos e rampas.



O Freestyle ou estilo livre


No início da década de 1970, o skate perdeu espaço para as bicicletas. Muitas pistas fecharam e só alguns amantes do esporte continuaram a praticá-lo em vias públicas, corrimãos e praças.


Nascia a modalidade Street, na qual o skatista anda nos meios urbanos em qualquer lugar que represente obstáculo e a qualquer hora, inclusive em sessões que acontecem no meio da madrugada.





No Street, os obstáculos naturais das cidades e o skate se encontram



No final da década de 1970, houve um racionamento de água nos Estados Unidos, e as piscinas da Califórnia foram esvaziadas. Arredondadas e lisas, acabaram servindo de cenário perfeito para o surgimento da modalidade Vertical.






Seca nos EUA + piscinas vazias = surgimento do Vertical

Em 1991, o esporte pegou carona com a explosão fenomenal do disco Nevermind, da banda Nirvana, e adquiriu estilo arrojado com manobras mais radicais e desafiadoras em pistas cada vez mais verticais.



Bob Burnquist momentos antes de se "jogar" em mais um arriscado drope na Megarampa


O primeiro desafio para quem quer começar a praticar o esporte é achar o centro de gravidade (equilibrar-se sobre o skate de forma estável), depois levantar a frente e dar as primeiras batidas e giros de 360 graus, passando então para o estágio do "ollie", que consiste em saltar batendo a parte traseira do skate, ao mesmo tempo em que estica a perna dianteira à frente. Essa é a primeira manobra básica do skate e serve de base para todas outras.



Para o iniciante, deve ficar claro desde o início que skate, satisfação e queda convivem juntos sobre as quatro rodinhas. Os equipamentos de segurança são essenciais e obrigatórios. "Não adianta querer evoluir de um dia para o outro; 90% no skate é transpiração e 10% inspiração."


O lema desde o início, se há o desejo de realizar uma manobra, é repetição e repetição, explica o skatista Marcelo Coruja de Guaratinguetá/SP. Com 31 anos, Coruja é tricampeão amador do Vale do Paraíba e 17º colocado da primeira etapa do mundial de skate realizada no Brasil, estando entre os 30 melhores skatistas do país. Coruja considera o esporte uma espécie de dependência e acha os brasileiros os melhores do mundo. Para ele, a falta de investimento obriga os profissionais a morarem no exterior.



Acidente de percurso de Marcelo Coruja





 Skate, satisfação e queda convivem juntos sobre o carinhosamente chamado "carrinho"



Andar de skate é improvisar, equilibrar-se, ter coragem e força de vontade. É saber cair, sem beber, e depois levantar. É prever a distância e a velocidade necessárias para realizar uma manobra. É sentir o vento cortar o rosto de forma aveludada como o mel que acaricia a garganta ao descer.



Calças ou bermudas largas, tênis surrado, camisetas compridas e boné; figurino que, junto com o carrinho, torna o esporte singular e se funde em um todo como a expressão do próprio corpo no desafio da gravidade.



ENTREVISTA COM MARCELO CORUJA




Marcelo Coruja, como é conhecido, ganhou o primeiro skate de seu pai aos 7 anos de idade para "brincar". Com o apoio dos pais, alguns anos mais tarde iniciou a carreira de skatista em Guaratinguetá, cidade do Vale do Paraíba paulista. 

O esporte tornou-se seu ritmo de vida e passou a ser sua principal atividade. Já participou de mais de 230 campeonatos na categoria Street, conquistando ótimas colocações. Confira abaixo uma entrevista exclusiva com Marcelo Coruja, acompanhada de um ensaio fotográfico com momentos do skatista em suas radicais manobras.









Coruja fazendo seu fusca modelo 1953 fabricado na Alemanha ficar pequeno, com a cidade de Guaratinguetá ao fundo e...






pouco antes de dropar


Rádio Web Matrix: Defina o esporte Skate?


