segunda-feira, 30 de julho de 2012

COMO OCORREM AS 4 ESTAÇÕES CLIMÁTICAS DO ANO






Por Cássio Ribeiro

O Sistema Solar é formado por 9 planetas (Mercúrio, Vênus, Terra Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão). A Terra, sendo o terceiro planeta deste sistema na ordem de afastamento do Sol,  está a uma distância média de aproximadamente150 milhões de quilômetros do chamado Astro Rei.

Nosso Planeta realiza dois movimentos principais. O primeiro é a Rotação, que é um giro que a Terra executa em torno do próprio eixo, que pode ser definido como linha imaginária que liga o Pólo Norte ao Pólo Sul do Planeta. 

A rotação da Terra é realizada a uma velocidade de aproximadamente 1609 quilômetros por hora, o que ocasiona, por meio da força centrífuga, uma sutil deformação na massa da Terra. Tal deformação é responsável pelo achatamento do Planeta na região dos pólos, e pela dilatação na região da linha do Equador. O Equador divide o imenso planeta Terra em duas metades, que são os hemisférios norte e sul (hemisfério = metade da esfera).

O movimento de Rotação faz a Terra dar um giro completo em torno de si mesma num intervalo de 24 horas, o que ocasiona a contagem de um dia inteiro do ano. Amanhece na região do planeta Terra que está voltada para o Sol, e quando essa face voltada para Sol for levada pela rotação da Terra ao lado oposto, que está oculto e não recebe a luz solar, será noite nesta região e dia na outra, que também foi levada pelo giro do Planeta à presença dos raios solares.

 Esse movimento ininterrupto faz a noite chegar por volta das 18h, e o dia clarear às 6 da manhã aproximadamente.


 O giro ao redor do próprio eixo ocasiona a alternância entre os dias e as noites na suprefície da Terra



 Com a união de várias imagens de satélite obtidas em diferentes momentos, foi possível mostrar toda a superfície do Planeta durante o dia e ...


durante a noite



O outro principal movimento realizado pela Terra é a Translação, que é uma longa órbita de 930 milhões de quilômetros percorrida por nosso Planeta em torno do Sol no Espaço, a uma velocidade média de 106.800 quilômetros por hora, o que corresponde a 30 quilômetros percorridos pela Terra em cada segundo. 

Para completar um percurso inteiro da órbita em torno do Sol, a Terra demora 365 dias (um ano) e seis horas aproximadamente. A cada 4 anos, as 6 horas excedentes da Translação são reunidas num dia a mais acrescentado em fevereiro (dia 29), nos chamados anos bissextos.
 
O eixo da Terra, que é a linha imaginária que liga o Pólo Norte ao Pólo Sul, é inclinado 23 graus e meio em relação à linha de direção da órbita que o Planeta percorre durante 365 dias em torno do Sol.

A inclinação do eixo terrestre em relação ao plano da órbita percorrida ao redor do Sol em aproximadamente 365 dias

Sendo assim, no dia 21 de dezembro, a Terra está inclinada com o hemisfério sul (onde está o Brasil) mais voltado para a direção do Sol e seus raios. A partir desta data, os dias são mais longos que as noites no hemisfério sul, que também recebe os raios solares num ângulo mais direto e incisivo.


No hemisfério norte, onde está a Europa e os Estados Unidos por exemplo, os dias são mais curtos e os raios solares mais brandos devido à inclinação da Terra. Logo, o dia 21 de dezembro marca o solstício de verão no hemisfério sul e o solstício de inverno no hemisfério norte. 

 Devido a inclinação do eixo norte-sul da Terra em 21 de dezembro, o verão abaixo do Equador é marcado pela maior intensidade dos raios solares e por dias mais longos


No dia 21 de março, a Terra continua inclinada, mas sua inclinação fica perpendicular à direção da chegada dos raios solares, já que a linha imaginária que liga o centro do Sol ao centro da Terra passa pelo círculo Equador. 


Este alinhamento faz os dias e as noites terem a mesma duração (12 horas) a partir desta data nos hemisférios norte e sul. Em 21 de março, é dito que ocorre o equinócio (noites iguais). 


No hemisfério sul, que caminha para o inverno, o período do ano é chamado de equinócio de outono e, no hemisfério norte, que está a 3 meses do verão, o fenômeno astronômico é chamado de equinócio de primavera.


Com o alinhamento entre o centro do Sol e o centro da Terra, alinhamento esse que passa pelo Equador terrestre, a inclinação do Planeta não influencia na direção dos raios solares, ...



que acabam incidindo com igual intensidade acima e abaixo da linha do Equador (hemisférios Norte e Sul). O chamado equinócio ocorre em 21 de março e 23 de setembro, e marca o início da primavera no hemisfério que caminha para o verão, e o início do outono no hemisfério em que o inverno se aproxima na ocasião


A ocorrência de nosso equinócio de outono varia entre os dias 19, 20 e 21 de março. A última ocasião em que o outono começou no dia 21 de março foi em 1991. O início do outono irá se alternar entre os dias 19 e 20 de março durante todo o século 21 (2001-2100). O primeiro início de outono em 19 de março será em 2028, e o outono só voltará a ter início no dia 21 de março em 2103.


Em 21 de junho, já tendo percorrido a metade de toda sua órbita em torno do Sol, a Terra está inclinada com o hemisfério norte mais voltado para a direção do Sol e seus raios. Nesta data, as noites são mais longas que os dias no hemisfério sul e, consequentemente, mais curtas que os dias no hemisfério norte. Os raios solares também incidem com mais intensidade no hemisfério norte, e mais brandos no hemisfério sul, onde está o Brasil. A data marca o solstício de inverno no hemisfério sul e o solstício de verão no hemisfério norte.


