quinta-feira, 1 de setembro de 2011

GATO PELO CURTO BRASILEIRO: UM FELINO GENUINAMENTE NACIONAL


Por Cássio Ribeiro

 

Viralatas, ladrão, arruaceiro e barulhento quando acasala durante as madrugadas sobre os telhados das casas formadoras das cidades em todas as regiões do Brasil. Muita gente classifica assim os felinos tão comuns em nossas ruas, praças, jardins e muros, mas o que pouca gente sabe, é que esse tal bichano tão comum no cotidiano Brasileiro é reconhecido internacionalmente pela World Cat Federation, desde 1998, como o Pêlo Curto Brasileiro (Brazilian Shorthair), a primeira raça de gatos tipicamente nacional.


O Pêlo Curto Brasileiro, que já tem até um selo do Correio lançado em sua homenagem, é descendente dos exemplares da subespécie Felis Silvestris Iberica, trazida pelos portugueses a partir do início da colonização. Porém, no Brasil, a espécie desenvolveu um padrão específico e não é mais enquadrada na mesma classificação dos primeiros felinos trazidos da Europa.



Pêlo Curto Brasileiro, ...



uma raça genuinamente nacional


A mobilização para reconhecer nossos gatos como formadores de uma raça específica teve início em 1985, quando o criador Paulo Ruschi, então presidente da Federação Brasileira do Gato, sediada no Rio de Janeiro, organizou equipes de 3 e 4 criadores, para que fossem observadas e relacionadas as características comuns de nossos felinos, a fim de que pudessem ser estabelecidos os padrões que originariam a reivindicação de que o Pêlo Curto Brasileiro pudesse ser reconhecido internacionalmente como uma nova raça.

As pesquisas foram realizadas no Rio de Janeiro, no Ceará e no Rio Grande do Sul. Os criadores andaram pelas ruas e cadastraram 40 gatos, que tiveram estudados a forma do corpo, o nariz, a cabeça, as patas, os olhos, a cauda, o focinho e a pelugem. Apesar da distância entre as regiões onde os bichanos foram observados, muitos aspectos comuns entre as características dos felinos foram constatados. A partir dessas caraterísticas comuns, foram estabelecidos os padrões da nova raça batizada com o nome de Pêlo Curto Brasileiro.


Para que uma nova raça seja aceita como tal, é necessário que características físicas comuns tenham sido transmitidas pelos ancestrais à atual geração, e continuem a ser passadas aos descendestes desta.








Foi observado que as características comuns responsáveis pela classificação de um gato como sendo Pêlo Curto Brasileiro são: peito largo, pernas de tamanho médio e patas arredondadas, cabeça de tamanho médio ou pequeno, mais comprida do que arredondada.

O pêlo é bem deitado junto ao corpo, sedoso, com cores vivas e brilhantes; apresentam cores creme, dourada, castanho clara, cinza, amarelo, preto e mesclado bicolor. Não há subpêlo. O corpo é longo e elegante, sem aspecto excessivamente musculoso.

As orelhas são médias ou grandes, arredondadas nas pontas; sua altura é sempre maior que a largura da base, e são posicionadas acima da cabeça levemente para o lado. A cauda é média ou longa, não é grossa na base e vai afinando até a ponta, que possui característica arredondada.

Os olhos são bem abertos e redondos, com sutil obliqüidade e geralmente combinando com a cor dos pêlos. Alguns gatos brancos da raça podem apresentar um olho de cada cor.








Depois que essas características físicas foram estabelecidas como o padrão da raça, os criadores brasileiros solicitaram à Word Cat Federation (WCF), com sede na Alemanha e representada em 17 países, o reconhecimento internacional do Pêlo Curto Brasileiro como uma nova raça genuinamente nacional. O reconhecimento da WCF não ocorreu num primeiro momento, porém, a Federação Brasileira do Gato (FBG) começou a emitir o Registro Inicial (RI), que é uma espécie de pedigree concedido a novas raças. Gatos de rua que se enquadrassem no padrão estabelecido recebiam o RI da FBG.





Apesar dos esforços iniciais para o reconhecimento de uma nova raça genuinamente brasileira, o número de criadores profissionais era bem pequeno, já que o gato brasileiro, encontrado tão facilmente nas ruas, não tinha expressivo valor comercial.

Em 1997, o criador Paulo Ruschi foi convidado para dar uma palestra para juizes e dirigentes da World Cat Federation, na Alemanha. O estudo foi apresentado e, um ano depois, em 1998, nosso gato "verde e amarelo" foi reconhecido como a raça Pêlo Curto Brasileiro pela WCF, que recomendou que as particularidades físicas da nova raça fossem aceitas como o padrão oficial do gato brasileiro.











A raça Pêlo Curto Brasileiro obedece a um padrão internacional rígido. Sendo assim, nem todo gato encontrado no Brasil é um Pêlo Curto Brasileiro puro. A criadora Sylvia Roris, dona do Gatil Syarte, foi a primeira a exportar exemplares da raça. Ela afirma que o Pêlo Curto é muito dócil com estranhos: "Só o dono pode mudar esse comportamento. Uma pessoa agressiva tem grandes chances de ter um gato da mesma forma", diz Sylvia, e completa contando que eles chegam perto das visitas, pulam no colo, se enlaçam nas pernas e trocam afagos e carinhos.

Sylvia também recomenda que os criadores dêem, além da ração comum, uma porção de ração úmida pelo menos uma vez ao dia, pois como o gato é um animal originário do deserto, às vezes não bebe água e o alimento úmido acaba ajudando na hidratação, sendo excelente para manter a saúde dos bichanos.