Por Cássio Ribeiro (Esta postagem é dedicada ao meu querido irmão Fábio Cox).
Um jardim frondoso que cresce, uma mina que brota no meio de uma praça florida, o fluxo que jorra pelas comportas de uma hidrelétrica e movimenta seu imenso gerador de energia num rápido giro, a chuva que cai do céu, o sangue, a lágrima, o suor, o gelo, o vapor que movimentou as locomotivas e as máquinas que impulsionaram a Revolução Industrial da Inglaterra no século 19; tudo isso diz respeito ao principal mantenedor da vida sobre a Terra, a água.
Dois simples átomos de hidrogênio que se ligam a um solitário átomo de oxigênio para formar a molécula do elemento da natureza responsável por 70% da composição do corpo humano. São 43 litros de água em média que cada ser humano adulto carrega em sua individualidade física durante toda a vida.
Não é ao acaso que a existência da lenda sobre a fonte da juventude, que rejuvenesce que bebe das suas águas, povoe o imaginário popular em todo o mundo. É dito na lenda, que os árabes teriam encontrado tal fonte e que, posteriormente, ela fôra roubada por inimigos bárbaros, desaparecendo no fundo do mar após um naufrágio.
De certa forma, a água é mesmo uma natural e milagrosa fonte da juventude, pois está entre 50% e 90% da composição de todo organismo vivo. Trata-se do único alimento verdadeiramente com zero caloria que existe, e que fornece nutrientes não encontrados em nenhuma outra substância ingerida durante a alimentação humana. Cada ser humano adulto deve beber entre 2 e 3 litros de água todos os dias, sendo ideal que o consumo seja feito em doses de 200 ml.
Para que todo o corpo humano funcione em equilíbrio, é necessário que a água seja consumida diariamente de forma regular, independente de haver sede ou não. Também é necessário um vital equilíbrio entre a quantidade de água que eliminamos do corpo (suor, urina, lágrimas etc) e a água que ingerimos. O desequilíbrio pode ser observado na coloração da urina que, quanto mais escura for, indicará o grau de deficiência na ingestão de água. Um corpo que é mantido com a quantidade ideal diária de água costuma expelir urina quase incolor.
É curioso notar que a proporção de água que compõe o corpo humano tenha o mesmo valor dos 70% de água que compõe a superfície do planeta Terra. 97% da água da Terra é salgada e os 3% doces que restantes são mal distribuídos pelo mundo. Só o Brasil possui 11,6% da água doce mundial. Países como África do Sul, Egito, Israel, Paquistão, Haiti, Índia, Turquia e Iraque já sofrem com escassez de água. Uma parte da água consumida no Japão é importada da Coréia do Sul.
Nos países em desenvolvimento, cerca de 60% da água distribuída para a população se perde em gotas e vazamentos. No Brasil, 70% da água doce existente está na Amazônia, que é habitada por apenas 7% da população do país. O desequilíbrio da distribuição fica claro quando se observa que o nordeste brasileiro, mesmo cortado pelo rio São Francisco, tem só 3% de toda a água doce brasileira.
A manutenção das nascentes de água limpa e fresca depende diretamente da preservação das matas presentes nas encostas das montanhas. As águas das chuvas caem e são absorvidas pelo terreno onde estão as matas, se infiltram no solo e literalmente se filtram, entrando muitas vezes em contato com rochas e minerais nas camadas subterrâneas, sendo assim enriquecidas com diversos elementos que contribuem para o perfeito funcionamento do organismo humano.
Formam-se então os lençóis freáticos, que não são piscinas subterrâneas, e sim encharcamentos do solo que lembra as esponjas de pia saturadas de água. Essas águas acabam aflorando límpidas em superfícies de rochas e em pontos localizados em pequenos vales do terreno, geralmente no alto do relevo. Surge então um pequeno olho d'água que escorre, junta-se a outro filete e depois a outro mais abaixo, formando assim um pequeno riacho, que se une a uma rede de outros córregos para formar o curso de um rio que corre no fundo do maior vale próximo a região das nascentes, chamado tecnicamente na ciência cartográfica ou Cartografia de linha de reunião de águas.