Coruja: O Skate foi sempre um esporte inovador e anárquico pelo fato de não existirem regras para a prática. O skatista simplesmente anda. Não é preciso interagir com terceiros, seguir regras ou regulamentos, nem mesmo é necessário um terreno específico para a prática.






Rádio Web Matrix: Até que idade você acha que um ser humano pode andar de skate, ou seja, até quando o corpo humano suporta a prática do esporte?


Coruja: Acredito que não há idade específica para parar. Conheço pessoas mais velhas que andam muito bem. O segredo está nos cuidados com o corpo, treinos regulares, disciplina.






Rádio Web Matrix: Até que idade você pretende andar de skate?


Coruja: Andarei até quando as pernas deixarem (risos). O skate corre no meu sangue. Enquanto correr sangue em minhas veias, vou estar em cima do carrinho.





Rádio Web Matrix: Quais os sons (músicas) que você curte ou prefere curtir quando se arrisca nas manobras da modalidade Vertical? São os mesmos sons que escuta quando faz Street, ou quando anda Street prefere outras músicas?


Coruja: Não diferencio os sons e gosto de tudo, mas o que mais me inspira são os gritos da galera. A motivação alheia domina meus pensamentos. Faço coisas por impulso.



Rádio Web Matrix: Vi no seu site que você agora também está participando de campeonatos como juiz confederado pela CBSK (Confederação Brasileira de Skate), depois de passar por um teste de avaliação da confederação, no qual somou 84 pontos. Quanto que a experiência na prática do esporte por longos anos influencia no julgamento das manobras como juiz durante os campeonatos?


Coruja: Como na maioria dos esportes, para ser árbitro e estar apto a julgar um atleta é preciso passar por uma série de avaliações físicas, psicológicas e teóricas. No skate não é diferente. Os testes não são fáceis e mesmo o mais experiente skatista precisa estudar para se dar bem, principalmente na prova teórica.


Como juiz, tento passar para os skatistas um pouco da minha experiência de vida. Desde o meu começo no skate, foram muitos anos de vida. Passei por muitas mudanças, muitos estilos, muitas diferenciações de manobras, muitos amigos e muitas viagens. De certa forma, tudo contribuiu para a minha concepção sobre o skate, mas não posso ficar só nisso. Procuro sempre estar me atualizando, pois o skate muda muito rápido. Como juiz, tenho a obrigação de saber o que acontece no meio.




Sentado à direita da mesa como árbitro da CBSK


Rádio Web Matrix: Cite alguns nomes da nova geração que você considera boas revelações e promessas para o skate do Vale do Paraíba. Comente sobre o estilo de cada um desses skatistas que você citar por favor?


Coruja: Há uma diversidade de atletas de ponta no Vale. Vou dar dois exemplos de atletas que convivo nos treinos da categoria Street: temos o Thiago Barbosa e o Anselmo Carvalho, ambos com muita variação de combos e saltos. Possuem constância, treinam diariamente, são de Guaratinguetá.



Com Marcelo Coruja ao centro,  a galera de Guaratinguetá no skateparque da cidade, que fica localizado à rua Luiz Pasteur, sem nº, próximo ao Largo do Ícaro, no bairro do Pedregulho. Para saber mais sobre a carreira de Marcelo Coruja, acesse www.marcelocoruja.com.br e corujaskates.blogspot.com

sábado, 23 de julho de 2011

A VINDA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA PARA O BRASIL


Por Cássio Ribeiro


No início do século 19, Napoleão Bonaparte dominava quase todos os países da Europa. O imperador francês conseguiu estabelecer seu controle econômico e político na Europa, graças ao poder militar significativo da França naqueles tempos.



Bonaparte só não conseguiu vencer a poderosa marinha da Inglaterra, que era a principal inimiga e concorrente comercial da França. Nas Ilhas Britânicas, os franceses não conseguiram entrar. Napoleão então decretou o Bloqueio Continental, que proibia o comércio de todo o continente europeu com a Inglaterra, a fim de enfraquecê-la.



No meio dessa literal briga de cachorros grandes, estava Portugal, que era um grande aliado da Inglaterra. Os ingleses eram os principais fornecedores de produtos manufaturados consumidos em Portugal, e grandes compradores de produtos portugueses e brasileiros.

