segunda-feira, 18 de julho de 2011

ALDIR BLANC: EQUILIBRADO ENTRE A PSIQUIATRIA E A POESIA

Por Cássio Ribeiro


"Caía, a tarde feito um viaduto, e um bêbado trajando luto, me lembrou Carlitos"..."Meu Brasil, que sonha, com a volta do irmão do Henfil, com tanta gente que partiu, num rabo de foguete"..."A esperança equilibrista, sabe que o show de todo artista, tem que continuar".





Embora o ex-psiquiatra, cronista, letrista e poeta Aldir Blanc tenha mais de 600 músicas gravadas, quase todo brasileiro já ouviu a canção 'O Bêbado e a Equilibrista', gravada em 1979, na inconfundível interpretação de nossa saudosa Elis Regina.




Na canção, a letra lírica de Blanc se casa com o tom que lembra um clamor triste na voz de Elis. A música transformou-se num símbolo de reivindicação pela abertura política durante o Regime Militar brasileiro. O trecho da letra que fala sobre a volta do irmão do Henfil refere-se ao já falecido sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fora do Brasil como exilado político na época.





O autor Aldir Blanc nasceu em 1946 e foi criado no bairro carioca do Estácio. Fez sua primeira composição aos 16 anos. Ingressou na faculdade de medicina em 1966 e especializou-se em psiquiatria. Abandonou a medicina em 1973 para dedicar-se exclusivamente à música. Outras canções famosas, nascidas da parceria com João Bosco, são: 'Bala com Bala', 'De Frente pro Crime', 'Caça à Raposa' e 'Mestre Sala dos Mares'.



Como escritor, Aldir Blanc publicou o livro 'Brasil Passado a Sujo', em 1993. No livro, Blanc se revela contista, poeta e cronista, ao abordar com um misto de aspereza e ternura, alguns personagens dos conturbados cenários carioca e nacional.




TIRADAS DE BLANC



"É no boteco da esquina que arquitetamos nossos projetos mais sublimes, nossos sonhos mais elevados - os mesmos que desmoronam assim que enfiamos a chave na fechadura do que convencionamos chamar residência." Jornal do Brasil, 05/05/2005




"Apesar de seu poder devastador, a morte morre de inveja dos frágeis seres humanos: enquanto os desvalidos acharem graça na desgraça, sua vitória não será completa." Jornal do Brasil, 07/07/2005




"Neto cura ressaca, depressão, unha encravada, vontade de misturar soda cáustica com Campari. Até pegar piolho de neto vira uma festa cheia de desdobramentos imprevisíveis. E o vô, já entrando aos tropeços na terceirona, ri, ri, ri etc." Jornal do Brasil, 23/06/2005





A tecnologia de ponta já deveria ter inventado um detector de corrupção. Era só passar uma tabuinha com nota de dólares na ponta: os olhos do cara se esbugalhariam e as mãos, ainda que algemadas, procurariam as verdinhas." Jornal do Brasil, 09/06/2005




Fechada dentro de um táxi, numa transversal do tempo, acho que o amor é uma ausência de engarrafamento." Transversal do tempo, gravada por Elis Regina



"O pior cego é o que, além de não querer ver o próprio rabo, tenta enfiar o dedo no olho dos outros." Jornal do Brasil, 21/08/1998



"Vocês sabem porque eu ainda não morri? Porque eu leio, porque o dia seguinte trará um novo livro." Jornal do Brasil, 24/06/2005

2 comentários:

  1. Sensacional! Triste a perda de um letrista tão presente na música brasileira, mas terminar sua crônica com as tiradas do Aldir, enche a gente de vida e esperança, e da crença em que, sempre, algo permanece.

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  2. Vi uma curta reportages dele na TV Minas, mas esta matéria está bem completa e Clara. Parabéns!

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