Em 21 de junho, a inclinação da Terra faz o hemisfério norte receber maior incidência dos raios solares. No hemisfério sul, ocorre o solstício de inverno e os dias (em amarelo), são menores que as noites (em azul), no Brasil por exemplo

No dia 23 de setembro, a Terra está a um quarto de completar um giro orbital de um ano em torno do Sol no Espaço. Nesta ocasião, novamente a inclinação de nosso Planeta fica perpendicular à direção de incidência dos raios solares. 


Tal alinhamento faz novamente os dias e as noites terem a mesma duração de 12 horas nos hemisférios norte e sul. Vale lembrar que a duração do dia é medida do nascer do Sol, bem no momento em que a metade da esfera solar está acima do horizonte, até o pôr do Sol, quando a metade da esfera incandescente está abaixo da linha do horizonte.


Nas duas ocasiões dos equinócios (21 de março e 23 de setembro), dias e noites têm duração de 12 horas, por ocasião do alinhamento entre os dois hemisférios e o Sol, apesar da inclinação do eixo terestre

 Terra atingida pelos raios solares no momento dos equinócios: noites e dias com durações iguais


Como em 23 de setembro o hemisfério norte caminha para mais um inverno, é dito que, nesta data, ocorre o equinócio de outono no hemisfério norte. Já no hemisfério sul, a três meses de mais um verão, o alinhamento entre os dois hemisférios da Terra e o Sol é chamado de equinócio de primavera.


Um resumo com as 4 situações da Terra durante os 365 dias em que percorre sua órbita em torno do Sol, ...


ocasionando o início das 4 estações do ano para nós do hemisfério sul, como mostra a ilustração acima

Como o ângulo de incidência dos raios solares varia de acordo com a época do ano, as sombras projetadas por elementos verticais também variam de acordo com a estação do ano, como mostra a ilustração acima


Quando o homem percebeu que podia contar o tempo observando o que acontecia no Espaço, a primeira referência foi baseada no ciclo da Lua. Culturas como a judaica, a chinesa e a muçulmana ainda utilizam o ciclo lunar como referência para seus calendários.


Foi o imperador romano Júlio César, em 46 Antes de Cristo, quem percebeu que a relação entre a Terra e o Sol no Espaço era a referência mais exata e fácil para a contagem de um ano completo. Naquele tempo, a duração do ano era adotada como exatos 365 dias e quatro horas, e teve início a prática da inclusão de mais um dia no mês de fevereiro a cada 4 anos (dia 29 dos anos bissextos).


O tempo de 365 dias e 6 horas estabelecido por Júlio César para a contagem de um ano não era exatamente preciso. Havia uma diferença calculada em 11 minutos para cada ano, fato que, com o passar dos anos, começou a gerar atraso em relação a contagem dos anos e o tempo que a Terra leva para percorrer sua órbita em torno do Sol. A diferença entre as datas de início das estações gerava problemas para a agricultura, a pesca e para a referência do início das festas religiosas baseadas no calendário Juliano, instituído pelo imperador Júlio César.


Foi o Papa Gregório 13, escolhido em 1572, quem corrigiu a diferença de 10 dias acumulada desde a adoção do calendário Juliano. Sendo assim, o dia seguinte ao dia 4 de outubro de 1582, foi o dia 15 de outubro de 1582. Na ocasião, foi estabelecido o calendário Gregoriano, que considera 365 dias, 5 horas, 49 minutos e 12 segundos como sendo a duração de uma ano.


No século 20, foi verificada também uma diferença anual de 26 segundos acumulada desde a adoção do calendário Gregoriano. É sabido hoje que a duração exata de um ano é de 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos. A diferença anual de 26 segundos acarretará a necessidade da correção de um dia no ano 4915 de nossa Era.
Quem viver nesse ano, verá.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

ESTAÇÃO DE CACHOEIRA PAULISTA: UMA GIGANTE BELA ADORMECIDA



Por Cássio Ribeiro

Véspera do Natal de 1973. Os trabalhadores responsáveis pela manutenção da ferrovia que corta o Vale do Paraíba Paulista embarcam em uma locomotiva GE-U6B, conhecida como “trinta”. São doze ferroviários e dois maquinistas que vão para a cidade de Queluz-SP receberem o pagamento do último mês do ano.

Escurece rápido e uma brisa quente toma conta do ar naquele início de noite de verão. Logo começa a cair uma forte chuva, que faz subir uma nuvem de vapor das pedras da linha férrea que foram aquecidas pelo tórrido sol daquele dia inteiro.

Após a chegada a Queluz, a locomotiva aguarda sob forte chuva com o motor ligado até o último ferroviário receber seu pagamento. Os trabalhadores voltam para a locomotiva e a pequena cabine acomoda novamente doze homens em pé entre as poltronas dos dois maquinistas.

Na volta, o maquinista fica preocupado com o volume de água da enxurrada e reduz a velocidade perto da famosa Curva do Roncador. Numa fração de segundos, os trilhos desaparecem sob a locomotiva que, descontrolada, tomba e cai na ribanceira.

A máquina pára perto das águas revoltas do rio Paraíba do Sul. Só não foi engolida pelo rio graças ao atrito com as pedras e a densa vegetação do local. A chuva forte levou as pedras que sustentavam os trilhos da linha e ocasionou o acidente. Por sorte todos sobreviveram, mas o saldo foi de costelas e clavículas quebradas. A locomotiva levou três dias para ser içada.

Histórias como essa compõem os 158 anos de ferrovias no Brasil, completos nesse ano (2012). Quando chegou ao Brasil na segunda metade do século 19 (1801-1900), a ferrovia era o principal meio de transporte de passageiros e carga, principalmente café.

Os trens marcaram o desenvolvimento de diversas cidades do interior, já que estabeleceram a ligação direta com as grandes capitais e com os portos de escoamento e chegada de mercadorias.