O rei de Portugal, Dom João 6º, estava sem saída, pois se não aderisse ao Bloqueio Continental, teria que enfrentar o poderoso Napoleão, com o modesto e fraco exército português daqueles tempos.









O rei Dom João 6º: uma cômica figura para uns; um sábio estrategista para outros



Depois de adiar muito a decisão, Dom João 6º foi aconselhado pelo embaixador inglês em Lisboa, Visconde de Strangford, a mudar-se com toda a corte para a colônia brasileira. A idéia foi bem aceita pelo rei português, pois impediria o fim de sua Dinastia de Bragança em Portugal. As tropas de Napoleão, já em território espanhol, avançavam rápido em direção a Portugal.




Em 29 de novembro de 1807, Dom João 6º e toda a corte portuguesa, num total de aproximadamente 15 mil pessoas, partiam para o Brasil escoltados por 4 navios de guerra ingleses. Foram 54 dias no mar, até que em 22 de janeiro de 1808, o rei de Portugal chegou a Salvador, na Bahia. Após a manutenção das embarcações e a reposição de mantimentos, a família real portuguesa embarcou novamente em direção ao Rio de Janeiro, onde chegou em 7 de março de 1808. Começava ai uma nova era na história do Brasil.




Depois de despejarem os moradores das melhores casas da cidade do Rio de Janeiro e ocupá-las, os nobres portugueses passaram a influenciar na forma de vida e nos costumes da cidade. Talheres, navalhas para fazer a barba, facas e muitos produtos ingleses chagavam sos montes. A primeira medida do rei Dom João 6º no Brasil foi abrir os portos ao comércio com as nações amigas, o que acabou beneficiando quase que exclusivamente a economia da Inglaterra de forma significativa.




Os ingleses chegaram até a enviar alguns produtos inúteis ao Brasil, como patins para gelo e carteira para notas (só eram usadas moedas por aqui).




A administração real em território brasileiro possibilitou, além da não derrota formal para a França, a manutenção da unidade colonial e do comércio com a Inglaterra. Alguns historiadores afirmam que se a corte portuguesa não tivesse mudado para o Brasil, nosso país hoje estaria dividido em 5 ou 6 nações distintas, a exemplo do que aconteceu com os territórios da América Espanhola.




Já outra corrente dos historiadores prefere classificar a estada da família real portuguesa no Brasil como uma ação parasita, já que havia a exploração das províncias para a manutenção dos mesmos privilégios reais de que a nobreza portuguesa gozava na Europa.




Para esses historiadores, é necessário e essencial buscar um entendimento do tipo de modelo republicano e constitucional que esse período administrativo da corte no Brasil originou em nosso país, até que chegamos aos dias atuais com a realidade dos escândalos políticos e administrativos do nosso sistema republicano capitalista .




O rei Dom João 6º voltou para Portugal em 1821, mas deixou seu filho Dom Pedro I como príncipe regente do Brasil. Os portugueses exigiam a volta do príncipe, a fim de que o Brasil voltasse à condição de simples colônia portuguesa, como era antes da vinda da corte.




Antes de partir, Dom João 6º recomendou ao filho que liderasse um movimento separatista que tomasse conta do Brasil, para que a Família Real de Bragança não perdesse o novo reino. Em 7 de setembro de 1822, a Independência do Brasil era declarada por Dom Pedro I.




Embora a Família Real de Bragança permaneça no Brasil até hoje, representada na figura do bisneto da princesa Isabel e herdeiro do trono Brasileiro, Dom Luiz de Orleans e Bragança, se o sistema de governo monárquico tivesse permanecido no Brasil e a República não tivesse sido proclamada em 1889, a monarquia naturalmente não teria resistido aos períodos posteriores, que foram marcados por dificuldades econômicas e sociais.








