segunda-feira, 9 de julho de 2012

O ISLAMISMO DESDE AS ORIGENS





Por Cássio Ribeiro

A Arábia é uma península que fica entre o nordeste da África e a Ásia. No século 6 (501-600) de nossa era cristã, a Arábia, que também é chamada de Península Árabe ou Arábica, era intensamente percorrida por caravanas de mercadores que traziam produtos da Índia para serem comercializados no Ocidente, mais precisamente na Europa.

O trajeto vinha pelo oceano Índico e cruzava toda a Arábia, passava pelo mar Vermelho e atravessava o rio Nilo e o Egito, na África, seguindo para o norte, onde os produtos eram comercializados com as embarcações das cidades de Gênova e Veneza, na costa sul do mar Mediterrâneo. Dali, as mercadorias eram levadas para a Europa, que fica ao norte, na outra costa do Mediterrâneo. 

Imagem de satélite da Península Arábica, com o Mar Vermelho e o litoral do nordeste africano à esquerda


A principal rota comercial do século 6 passava pela Arábia, cruzava o Mar Vermelho e chegava à África, do outro lado do Rio Nilo, no norte do Egito


Apesar de ter o clima predominantemente desértico, a Arábia enriqueceu em função das rotas comerciais que passavam pelo lugar. Os árabes que viviam na região eram organizados em formas de tribos distintas uma das outras. Todas as tribos da Península Arábica acreditavam que a natureza, as árvores, as pedras e os djinns (gênios ou espíritos das fontes) eram forças sagradas que podiam também atormentar os seres humanos, trazendo-lhes desgraças.

Embora tais pensamentos religiosos fossem comuns entre todos os habitantes da Arábia, cada tribo possuía seus próprios deuses, e algum animal como ancestral específico. As divergências religiosas entre os grupos que viviam na Arábia motivavam constantes lutas entre as tribos do norte e do sul.

Em função das intensas atividades comerciais, algumas cidades da Arábia cresceram muito rápido, e seus comerciantes acumularam expressivas fortunas. A cidade de Meca era um desses pólos comerciais de riqueza. Foi em Meca que, por volta do ano 570, nasceu Maomé (Muhammd), no clã dos Beni Hasshemi, uma pobre ramificação da tribo dos Coraishitas, que dominava a região da Arábia onde fica Meca.

A primeira infância de Maomé foi muito difícil. Seu pai, Abdallah, morreu quando o menino ainda estava sendo gerado pela mãe, Amina, que também morreu quando Maomé tinha 6 anos apenas. O menino foi adotado pelo tio, Abu Talib, irmão de seu pai, que logo o integrou nas atividades comerciais da família. Viajando em caravanas que iam à Palestina, ao Iraque e à Síria, Maomé conheceu muitos povos diferentes dos que viviam na região de Meca, e teve estreito contato com diversos tipos de manifestação religiosa. Nessa época, era praticada em Meca a adoração de vários deuses (politeísmo), embora já existisse a influência de religiões monoteístas na região (o Judaísmo e o Cistianismo presente no vizinho Império Bizantino).

A diversidade cultural propiciada pela passagem de caravanas comerciais fazia surgirem vários novos templos que eram construídos para todos os tipos de divindades. Mesmo assim, já havia a crença em um Deus supremo, idealizador e criador do mundo, que se assemelhava ao Júpiter romano e ao Zeus grego. Para este Deus, foi construído um santuário em forma de cubo (Caaba), que era um importante centro de peregrinação já naqueles tempos. Uma vez por ano, os fiéis visitavam a Caaba e era realizada uma imensa feira comercial na ocasião.

Maomé, quando tinha 25 anos, se casou com uma viúva rica 15 anos mais velha do que ele, Cadija. Das 4 filhas que tiveram, só uma, Fátima, gerou descendentes de Maomé ao se casar com Ali, filho de Abu Talib, um rico líder da tribo dos Coraishitas.


A vida de Maomé era igual a de qualquer árabe daquele tempo. Conhecido como um homem fiel à esposa, honrado, sóbrio, reflexivo e chamado de Al Alim (o confiável), Maomé tinha a particularidade de gostar de passar horas meditando isolado em cavernas e grutas das montanhas perto de Meca.


Aos 40 anos de idade, no ano 610, Maomé estava meditando em uma gruta do monte Hira. O livro sagrado do Islamismo, o Alcorão, relata que Maomé ouviu a voz do anjo Gabriel lhe dizer: "Só há um Deus que é Alá, e Maomé é o seu profeta". Essa noite ficaria conhecida como a "Noite do Destino" ou "Noite da Revelação".