Durante o século 20, o desenvolvimento das rodovias fez o transporte ferroviário de passageiros em longa distância ser praticamente extinto no Brasil. No lugar dos trens, roubaram a cena os ônibus das diversas empresas que dividem o país em áreas de monopólio de atuação.

A situação das ferrovias ficou ainda pior após as privatizações realizadas no setor durante governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1996. As empresas privadas que arrendaram a malha ferroviária brasileira transportam apenas carga, como minério, bauxita, cimento, metais e combustível.

O último serviço ferroviário de transporte longo de passageiros em atividade no Brasil funciona no ramal patrocinado pela companhia Vale do Rio Doce, e liga Vitória, no Espírito Santo, à capital mineira Belo Horizonte.

Apesar dos cortes de funcionários após as privatizações, os ferroviários ainda sobrevivem. No trecho do Vale do Paraíba paulista, são transportadas até 11 mil toneladas de minério em uma só viagem. Apenas um maquinista opera três locomotivas que puxam cerca de 100 vagões carregados, que equivalem a 400 caminhões lotados.

No Vale do Paraíba Paulista, os maquinistas trocam de turno na estação da pequena cidade de Roseira. No dia 17 de abril de 2005, às 15 hs, tive a agradável oportunidade de embarcar numa locomotiva cargueira em Roseira, a fim de produzir uma reportagem para o jornal Vale Repórter, que é feito pelos alunos do segundo ano do curso de Jornalismo da Universidade de Taubaté.

O maquinista Antônio Carlos, 28 anos de profissão, assumiu o comando das três locomotivas seguidas de vagões lotados: “Quando me aposentar, vou sentir falta da máquina, dos amigos e das viagens”, afirmou seu Antônio, já operando a locomotiva em movimento sobre os trilhos molhados pela fina chuva que caía naquela tarde.

 dois momentos do maquinista Antônio Carlos: 28 anos de profissão 


O destino era Barra Mansa, no estado do Rio. Durante a viagem, as paisagens de campos verdes do fundo do Vale do Paraíba Paulista se alternavam com a invasão da locomotiva em meios urbanos. Ficou claro na ocasião, o romantismo centenário dos trens, que ainda hoje tanto encanta as pessoas.

Nas cidades, todos paravam o que estavam fazendo para admirarem as máquinas e seus vagões carregados. Crianças corriam alvoroçadas querendo acompanhar a locomotiva, que apitava, como que querendo agradecer a atenção de todos.

A situação atual de grande parte das estações do Brasil é de completo abandono. Em Cachoeira Paulista, também no Vale do Paraíba paulista, é muito triste a situação da belíssima e grandiosa estação em estilo arquitetônico inglês do século 19.

Com 270 metros de comprimento, e área de 2770 metros quadrados, a bela construção é a segunda maior estação de todo o estado de São Paulo, menor apenas que a estação da Luz, na capital paulista.

Comenta-se na pequena e simpática Cachoeira Paulista, que o tamanho da estação foi o resultado da paixão do engenheiro que a construiu, o inglês Newton Benton, por uma cachoeirense. O engenheiro teria aumentado o projeto da estação, a fim permanecer mais tempo na cidade.

Sedução das cachoeirenses e memórias à parte, hoje a estação está praticamente em ruínas. Seus galpões, que armazenavam a produção de café de todo o Vale do Paraíba e serviram de quartel general para as tropas de São Paulo durante a Revolução Constitucionalista de 1932, hoje estão sem teto, portas e janelas.


Localização do município de Cachoeira Paulista, em vermelho, dentro do mapa do estado de São Paulo, em tom mais claro. A parte mais fina do mapa, abaixo e à direita, é o Vale do Paraíba paulista
 Vista geral da belíssima e grandiosa estação de Cachoeira Paulista em 1982. São três torres: uma central e duas menores nas extremidades do prédio em estilo inglês do século 19. Não é fácil fotografar a estação desta posição, pois existe um morro à direita do plano da foto, e só uma estreita rua passa espremida bem em frente à estação, entre o morro e os trilhos

Torre central da estação em 1998. No final do século 19, a estação, além de ser parada da ferrovia, abrigava também a sede dos Correios e a Câmara Municipal de Cachoeira Paulista


 Outro registro de 1998. Portas, janelas, piso interior, escadas e telhados não existem mais


 A estação em 2003. O custo da restauração é muito alto, e o município de Cachoeira Paulista precisaria encontrar uma forma de viabilizar o investimento, transformando o prédio num auto-sustentável gerador de recuros, como as estações da Luz e Júlio Prestes, localizadas na capital paulista


 Vista da estação a partir da margem oposta do rio Paraíba do Sul, ao norte, em 1950. Na época (final da décade de 1940 e início da década de 1950) a cidade e a estação passaram a ser chamadas de Valparaíba e, posteriormente, o nome atual de Cachoeira Paulista foi definitivamente adotado


 Foto de 2006. Com o desgaste do prédio, as tintas mais recentes vão sendo naturalmente removidas pelo tempo, e curiosamente deixam exposto novamente o antigo nome Valparaíba na parede da estação, oposta aos trilhos e voltada para o rio Paraíba do Sul


 A gigante bela adormecida


 Locomotiva biriba e seus vagões parados na estação de Cachoeira Paulista, em 1962


 Visão interna da estação. Triste ruir da rica história cultural brasileira



 No dia da inauguração da estação de Cachoeira Paulista, em 8 de julho de 1877, o trem partiu às 6h15 do Rio de Janeiro sob rojões, hinos, discursos e festa. A cada estação, a festa se repetia, mas a locomotiva e seus vagões só pararam em Cachoeira Paulista.