Brasão da Família Real de Bragança...





e o bisneto da princesa Isabel, Dom Luiz de Orleans e Bragança, herdeiro do trono brasileiro




A monarquia teria caído durante uma daquelas agitações e revoltas que tomaram conta do Brasil nas primeiras décadas do século 20, e culminaram com a tomada do poder por Getúlio Vargas na Revolução de 1930; mas essa já é uma outra história.




Em 1993, foi realizado um plebiscito para que o povo brasileiro pudesse decidir entre 3 sistemas de governo: presidencialismo, parlamentarismo ou monarquia. Os monarquistas somaram 13% dos votos válidos e a maioria dos brasileiros optou pela manutenção do presidencialismo.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

ALDIR BLANC: EQUILIBRADO ENTRE A PSIQUIATRIA E A POESIA

Por Cássio Ribeiro


"Caía, a tarde feito um viaduto, e um bêbado trajando luto, me lembrou Carlitos"..."Meu Brasil, que sonha, com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu, num rabo de foguete"..."A esperança equilibrista, sabe que o show de todo artista, tem que continuar".





Embora o ex-psiquiatra, cronista, letrista e poeta Aldir Blanc tenha mais de 600 músicas gravadas, quase todo brasileiro já ouviu a canção 'O Bêbado e a Equilibrista', gravada em 1979, na inconfundível interpretação de nossa saudosa Elis Regina.




Na canção, a letra lírica de Blanc se casa com o tom que lembra um clamor triste na voz de Elis. A música transformou-se num símbolo de reivindicação pela abertura política durante o Regime Militar brasileiro. O trecho da letra que fala sobre a volta do irmão do Henfil refere-se ao já falecido sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fora do Brasil como exilado político na época.





O autor Aldir Blanc nasceu em 1946 e foi criado no bairro carioca do Estácio. Fez sua primeira composição aos 16 anos. Ingressou na faculdade de medicina em 1966 e especializou-se em psiquiatria. Abandonou a medicina em 1973 para dedicar-se exclusivamente à música. Outras canções famosas, nascidas da parceria com João Bosco, são: 'Bala com Bala', 'De Frente pro Crime', 'Caça à Raposa' e 'Mestre Sala dos Mares'.



Como escritor, Aldir Blanc publicou o livro 'Brasil Passado a Sujo', em 1993. No livro, Blanc se revela contista, poeta e cronista, ao abordar com um misto de aspereza e ternura, alguns personagens dos conturbados cenários carioca e nacional.




TIRADAS DE BLANC



"É no boteco da esquina que arquitetamos nossos projetos mais sublimes, nossos sonhos mais elevados - os mesmos que desmoronam assim que enfiamos a chave na fechadura do que convencionamos chamar residência." Jornal do Brasil, 05/05/2005




"Apesar de seu poder devastador, a morte morre de inveja dos frágeis seres humanos: enquanto os desvalidos acharem graça na desgraça, sua vitória não será completa." Jornal do Brasil, 07/07/2005




"Neto cura ressaca, depressão, unha encravada, vontade de misturar soda cáustica com Campari. Até pegar piolho de neto vira uma festa cheia de desdobramentos imprevisíveis. E o vô, já entrando aos tropeços na terceirona, ri, ri, ri etc." Jornal do Brasil, 23/06/2005





A tecnologia de ponta já deveria ter inventado um detector de corrupção. Era só passar uma tabuinha com nota de dólares na ponta: os olhos do cara se esbugalhariam e as mãos, ainda que algemadas, procurariam as verdinhas." Jornal do Brasil, 09/06/2005




Fechada dentro de um táxi, numa transversal do tempo, acho que o amor é uma ausência de engarrafamento." Transversal do tempo, gravada por Elis Regina



"O pior cego é o que, além de não querer ver o próprio rabo, tenta enfiar o dedo no olho dos outros." Jornal do Brasil, 21/08/1998



"Vocês sabem porque eu ainda não morri? Porque eu leio, porque o dia seguinte trará um novo livro." Jornal do Brasil, 24/06/2005

domingo, 17 de julho de 2011

A ÁGUA: SEUS ASPECTOS FÍSICOS MUNDIAIS E HUMANOS



Cachoeira Véu de Noiva, no Parque Nacional do Itatiaia / RJ



Por Cássio Ribeiro (Esta postagem é dedicada ao meu querido irmão Fábio Cox).