Maomé desconfiou dos seus sentidos, e ficou apavorado nos primeiros momentos. Foi sua esposa, Cadija, quem o encorajou a seguir em frente. Maomé recebeu muitas outras revelações na seqüência, e sempre que a palavra de Alá se manifestava, era uma experiência dolorosa para ele, como um arrebatamento; seu corpo tremia e suava. Quando acontecia uma revelação, Maomé memorizava o novo trecho e o recitava para quem estivesse ao seu lado. O Alcorão levou 21 anos para ser completamente revelado.

Não há nada escrito em árabe que possa ser comparado aos textos do Alcorão. Alguns trechos são repletos de repetição das mesmas sílabas no mesmo verso ou em versos seguidos, com um lindo jogo de palavras muito poético e complexo, impossível de ser traduzido com o mesmo sentido e a beleza rítmica quase musical do texto original em árabe.
 O profeta Maomé em uma pintura turca da Idade Média. Os muçulmanos árabes não costumam representar figuras humanas, principalmente a de Maomé. Os turcos, porém, mesmo sendo muçulmanos, não adotavam tal restrição
 Alcorão: o livro sagrado do Islamismo, cuja essência da mensagem é a pluralidade, a tolerância e a compaixão. Islamismo significa "submissão voluntária aos desígnios de Deus", bem ao contrário da concepção ocidental de que os muçulmanos querem obrigar os outros a seguirem sua fé

 Em nome de Deus, o clemente, o bondoso, o misericordioso 


Maomé era insultado e zombado quando pregava em Meca, pois a maioria das pessoas não aceitava abandonar suas crenças em vários deuses para adorar um Deus único. Muitas pessoas que conheciam Maomé desde a infância não acreditavam que um homem comum pudesse ser um escolhido de Deus como profeta.

O profeta Maomé, porém, conseguiu converter inicialmente dezenas de pessoas das camadas mais pobres de Meca, e alguns poucos membros da nobreza da cidade. Já a grande maioria dos homens mais ricos e poderosos de Meca, responsáveis também pelos cultos pagãos predominantes na região, não viam com bons olhos uma organização independente que unia e fortalecia as classes mais pobres da cidade.

Mesmo com toda essa oposição, Maomé não podia ser perseguido diretamente por dois motivos: era integrante da tribo dos Coraishitas e protegido pelo sogro de sua filha, Abu Talib. Além disso, o casamento com Cadija o tornara rico também. A repressão das autoridades de Meca acabou caindo sobre os pobres seguidores de Maomé.
Diante da perseguição sobre seu povo, Maomé decidiu sair com seus cerca de 70 seguidores de Meca por algum tempo, e foi para a Etiópia, onde ficou por dois anos, 615 e 616. Já de volta a Meca, em 619, Maomé perde as duas pessoas mais importantes de sua vida; morrem Cadija e Abu Talib, que também eram seus protetores.

As hostilidades e a repressão contra Maomé e seu povo se intensificam. O Profeta sofre uma tentativa de assassinato e, em 16 de julho de 622, resolve se afastar definitivamente da cidade de Meca com seus seguidores. Vai para a cidade de Iatrib (atual Medina), que é um rico oasis localizado a 400 quilômetros de Meca. A ida de Maomé e seu povo para Medina é conhecida como Hégira (exílio), e representa o início do calendário islâmico, que marca a origem de uma nova era na história mundial.

Medina era formada por uma sociedade pagã e por Árabes seguidores do judaísmo. Em poucos meses, Maomé consegue converter a grande maioria dos pagãos, e os árabes seguidores da religião dos judeus. Muitos foram convertidos à força. Os clãs que tentaram resistir foram eliminados militarmente.

A cidade de Medina passou a ser organizada de acordo com as doutrinas do Islamismo, tornando-se assim a primeira "república Islâmica". Aliás, até hoje, a associação entre Estado e religião é uma das principais características administrativas da maioria dos países islâmicos.

 
Em Medina, Maomé proclamou a ‘Jihad’ contra Meca. O termo ‘Jihad Islãmica’ é traduzido como "Guerra Santa" por nós ocidentais, mas ao pé da letra na língua árabe, representa um esforço para levar a mensagem de Deus aos infiéis. Em determinadas ocasiões esporádicas, esse esforço pode chegar a ter o vulto de uma guerra militarmente falando.

Os muçulmanos liderados por Maomé em Medina entraram em choque militar com Meca em várias ocasiões. Medina foi cercada, resistiu, e venceu importantes e decisivas batalhas. A tomada de Meca era importantíssima para Maomé, pois Deus revelou ao profeta que o templo em forma de cubo (a Caaba) localizado na cidade, tinha sido construído por ordem sua, dada ao profeta Abraão e seu filho Ismael.