Também existem milhões de litros de água espalhados pelo mundo em forma de aqüíferos subterrâneos; um dos maiores deles, o Aqüífero Guarani, fica sob o Brasil e se estende pelo centro sul da América do Sul, por baixo de terras do Paraguai, Argentina e Uruguai, num total de 55 mil metros cúbicos de água distribuídos em 255 mil quilômetros quadrados.
Existe inclusive uma base dos Estados Undos no Paraguai, bem ao lado do Aquífero. Os estadunidenses afirmam estar no local para treinar tropas paraguaias, e para fiscalizar uma suposta rede de conexão de atividade terrorista na região.
As águas dos aquíferos ainda não podem ser usadas, pois a tecnologia atual disponível não permite ao homem chegar aos reservatórios localizados nas profundezas da Terra, bem mais fundo que as bacias petrolíferas exploradas atualmente.
A visita do secretário de defesa dos EUA, Robert Gates, à América Latina há alguns anos, teve como um dos principais propósitos tratar da instalação de bases aéreas americanas na região onde está boa parte de toda a água doce do mundo, além de outro local para abrigar a base de Manta, localizada atualmente no Equador, onde o governo recusou renovação da licença de uso daquela base pelos americanos. A agência de notícias Reuters publicou que Colômbia e Peru se ofereceram para a instalação da base americana, porém seus governos negam.
A escassez de água atrapalha o desenvolvimento de um país, principalmente comproblemas sociais e de saúde, que prejudicam diretamente a economia de uma nação. É essencial proteger os mananciais em todos os sentidos, a fim de tê-los no futuro e evitar um possível caos na humanidade, em que homens de todos os continentes entrariam em guerra para conquistar um elemento que pode vir a se tornar tão raro: a água.
A ONU (Organização das Nações Unidas) declarou o dia 22 de março como o dia mundial da água, por meio de um documento chamado "Declaração Universal dos Direitos da Água", que foi publicado na ECO RIO 92, realizada entre os dias 3 e 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro. Eis um pequeno trecho do documento:
"A água é a seiva do nosso planeta. Ela é a condição essencial de vida de todo ser vegetal, animal ou humano. Sem ela, não poderíamos conceber como seriam a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura. O direito à água é um dos direitos fundamentais do ser humano: o direito à vida, tal qual é estipulado no Art. 30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Nas regiões onde os recursos hídricos são encontrados em abundância, a população no geral acredita que a água é um bem natural infinito e, por isso, pode até ser desperdiçada: ledo engano. Natural sim, e indispensável para a manutenção da vida em todos os aspectos, porém finito e dependente da conscientização das pessoas e da preservação das matas.
São alarmantes os dados que mostram que 90% do esgoto produzido no Brasil é jogado sem tratamento nos mares, lagos e rios. Cada vez que são utilizados mil litros de água, outros dez mil litros são poluídos.
O consumo de água hoje no mundo é três vezes maior do que em 1950. Havia aproximadamente 500 mil pessoas sobre a Terra em 1650. Em 2010, ja eram cerca de 8 bilhões de pessoas sobre o planeta, e chegará aos 16 bilhões apenas em algumas décadas mais adiante em relação a hoje.
No ritmo em que "caminha" a humanidade, calcula-se por meio de dados fornecidos pelo International Water Management Institute (IWMI) dos EUA, 1,8 bilhão de pessoas ou 30% da população mundial estará vivendo em condições de absoluta falta de água no ano de 2025.
Se os 5 bilhões de anos de existência do mundo pudesses ser representados por apenas um ano, só ouviríamos falar do Homo Sapiens quando estivessem faltando 10 minutos para a meia-noite do dia 31 de dezembro do ano comparado, guardadas as proporções de escala, aos 5 bilhões de anos da Terra. Em tão pouco tempo, o homem já criou a incerteza sobre a preservação de sua existencia sobre o Planeta.
A manutenção da sobrevivência da espécie humana está direta e intimamente ligada à preservação da substância que compõe quase toda a nossa individualidade corporal: ela, sua excelência, a água.
O texto acima é um trecho extraído do livro "Mantiqueira: Ecologia, Cultura e Aventura na Montanha que Chora", de autoria do jornalista Cássio Ribeiro.
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