Um jardim frondoso que cresce, uma mina que brota no meio de uma praça florida, o fluxo que jorra pelas comportas de uma hidrelétrica e movimenta seu imenso gerador de energia num rápido giro, a chuva que cai do céu, o sangue, a lágrima, o suor, o gelo, o vapor que movimentou as locomotivas e as máquinas que impulsionaram a Revolução Industrial da Inglaterra no século 19; tudo isso diz respeito ao principal mantenedor da vida sobre a Terra, a água.




Dois simples átomos de hidrogênio que se ligam a um solitário átomo de oxigênio para formar a molécula do elemento da natureza responsável por 70% da composição do corpo humano. São 43 litros de água em média que cada ser humano adulto carrega em sua individualidade física durante toda a vida.




Não é ao acaso que a existência da lenda sobre a fonte da juventude, que rejuvenesce que bebe das suas águas, povoe o imaginário popular em todo o mundo. É dito na lenda, que os árabes teriam encontrado tal fonte e que, posteriormente, ela fôra roubada por inimigos bárbaros, desaparecendo no fundo do mar após um naufrágio.




De certa forma, a água é mesmo uma natural e milagrosa fonte da juventude, pois está entre 50% e 90% da composição de todo organismo vivo. Trata-se do único alimento verdadeiramente com zero caloria que existe, e que fornece nutrientes não encontrados em nenhuma outra substância ingerida durante a alimentação humana. Cada ser humano adulto deve beber entre 2 e 3 litros de água todos os dias, sendo ideal que o consumo seja feito em doses de 200 ml.



Para que todo o corpo humano funcione em equilíbrio, é necessário que a água seja consumida diariamente de forma regular, independente de haver sede ou não. Também é necessário um vital equilíbrio entre a quantidade de água que eliminamos do corpo (suor, urina, lágrimas etc) e a água que ingerimos. O desequilíbrio pode ser observado na coloração da urina que, quanto mais escura for, indicará o grau de deficiência na ingestão de água. Um corpo que é mantido com a quantidade ideal diária de água costuma expelir urina quase incolor.



É curioso notar que a proporção de água que compõe o corpo humano tenha o mesmo valor dos 70% de água que compõe a superfície do planeta Terra. 97% da água da Terra é salgada e os 3% doces que restantes são mal distribuídos pelo mundo. Só o Brasil possui 11,6% da água doce mundial. Países como África do Sul, Egito, Israel, Paquistão, Haiti, Índia, Turquia e Iraque já sofrem com escassez de água. Uma parte da água consumida no Japão é importada da Coréia do Sul.




Nos países em desenvolvimento, cerca de 60% da água distribuída para a população se perde em gotas e vazamentos. No Brasil, 70% da água doce existente está na Amazônia, que é habitada por apenas 7% da população do país. O desequilíbrio da distribuição fica claro quando se observa que o nordeste brasileiro, mesmo cortado pelo rio São Francisco, tem só 3% de toda a água doce brasileira.




A manutenção das nascentes de água limpa e fresca depende diretamente da preservação das matas presentes nas encostas das montanhas. As águas das chuvas caem e são absorvidas pelo terreno onde estão as matas, se infiltram no solo e literalmente se filtram, entrando muitas vezes em contato com rochas e minerais nas camadas subterrâneas, sendo assim enriquecidas com diversos elementos que contribuem para o perfeito funcionamento do organismo humano.




Formam-se então os lençóis freáticos, que não são piscinas subterrâneas, e sim encharcamentos do solo que lembra as esponjas de pia saturadas de água. Essas águas acabam aflorando límpidas em superfícies de rochas e em pontos localizados em pequenos vales do terreno, geralmente no alto do relevo. Surge então um pequeno olho d'água que escorre, junta-se a outro filete e depois a outro mais abaixo, formando assim um pequeno riacho, que se une a uma rede de outros córregos para formar o curso de um rio que corre no fundo do maior vale próximo a região das nascentes, chamado tecnicamente na ciência cartográfica ou Cartografia de linha de reunião de águas.