Era preciso que os passageiros trocassem de trem, pois a linha que vinha do Rio de Janeiro e pertencia a EFCB (Estrada de Ferro Central do Brasil) tinha 1,6 metro de largura. A partir da estação de Cachoeira Paulista até São Paulo, a linha da EFN (Estrada de Ferro do Norte) possuía a chamada bitola métrica, com 1 metro de largura.

As cidades do Vale do Paraíba que ficavam à beira do trajeto dos trilhos que ligavam o Rio de Janeiro a São Paulo prosperaram e cresceram. As cidades mais afastadas, que antes da ferrovia eram prósperas, entraram em decadência e inspiraram o escritor de Taubaté, Monteiro Lobato, a escrever o livro “Cidades Mortas”.

O custo gerado pela necessidade dos passageiros e das cargas serem trocados de trens em Cachoeira Paulista, por causa da diferença de largura entre a linha que vinha do Rio de Janeiro e a que seguia para São Paulo, foi um dos fatores que influenciou na decadência do cultivo do café no Vale do Paraíba paulista. A largura entre as linhas só foi igualada em 1908, ocasião em que todo o trajeto da ferrovia entre Rio e São Paulo passou a ter só uma linha com 1,6 metro de bitola.

Senhora de 158 anos, a ferrovia ainda sobrevive no Brasil, garantindo com o transporte de carga o emprego de bravos ferroviários. Mas assim como assistiu diversas vezes seus trilhos serem levados pelas chuvas torrenciais, assiste hoje, a cada curva e na maioria de suas estações, sua história viva ser levada pelo descaso, o abandono e o tempo.


domingo, 15 de julho de 2012

SILVEIRAS: OLHARES DA CULTURA DO VALE DO PARAÍBA PAULISTA




Por Renata Lopes


Uma das coisas mais bacanas de escrever é que os pensamentos sempre saem do controle. A gente programa algo, mas as idéias vão fluindo e mudando os rumos dos pensamentos. 



Para mim não existe nada mais rock’n roll do que uma paisagem bucólica, e eu digo isso porque quem já tentou ouvir o silêncio olhando uma paisagem de montanhas ora azuis, ora verdes esmeralda envoltas  pelo céu azul, sabe disso. Mesmo quem não tem alma de poeta sintetiza algum pensamento ou cria algum verso, mesmo que inconscientemente.

Digo isso por me lembrar de uma paisagem aqui mesmo no Vale do Paraíba Paulista, numa cidadezinha pequena e colonial. Preciso apresentar-lhes esse visual que arrepia e nos inspira a reverenciarmos o Criador.





Conheço algumas pessoas na cidade de Silveiras-SP e tive a oportunidade de ver e sentir o cheiro das montanhas de lá. Vou dividi-las com vocês.



Silveiras está localizada na rodovia dos Tropeiros SP-068 (antiga estrada SP - RJ antes da construção da BR 116 Rodovia Presidente Dutra).


Localização do município de Silveiras dentro do estado de São Paulo, próximo à divisa com o RJ, a direita, e o sul de Minas Gerais, acima. Para chegar, o visitante deve pegar os acessos existentes a partir da BR 116 Rodovia Presidente Dutra, que liga SP ao RJ

O povoado inicial surgiu a partir de um rancho de tropeiros da família Silveira (daí o nome), no período de expansão do café no Século 19 (1801- 1900). 

Foi elevada a vila em 1842, e a cidade em 1864. Teve notável participação na Revolução Liberal, em 1842, e na Revolução Constitucionalista de 1932. Nos morros da cidade ainda pode- se ver sinais das trincheiras usadas na referidas revoluções.

Além do valor histórico, Silveiras também conta com uma natureza encantadora, com lindas cachoeiras, e com o clima das montanhas da Serra da Bocaina. O município foi o primeiro do Estado de São Paulo a se transformar em Área de Proteção Ambiental (APA).


 Vista panorâmica de Silveiras, com a torre da igreja Matriz ao centro

 
Na Trilha da Independência, que foi percorrida por Dom Pedro II rumo às margens do Rio Ipiranga em 1822, o turista pode conhecer as trincheiras das revoluções de1842 e 1932, além da cadeia onde ficou preso Euclides da Cunha.


 Algumas outras atrações da Cidade, além da própria estrada dos Tropeiros, são a Praça central, a Estátua Monumento aos Tropeiros, o antigo Rancho dos Tropeiros, o Tropeirão (praça de esportes) e a própria Fundação Nacional do Tropeirismo.


Estátua Monumento aos Tropeiros

 Foto Roberto Seba
Os tropeiros eram o equivalente aos caminhoneiros de hoje em dia, só que sem caminhão e a pé. As mercadorias eram transportadas por mulas e os tropeiros seguiam as mesmas em forma de tropa (daí o nome) percorrendo estreitas trilhas e chegavam a andar dezenas de quilômetros por dia, por isso suas refeições eram bem pesadas e gordurosas, ricas em derivados do abate de suínos e bovinos.


O Parque Nacional da Bocaina, com várias cachoeiras e trilhas, começa na região na divisa entre Silveiras e a também paulista cidade de Cunha.Vale a pena passear a pé pela antiga trilha de tropeiros, conhecendo a Cachoeira do Ronco D'Água, no bairro do Bom Jesus. A 8 quilômetros do centro de Silveiras, em meio a tanta natureza e sapucaias centenárias, o passeio é imperdível.


 Cachoeira Ronco D'água
   

 Vista com a Pedra Casada a esquerda


Já a ida ao Bairro dos Macacos, por meio de um percurso com 25 quilômetros de estrada asfaltada e 6 quilômetros de estrada de terra, leva o turista a 2.050 metros de altitude, e é possível avistar do alto uma grande parte do Vale do Paraíba Paulista. O local é rico em plantações de ervas medicinais, além do parque da cascata com cachoeira, tanque, mata atlântica original preservada e área para camping.