Abraão originou o povo árabe a partir de um filho que teve com sua criada egípcia, Hagar. O menino se chamava Ismael. Posteriormente, a esposa de Abraão, Sara, gerou também um filho do profeta, que recebeu o nome de Isaque, e deu origem ao povo judeu.

É curioso notar que o Deus do velho testamento do Judaísmo, o Deus do Cristianismo e Alá são o mesmo Deus. A grande diferença é que, no Islamismo, os muçulmanos acreditam que Adão, Noé, Davi, Abraão, Moisés, Jesus, Ismael, Maomé, e todos os 124 mil mensageiros que o Alcorão afirma que Deus mandou para a Terra, foram apenas profetas, iluminados por Deus sim, mas simplesmente profetas mortais comuns. Deus mesmo, na concepção de divindade do termo, para o entendimento islâmico, só Alá.

Maomé e seus seguidores de Medina precisavam dominar Meca para tirar da Caaba as imagens dos ídolos pagãos e, conservando em seu interior somente a Pedra Negra, torná-lo um templo exclusivo de Alá, devolvendo à construção cúbica seu significado sagrado original, de acordo com as concepções da fé islâmica.

Maomé converteu um grande número de tribos árabes nos arredores de Medina, e acumulou forças para um grande ataque à Meca. Em 630, foi organizada uma poderosa expedição militar que seguiu, liderada por Maomé, em direção a Meca. Com o poder dessa investida militar, Maomé impôs à rendição dos chefes Coraishitas que o expulsaram da cidade 8 anos antes.

Num gesto extremo de humildade e diplomacia, Maomé concedeu perdão e anistia imediata aos seus antigos inimigos. Com isso, conquistou a simpatia e a adesão de milhares de novos seguidores para o Islamismo. Em 632, dez anos depois de sua fuga de Meca (a Hégira), Maomé voltou à cidade liderando uma multidão de 80 mil muçulmanos numa histórica peregrinação.

Na ocasião da chegada, Maomé retirou da Caaba todas as imagens de Deuses e ídolos pagãos, deixando apenas a Pedra Negra, ficando o templo agora reservado para a adoração exclusiva de Alá. No mesmo dia, Maomé recebeu a última revelação: "Hoje, completei minha graça em voz e me satisfaz que o Islã seja vossa religião".
 Localizada na mesquita central de Meca, na Arábia Saudita, a Caaba é uma construção cúbica com 15, 24 metros de altura e é cercada por muros de mais de 10 e 12 metros. Considerada o local mais sagrado do mundo pelos muçulmanos, a Caaba abriga a Pedra Negra (hajar el aswad) que possui 50 centímetros de diâmetro e é o resto de um meteorito que, segundo os muçulmanos, caiu do céu como um presente de Alá para Adão, seu primeiro mensageiro. Desde 624, todo muçulmano em qualquer ponto do mundo deve fazer suas orações voltado para a Caaba, em Meca.


  
Todo muçulmano deve visitar a Caaba em peregrinação realizada ao menos uma vez na vida, de preferência durante o Ramadã, que é o nono mês do calendário muçulmano. A visita obrigatória durante o Ramadã é chamada de Hajj, e será realizada desde que o muçulmano possua condições financeiras e saúde para fazê-la


 Cerca de 2 milhões de pessoas de todos os pontos da Terra realizam a Hajj todo ano. Quando o muçulmano está a uma certa distância de Meca, deve entrar no estado de Ihram (estado sagrado). Veste duas peças de tecido branco e sandálias (tudo não cozido). Durante o estado de Ihram, o peregrino não corta o cabelo e nem as unhas, não usa perfume, não mata animais, não se envolve em discussões ou lutas, não tem relações sexuais e não se 
 casa



 Muitos classificam o Islamismo como machista. Mas é fato que até antes do surgimento da religião no século 7, na Arábia, as mulheres eram tratadas como animais. O Alcorão trouxe algumas igualdades de direitos e deu às mulheres a possibilidade de pedir divórcio e receber heranças, além do direito de trabalhar e a obrigação de estudar. Esses mesmos direitos só foram conquistados pelas mulheres ocidentais a partir do século 19




 "A visão ocidental sobre o Islamismo divide-se entre o medo e a curiosidade."   Karen Armstrong, historiadora inglesa



Em seu último discurso em Meca, Maomé disse: "Sabei que todo muçulmano é irmão do outro", e completou recomendando que as guerras entre os muçulmanos fossem evitadas. Com a destruição dos vários ídolos existentes na Caaba, e a institucionalização da adoração de Alá como Deus único, Maomé acabou com as divergências religiosas que ocasionavam rivalidades e guerras entre as diversas tribos árabes da Península Arábica. O Islamismo possibilitou em suas origens, o surgimento de uma nação árabe não fragmentada e unida por uma identidade comum. Maomé morreu pouco tempo depois, em 8 de junho de 632, depois de voltar para Medina.