Também existem milhões de litros de água espalhados pelo mundo em forma de aqüíferos subterrâneos; um dos maiores deles, o Aqüífero Guarani, fica sob o Brasil e se estende pelo centro sul da América do Sul, por baixo de terras do Paraguai, Argentina e Uruguai, num total de 55 mil metros cúbicos de água distribuídos em 255 mil quilômetros quadrados.



Existe inclusive uma base dos Estados Undos no Paraguai, bem ao lado do Aquífero. Os estadunidenses afirmam estar no local para treinar tropas paraguaias, e para fiscalizar uma suposta rede de conexão de atividade terrorista na região.



As águas dos aquíferos ainda não podem ser usadas, pois a tecnologia atual disponível não permite ao homem chegar aos reservatórios localizados nas profundezas da Terra, bem mais fundo que as bacias petrolíferas exploradas atualmente.



A visita do secretário de defesa dos EUA, Robert Gates, à América Latina há alguns anos, teve como um dos principais propósitos tratar da instalação de bases aéreas americanas na região onde está boa parte de toda a água doce do mundo, além de outro local para abrigar a base de Manta, localizada atualmente no Equador, onde o governo recusou renovação da licença de uso daquela base pelos americanos. A agência de notícias Reuters publicou que Colômbia e Peru se ofereceram para a instalação da base americana, porém seus governos negam.


A escassez de água atrapalha o desenvolvimento de um país, principalmente comproblemas sociais e de saúde, que prejudicam diretamente a economia de uma nação. É essencial proteger os mananciais em todos os sentidos, a fim de tê-los no futuro e evitar um possível caos na humanidade, em que homens de todos os continentes entrariam em guerra para conquistar um elemento que pode vir a se tornar tão raro: a água.



A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o dia 22 de março como o dia mundial da água, por meio de um documento chamado "Declaração Universal dos Direitos da Água", que foi publicado na ECO RIO 92, realizada entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro. Eis um pequeno trecho do documento:



"A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela, não poderíamos conceber como seriam a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos".



Nas regiões onde os recursos hídricos são encontrados em abundância, a população no geral acredita que a água é um bem natural infinito e, por isso, pode até ser desperdiçada: ledo engano. Natural sim, e indispensável para a manutenção da vida em todos os aspectos, porém finito e dependente da conscientização das pessoas e da preservação das matas.



São alarmantes os dados que mostram que 90% do esgoto produzido no Brasil é jogado sem tratamento nos mares, lagos e rios. Cada vez que são utilizados mil litros de água, outros dez mil litros são poluídos.



O consumo de água hoje no mundo é três vezes maior do que em 1950. Havia aproximadamente 500 mil pessoas sobre a Terra em 1650. Em 2010, ja eram cerca de 8 bilhões de pessoas sobre o planeta, e chegará aos 16 bilhões apenas em algumas décadas mais adiante em relação a hoje.



No ritmo em que "caminha" a humanidade, calcula-se por meio de dados fornecidos pelo International Water Management Institute (IWMI) dos EUA, 1,8 bilhão de pessoas ou 30% da população mundial estará vivendo em condições de absoluta falta de água no ano de 2025.



Se os 5 bilhões de anos de existência do mundo pudesses ser representados por apenas um ano, só ouviríamos falar do Homo Sapiens quando estivessem faltando 10 minutos para a meia-noite do dia 31 de dezembro do ano comparado, guardadas as proporções de escala, aos 5 bilhões de anos da Terra. Em tão pouco tempo, o homem já criou a incerteza sobre a preservação de sua existencia sobre o Planeta.




A manutenção da sobrevivência da espécie humana está direta e intimamente ligada à preservação da substância que compõe quase toda a nossa individualidade corporal: ela, sua excelência, a água.