 Banhistas se divertem em cachoeira de Silveiras. É importante o turista tomar cuidado e observar a formação de nuvens formadoras de tempestades no alto da serra próximo às nascentes, pois as formações das chamadas "cabeças" ou "trombas" d'água liberam violentas e perigosas enxurradas repentinas no curso dos rios e das cachoeiras



Curiosidade: a farofa de formiga içá, que em outras regiões do Brasil é popularmente conhecida como Tanajura ou Saúva, era uma das grandes paixões gastronômicas do consagrado escritor de Taubaté, Monteiro Lobato, que definia tal farofa como uma refinada iguaria, ou um verdadeiro "Caviar do Vale do Paraíba Paulista".



O hábito de comer a içá, saúva ou tanajura, mesmo não sendo mais praticado em muitas regiões do Brasil já há algumas décadas, ...

foi herdado da cultura dos índios nativos que vivian por aqui antes da chegada dos portugueses 

Entre outubro e novembro, quando surgem os primeiros sinais de chuva, muitos moradores da pequena Silveiras ficam de olho no céu e de ouvidos ligados nos trovões:“é nesta época que Tupã fica enfurecido e, quando se iniciam as trovoadas, as ‘panelas’ de formigas estremecem e começam a estourar. É sinal de que chegou a temporada da caça às içás, as fêmeas da formiga saúva, também conhecidas como bitu ou içá-bitu”, explica o sociólogo e produtor rural Ocílio José Ferraz, proprietário da Fazenda do Tropeiro.

 Ocílio Ferraz, um símbolo vivo da cidade de Silveiras


Com a chegada da temporada da içá, a cidade e o campo viram festa e os morros ficam cheios de crianças, homens e mulheres, numa alegria sem fim, com baldes e latas em busca da “formiga voadora”. Além de divertida, a caça tornou-se marca registrada da cidade. Nesta época do ano, as içás deixam o fomigueiro para que , num vôo mortal só para o macho como também ocorre com as abelhas, acasalar-se e dar origem a uma nova colônia.

 Farofa de Içá torrada com bacon


Em Silveiras, a formiga içá é tão apreciada que ganhou até um festival gastronômico, que é realizado todo ano entre os meses de setembro e outubro. Recentemente, o principal prato da cidade foi destaque no jornal norte americano The New York, que enfatizou como as gerações lidam com o hábito de consumir as formigas, fonte natural de antibióticos e proteínas.


E como já dizia o pessoal do Movimento Barroco do Século 17: "Deus está é nos detalhes". Então façam as malas e boa viajem até Silveiras!


Natural de Lorena-SP e rockeira em essência, Renata Lopes é formada em História e Filosofia pela Universidade Salesiana de Lorena.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

O ISLAMISMO DESDE AS ORIGENS





Por Cássio Ribeiro

A Arábia é uma península que fica entre o nordeste da África e a Ásia. No século 6 (501-600) de nossa era cristã, a Arábia, que também é chamada de Península Árabe ou Arábica, era intensamente percorrida por caravanas de mercadores que traziam produtos da Índia para serem comercializados no Ocidente, mais precisamente na Europa.

O trajeto vinha pelo oceano Índico e cruzava toda a Arábia, passava pelo mar Vermelho e atravessava o rio Nilo e o Egito, na África, seguindo para o norte, onde os produtos eram comercializados com as embarcações das cidades de Gênova e Veneza, na costa sul do mar Mediterrâneo. Dali, as mercadorias eram levadas para a Europa, que fica ao norte, na outra costa do Mediterrâneo. 

Imagem de satélite da Península Arábica, com o Mar Vermelho e o litoral do nordeste africano à esquerda


A principal rota comercial do século 6 passava pela Arábia, cruzava o Mar Vermelho e chegava à África, do outro lado do Rio Nilo, no norte do Egito


Apesar de ter o clima predominantemente desértico, a Arábia enriqueceu em função das rotas comerciais que passavam pelo lugar. Os árabes que viviam na região eram organizados em formas de tribos distintas uma das outras. Todas as tribos da Península Arábica acreditavam que a natureza, as árvores, as pedras e os djinns (gênios ou espíritos das fontes) eram forças sagradas que podiam também atormentar os seres humanos, trazendo-lhes desgraças.

Embora tais pensamentos religiosos fossem comuns entre todos os habitantes da Arábia, cada tribo possuía seus próprios deuses, e algum animal como ancestral específico. As divergências religiosas entre os grupos que viviam na Arábia motivavam constantes lutas entre as tribos do norte e do sul.

Em função das intensas atividades comerciais, algumas cidades da Arábia cresceram muito rápido, e seus comerciantes acumularam expressivas fortunas. A cidade de Meca era um desses pólos comerciais de riqueza. Foi em Meca que, por volta do ano 570, nasceu Maomé (Muhammd), no clã dos Beni Hasshemi, uma pobre ramificação da tribo dos Coraishitas, que dominava a região da Arábia onde fica Meca.

A primeira infância de Maomé foi muito difícil. Seu pai, Abdallah, morreu quando o menino ainda estava sendo gerado pela mãe, Amina, que também morreu quando Maomé tinha 6 anos apenas. O menino foi adotado pelo tio, Abu Talib, irmão de seu pai, que logo o integrou nas atividades comerciais da família. Viajando em caravanas que iam à Palestina, ao Iraque e à Síria, Maomé conheceu muitos povos diferentes dos que viviam na região de Meca, e teve estreito contato com diversos tipos de manifestação religiosa. Nessa época, era praticada em Meca a adoração de vários deuses (politeísmo), embora já existisse a influência de religiões monoteístas na região (o Judaísmo e o Cistianismo presente no vizinho Império Bizantino).