O texto acima é um trecho extraído do livro "Mantiqueira: Ecologia, Cultura e Aventura na Montanha que Chora", de autoria do jornalista Cássio Ribeiro.

A TROPICÁLIA OU TROPICALISMO

Por Cássio Ribeiro

Imagine um tempo em que nada podia ser dito, principalmente a verdade. Congresso Nacional fechado e a imprensa censurada. Foi num mundo assim, ou melhor, num Brasil assim, aquele da Ditadura Militar (1964-1985), que a Tropicália vicejou.




O Tropicalismo nasceu quando um grupo de artistas baianos (Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, e o grupo Os Mutantes, que contava então com uma jovem vocalista chamada Rita Lee) se uniu nas apresentações dos festivais de música popular brasileira, promovidos pelas emisoras de TV, entre os anos de 1967 e 1969.




Na impossibilidade de falar abertamente contra a Ditadura Militar em suas canções, os tropicalistas tinham como sua principal característica o deboche e a ironia. Não faziam e nem poderiam fazer suas críticas de oposição ao Regime Militar abertamente.











Os tropicalistas reunidos na foto que virou capa do disco Tropicália, considerado um manifesto do movimento

O deboche era expressado por meio da atitude na vestimenta e nos arranjos. As experimentações exóticas nas canções tropicalistas chocavam o público erudito, acostumado com um padrão musical que a tropicália teve a ousadia de quebrar naqueles anos, mudando assim, de forma indireta e por meio da sua expressão cultural inovadora, as regras e os padrões estabelecidos como normais nos padrões das músicas daqueles tempos.


O tropicalismo tinha manifestações de oposição política em seu comportamento e expressão musical, porém, as músicas expressavam oposição à Ditadura de forma indireta, ao acrescentar o acorde hilário de um instrumento musical no meio de uma letra séria.

A grande influencia para o surgimento do Tropicalismo na década de 60 veio do Movimento Antropofágico das décadas de 1920 e 1930. Ligado ao movimento da Arte Moderna, que tinha ícones artísticos e culturais como Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mário de Andrade e Anita Malfatti, o Antropofagismo pregava uma absorção das culturas exportadas pelos EUA e pela Europa, seguida por uma digestão repleta da introdução de manifestações e valores culturais brasileiros, para em seguida expressar um novo produto cultural modificado e cheio de características nacionais.


A grande diferença entre o Movimento Antropofágico e o Tropicalismo foi que o segundo digeria cultura popular também, enquanto que o primeiro modificava apenas aquilo que era erudito e exportado pelas potências culturais norte americana e européia.



Numa época em que os artistas que faziam oposição ao Regime Militar com manifestações diretas e incisivas em seus trabalhos eram torturados, perseguidos e deportados, o comportamento debochado tropicalista, embora tenha tido contribuições criativas dos maestros Rogério Duprat e Júlio Medaglia, não foi bem aceito pelos intelectuais e por grande parcela da juventude que militava no movimento estudantil de oposição política à Ditadura Militar.




Os tropicalistas foram tachados de alienados por absorverem e fazerem uso de influências culturais dos EUA e da Europa, num tempo em que as manifestações nacionalistas, norteadas pela oposição à Ditadura Militar, não via com bons olhos o que vinha de fora e fugia do tradicionalmente brasileiro.

Confira a música Tropicalia, de Caetano Veloso, no Link http://www.youtube.com/watch?v=yiwx1oPnEM4



Com o tempo, os militares perceberam o tom debochado de oposição empregado pelos tropicalistas e, com a prisão e a deportação de Gilberto Gil e Caetano Veloso, o Tropicalismo chegou ao fim após uma curta e intensa duração de cerca de 3 anos.



O compositor, cantor, ator, arranjador e eterno tropicalista Tom Zé




Outras manifestações do Tropicalismo também foram observadas nas artes plásticas, no teatro e no cinema, com o chamado Cinema Novo de Glauber Rocha. Atualmente, Tom Zé é um dos principais nomes da MPB que ainda emprega o estilo tropicalista em suas letras e nos arranjos de suas músicas.