A diversidade cultural propiciada pela passagem de caravanas comerciais fazia surgirem vários novos templos que eram construídos para todos os tipos de divindades. Mesmo assim, já havia a crença em um Deus supremo, idealizador e criador do mundo, que se assemelhava ao Júpiter romano e ao Zeus grego. Para este Deus, foi construído um santuário em forma de cubo (Caaba), que era um importante centro de peregrinação já naqueles tempos. Uma vez por ano, os fiéis visitavam a Caaba e era realizada uma imensa feira comercial na ocasião.

Maomé, quando tinha 25 anos, se casou com uma viúva rica 15 anos mais velha do que ele, Cadija. Das 4 filhas que tiveram, só uma, Fátima, gerou descendentes de Maomé ao se casar com Ali, filho de Abu Talib, um rico líder da tribo dos Coraishitas.


A vida de Maomé era igual a de qualquer árabe daquele tempo. Conhecido como um homem fiel à esposa, honrado, sóbrio, reflexivo e chamado de Al Alim (o confiável), Maomé tinha a particularidade de gostar de passar horas meditando isolado em cavernas e grutas das montanhas perto de Meca.


Aos 40 anos de idade, no ano 610, Maomé estava meditando em uma gruta do monte Hira. O livro sagrado do Islamismo, o Alcorão, relata que Maomé ouviu a voz do anjo Gabriel lhe dizer: "Só há um Deus que é Alá, e Maomé é o seu profeta". Essa noite ficaria conhecida como a "Noite do Destino" ou "Noite da Revelação".


Maomé desconfiou dos seus sentidos, e ficou apavorado nos primeiros momentos. Foi sua esposa, Cadija, quem o encorajou a seguir em frente. Maomé recebeu muitas outras revelações na seqüência, e sempre que a palavra de Alá se manifestava, era uma experiência dolorosa para ele, como um arrebatamento; seu corpo tremia e suava. Quando acontecia uma revelação, Maomé memorizava o novo trecho e o recitava para quem estivesse ao seu lado. O Alcorão levou 21 anos para ser completamente revelado.

Não há nada escrito em árabe que possa ser comparado aos textos do Alcorão. Alguns trechos são repletos de repetição das mesmas sílabas no mesmo verso ou em versos seguidos, com um lindo jogo de palavras muito poético e complexo, impossível de ser traduzido com o mesmo sentido e a beleza rítmica quase musical do texto original em árabe.
 O profeta Maomé em uma pintura turca da Idade Média. Os muçulmanos árabes não costumam representar figuras humanas, principalmente a de Maomé. Os turcos, porém, mesmo sendo muçulmanos, não adotavam tal restrição
 Alcorão: o livro sagrado do Islamismo, cuja essência da mensagem é a pluralidade, a tolerância e a compaixão. Islamismo significa "submissão voluntária aos desígnios de Deus", bem ao contrário da concepção ocidental de que os muçulmanos querem obrigar os outros a seguirem sua fé

 Em nome de Deus, o clemente, o bondoso, o misericordioso 


Maomé era insultado e zombado quando pregava em Meca, pois a maioria das pessoas não aceitava abandonar suas crenças em vários deuses para adorar um Deus único. Muitas pessoas que conheciam Maomé desde a infância não acreditavam que um homem comum pudesse ser um escolhido de Deus como profeta.

O profeta Maomé, porém, conseguiu converter inicialmente dezenas de pessoas das camadas mais pobres de Meca, e alguns poucos membros da nobreza da cidade. Já a grande maioria dos homens mais ricos e poderosos de Meca, responsáveis também pelos cultos pagãos predominantes na região, não viam com bons olhos uma organização independente que unia e fortalecia as classes mais pobres da cidade.

Mesmo com toda essa oposição, Maomé não podia ser perseguido diretamente por dois motivos: era integrante da tribo dos Coraishitas e protegido pelo sogro de sua filha, Abu Talib. Além disso, o casamento com Cadija o tornara rico também. A repressão das autoridades de Meca acabou caindo sobre os pobres seguidores de Maomé.
Diante da perseguição sobre seu povo, Maomé decidiu sair com seus cerca de 70 seguidores de Meca por algum tempo, e foi para a Etiópia, onde ficou por dois anos, 615 e 616. Já de volta a Meca, em 619, Maomé perde as duas pessoas mais importantes de sua vida; morrem Cadija e Abu Talib, que também eram seus protetores.

As hostilidades e a repressão contra Maomé e seu povo se intensificam. O Profeta sofre uma tentativa de assassinato e, em 16 de julho de 622, resolve se afastar definitivamente da cidade de Meca com seus seguidores. Vai para a cidade de Iatrib (atual Medina), que é um rico oasis localizado a 400 quilômetros de Meca. A ida de Maomé e seu povo para Medina é conhecida como Hégira (exílio), e representa o início do calendário islâmico, que marca a origem de uma nova era na história mundial.

Medina era formada por uma sociedade pagã e por Árabes seguidores do judaísmo. Em poucos meses, Maomé consegue converter a grande maioria dos pagãos, e os árabes seguidores da religião dos judeus. Muitos foram convertidos à força. Os clãs que tentaram resistir foram eliminados militarmente.

A cidade de Medina passou a ser organizada de acordo com as doutrinas do Islamismo, tornando-se assim a primeira "república Islâmica". Aliás, até hoje, a associação entre Estado e religião é uma das principais características administrativas da maioria dos países islâmicos.

 
Em Medina, Maomé proclamou a ‘Jihad’ contra Meca. O termo ‘Jihad Islãmica’ é traduzido como "Guerra Santa" por nós ocidentais, mas ao pé da letra na língua árabe, representa um esforço para levar a mensagem de Deus aos infiéis. Em determinadas ocasiões esporádicas, esse esforço pode chegar a ter o vulto de uma guerra militarmente falando.

Os muçulmanos liderados por Maomé em Medina entraram em choque militar com Meca em várias ocasiões. Medina foi cercada, resistiu, e venceu importantes e decisivas batalhas. A tomada de Meca era importantíssima para Maomé, pois Deus revelou ao profeta que o templo em forma de cubo (a Caaba) localizado na cidade, tinha sido construído por ordem sua, dada ao profeta Abraão e seu filho Ismael.

Abraão originou o povo árabe a partir de um filho que teve com sua criada egípcia, Hagar. O menino se chamava Ismael. Posteriormente, a esposa de Abraão, Sara, gerou também um filho do profeta, que recebeu o nome de Isaque, e deu origem ao povo judeu.

É curioso notar que o Deus do velho testamento do Judaísmo, o Deus do Cristianismo e Alá são o mesmo Deus. A grande diferença é que, no Islamismo, os muçulmanos acreditam que Adão, Noé, Davi, Abraão, Moisés, Jesus, Ismael, Maomé, e todos os 124 mil mensageiros que o Alcorão afirma que Deus mandou para a Terra, foram apenas profetas, iluminados por Deus sim, mas simplesmente profetas mortais comuns. Deus mesmo, na concepção de divindade do termo, para o entendimento islâmico, só Alá.

Maomé e seus seguidores de Medina precisavam dominar Meca para tirar da Caaba as imagens dos ídolos pagãos e, conservando em seu interior somente a Pedra Negra, torná-lo um templo exclusivo de Alá, devolvendo à construção cúbica seu significado sagrado original, de acordo com as concepções da fé islâmica.

Maomé converteu um grande número de tribos árabes nos arredores de Medina, e acumulou forças para um grande ataque à Meca. Em 630, foi organizada uma poderosa expedição militar que seguiu, liderada por Maomé, em direção a Meca. Com o poder dessa investida militar, Maomé impôs à rendição dos chefes Coraishitas que o expulsaram da cidade 8 anos antes.

Num gesto extremo de humildade e diplomacia, Maomé concedeu perdão e anistia imediata aos seus antigos inimigos. Com isso, conquistou a simpatia e a adesão de milhares de novos seguidores para o Islamismo. Em 632, dez anos depois de sua fuga de Meca (a Hégira), Maomé voltou à cidade liderando uma multidão de 80 mil muçulmanos numa histórica peregrinação.

Na ocasião da chegada, Maomé retirou da Caaba todas as imagens de Deuses e ídolos pagãos, deixando apenas a Pedra Negra, ficando o templo agora reservado para a adoração exclusiva de Alá. No mesmo dia, Maomé recebeu a última revelação: "Hoje, completei minha graça em voz e me satisfaz que o Islã seja vossa religião".
 Localizada na mesquita central de Meca, na Arábia Saudita, a Caaba é uma construção cúbica com 15, 24 metros de altura e é cercada por muros de mais de 10 e 12 metros. Considerada o local mais sagrado do mundo pelos muçulmanos, a Caaba abriga a Pedra Negra (hajar el aswad) que possui 50 centímetros de diâmetro e é o resto de um meteorito que, segundo os muçulmanos, caiu do céu como um presente de Alá para Adão, seu primeiro mensageiro. Desde 624, todo muçulmano em qualquer ponto do mundo deve fazer suas orações voltado para a Caaba, em Meca.


  
Todo muçulmano deve visitar a Caaba em peregrinação realizada ao menos uma vez na vida, de preferência durante o Ramadã, que é o nono mês do calendário muçulmano. A visita obrigatória durante o Ramadã é chamada de Hajj, e será realizada desde que o muçulmano possua condições financeiras e saúde para fazê-la


 Cerca de 2 milhões de pessoas de todos os pontos da Terra realizam a Hajj todo ano. Quando o muçulmano está a uma certa distância de Meca, deve entrar no estado de Ihram (estado sagrado). Veste duas peças de tecido branco e sandálias (tudo não cozido). Durante o estado de Ihram, o peregrino não corta o cabelo e nem as unhas, não usa perfume, não mata animais, não se envolve em discussões ou lutas, não tem relações sexuais e não se 
 casa



 Muitos classificam o Islamismo como machista. Mas é fato que até antes do surgimento da religião no século 7, na Arábia, as mulheres eram tratadas como animais. O Alcorão trouxe algumas igualdades de direitos e deu às mulheres a possibilidade de pedir divórcio e receber heranças, além do direito de trabalhar e a obrigação de estudar. Esses mesmos direitos só foram conquistados pelas mulheres ocidentais a partir do século 19




 "A visão ocidental sobre o Islamismo divide-se entre o medo e a curiosidade."   Karen Armstrong, historiadora inglesa



Em seu último discurso em Meca, Maomé disse: "Sabei que todo muçulmano é irmão do outro", e completou recomendando que as guerras entre os muçulmanos fossem evitadas. Com a destruição dos vários ídolos existentes na Caaba, e a institucionalização da adoração de Alá como Deus único, Maomé acabou com as divergências religiosas que ocasionavam rivalidades e guerras entre as diversas tribos árabes da Península Arábica. O Islamismo possibilitou em suas origens, o surgimento de uma nação árabe não fragmentada e unida por uma identidade comum. Maomé morreu pouco tempo depois, em 8 de junho de 632, depois de voltar para Medina.



Mesquita onde está o túmulo de Maomé, em Medina


Com a morte do Profeta, alguns árabes queriam que o genro de Maomé, Ali, bem mais novo, assumisse seu lugar na liderança islâmica. Seus simpatizantes deram origem aos xiitas, da expressão "xiat Ali" (os partidários de Ali). Já os que defendiam como novo líder um dos companheiros mais velhos de Maomé, Abu Bakr, originaram os sunitas (de sunat, tradição), já que defendiam que o mais velho, por ser mais sábio, deveria ser escolhido para suceder Maomé.

Abu Bakr foi o escolhido e, embora os árabes estivessem unidos em torno do Islamismo, as diferenças entre o conservadorismo dos sunitas e as inovações propostas pelos xiitas permanecem até os dias de hoje. Os sunitas são mais ortodoxos, e seguem ao pé da letra tudo o que está escrito no Alcorão. Já os xiitas são mais abertos, dentro de um certo limite, à mudanças e adaptações.

Boneca muçulmana Sara: inovação lançada no Irã, de maioria xiita, para concorrer com a americana Bárbie. Fabricados na China, Sara e seu irmão Dara são vendidos por cerca de 15 dólares no Irã, menos da metade do preço da ocidental Bárbie naquele país


 Guerrilheiro terrorista sunita do grupo palestino Setembro Negro, durante a invasão da vila olímpica nos jogos olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972. Na ocasião, 11 atletas de Israel foram assassinados. Os sunitas são responsáveis pela maioria dos atentados terroristas islâmicos já realizados no mundo, por serem conservadores e adeptos do fundamentalismo. O termo fundamentalismo foi empregado primeiro por evangélicos norte-americanos, que pregavam uma volta aos fundamentos do cristianismo, propondo uma literal interpretação e aplicação prática dos textos bíblicos. Das 3 religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), a terceira foi a última a desenvolver o fundamentalismo, quando a cultura ocidental moderna começou a influenciar o mundo muçulmano, a partir da segunda metade do século 20.



Independente da religião, os fundamentalistas têm em comum um verdadeiro pânico relacionado à sociedade moderna. Eles acreditam que estão travando uma luta contra a imoralidade da cultura moderna que os tenta dominar. Esse desespero faz os terroristas islâmicos usarem o termo ‘Jihad’ para definirem sua causa. A mídia ocidental traduz o termo como "Guerra Santa", o que acaba causando uma generalização deturpada no sentido real e original do Islamismo.


Apesar de certas diferenças ideológicas entre sunitas e xiitas, o Império Árabe, unido pelo Islamismo, cresceu e dominou desde províncias da China até o norte da África, onde hoje ficam o Marrocos e a Argélia. A partir dali, no século 8 (701-800), os árabes chegaram à Península Ibérica (Portugal e Espanha) depois de cruzarem os 14 quilômetros e meio do Estreito de Gibraltar, que separa o sul da Espanha do norte do Marrocos.


Imponente mesquita do Cazaquistão. Na edição do dia 29 de março de 2008, sábado, o jornal do vaticano, "L 'Osservatore Romano" publicou que 17,4% da população mundial é católica, contra 19,2% muçulmana. Porém, se somados todos os cristãos do mundo (católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos) a porcentagem chega a 33% da população mundial. No Brasil, são quase 2 milhões de muçulmanos e cerca de 90 mesquitas


 A dança das espadas na Arábia Saudita. Tradição folclórica remanescente da atividade expansionista do Império Árabe, realizada por meio de guerras e invasões


Os seguidores de Maomé dominaram quase toda a Península, e só não exerceram influência sobre as regiões montanhosas da Cantábria e das Astúrias, no extremo norte da Península Ibérica, onde um pequenino reino católico de resistência se estabeleceu.

Nas Astúrias, uma caverna abrigava o rei e servia como templo de Cristo. Os cristãos desciam das montanhas de repente para atacarem os acampamentos árabes nas planícies. Esses ataques deram origem à Guerra da Reconquista, e foram empurrando os árabes de volta para o sul até a expulsão total, no século 15.


Expansão do Império Árabe que, a partir da Arábia, em marrom, se estendeu desde províncias chinesas no oriente, ocupou a região abóbora, ao norte da península Arábica, e chegou a todo o norte da África, cruzando o estreito de Gibraltar e dominando quase que inteiramente a Península Ibérica (Portugal e Espanha), na Europa, à esquerda


Foram quase 700 anos de ocupação árabe, período em que muçulmanos e cristãos conviveram juntos, mas não se misturaram, principalmente por causa da diferença religiosa. O Romanço (que foi a base da língua portuguesa atual) permaneceu falado pelos cristãos, embora os árabes tenham influenciado na formação do português com muitas palavras: alambique, álcool, alfaiate, azul, armazém, fatia, garrafa e xarope são algumas delas.

Outro sinal marcante da cultura árabe presente na Península pode ser observado nos tradicionais panos que as portuguesas usam sobre a cabeça durante suas danças folclóricas lusitanas. A viola e o pandeiro trazidos pelos portugueses e tão "abrasileirados" por aqui posteriormente, também têm origem na presença da marcante cultura árabe na Península Ibérica durante 7 séculos.


É lógico que se os árabes não tivessem sido expulsos de Portugal no século 15, e a História transcorresse naturalmente, com a chegada de Cabral por aqui em 1500, hoje, ao invés de a maioria de nossa população ir à missa ou ao culto evangélico no domingo pela manhã e ao fim da tarde, a maioria dos brasileiros oraria 5 vezes por dia com os joelhos no chão e a cabeça voltada para a direção de Meca, onde está o templo Caaba. Também teríamos que, além de ler o Alcorão, peregrinar pelo menos uma vez na vida até Meca.

Somos hoje, em nossa língua, em nossa prática religiosa e em todas as nossas manifestações culturais, nada mais do que o resultado de um produto cultural originário de guerras, imposições, dominações, reconquistas e colonizações. Torna-se impossível dizer que este ou aquele, esta ou aquela cultura tem razão absoluta e prevalece sobre as outras. Cada povo vê a verdade, e a verdade inclui plenamente Deus, de acordo com a "lente" de sua visão cultural própria, que é naturalmente imposta às crianças a partir do momento em que, no Brasil por exemplo, aprendem a falar água, mãe e pai.