Mesquita onde está o túmulo de Maomé, em Medina


Com a morte do Profeta, alguns árabes queriam que o genro de Maomé, Ali, bem mais novo, assumisse seu lugar na liderança islâmica. Seus simpatizantes deram origem aos xiitas, da expressão "xiat Ali" (os partidários de Ali). Já os que defendiam como novo líder um dos companheiros mais velhos de Maomé, Abu Bakr, originaram os sunitas (de sunat, tradição), já que defendiam que o mais velho, por ser mais sábio, deveria ser escolhido para suceder Maomé.

Abu Bakr foi o escolhido e, embora os árabes estivessem unidos em torno do Islamismo, as diferenças entre o conservadorismo dos sunitas e as inovações propostas pelos xiitas permanecem até os dias de hoje. Os sunitas são mais ortodoxos, e seguem ao pé da letra tudo o que está escrito no Alcorão. Já os xiitas são mais abertos, dentro de um certo limite, à mudanças e adaptações.

Boneca muçulmana Sara: inovação lançada no Irã, de maioria xiita, para concorrer com a americana Bárbie. Fabricados na China, Sara e seu irmão Dara são vendidos por cerca de 15 dólares no Irã, menos da metade do preço da ocidental Bárbie naquele país


 Guerrilheiro terrorista sunita do grupo palestino Setembro Negro, durante a invasão da vila olímpica nos jogos olímpicos de Munique, na Alemanha, em 1972. Na ocasião, 11 atletas de Israel foram assassinados. Os sunitas são responsáveis pela maioria dos atentados terroristas islâmicos já realizados no mundo, por serem conservadores e adeptos do fundamentalismo. O termo fundamentalismo foi empregado primeiro por evangélicos norte-americanos, que pregavam uma volta aos fundamentos do cristianismo, propondo uma literal interpretação e aplicação prática dos textos bíblicos. Das 3 religiões monoteístas (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), a terceira foi a última a desenvolver o fundamentalismo, quando a cultura ocidental moderna começou a influenciar o mundo muçulmano, a partir da segunda metade do século 20.



Independente da religião, os fundamentalistas têm em comum um verdadeiro pânico relacionado à sociedade moderna. Eles acreditam que estão travando uma luta contra a imoralidade da cultura moderna que os tenta dominar. Esse desespero faz os terroristas islâmicos usarem o termo ‘Jihad’ para definirem sua causa. A mídia ocidental traduz o termo como "Guerra Santa", o que acaba causando uma generalização deturpada no sentido real e original do Islamismo.


Apesar de certas diferenças ideológicas entre sunitas e xiitas, o Império Árabe, unido pelo Islamismo, cresceu e dominou desde províncias da China até o norte da África, onde hoje ficam o Marrocos e a Argélia. A partir dali, no século 8 (701-800), os árabes chegaram à Península Ibérica (Portugal e Espanha) depois de cruzarem os 14 quilômetros e meio do Estreito de Gibraltar, que separa o sul da Espanha do norte do Marrocos.


Imponente mesquita do Cazaquistão. Na edição do dia 29 de março de 2008, sábado, o jornal do vaticano, "L 'Osservatore Romano" publicou que 17,4% da população mundial é católica, contra 19,2% muçulmana. Porém, se somados todos os cristãos do mundo (católicos, ortodoxos, protestantes e anglicanos) a porcentagem chega a 33% da população mundial. No Brasil, são quase 2 milhões de muçulmanos e cerca de 90 mesquitas


 A dança das espadas na Arábia Saudita. Tradição folclórica remanescente da atividade expansionista do Império Árabe, realizada por meio de guerras e invasões


Os seguidores de Maomé dominaram quase toda a Península, e só não exerceram influência sobre as regiões montanhosas da Cantábria e das Astúrias, no extremo norte da Península Ibérica, onde um pequenino reino católico de resistência se estabeleceu.

Nas Astúrias, uma caverna abrigava o rei e servia como templo de Cristo. Os cristãos desciam das montanhas de repente para atacarem os acampamentos árabes nas planícies. Esses ataques deram origem à Guerra da Reconquista, e foram empurrando os árabes de volta para o sul até a expulsão total, no século 15.


Expansão do Império Árabe que, a partir da Arábia, em marrom, se estendeu desde províncias chinesas no oriente, ocupou a região abóbora, ao norte da península Arábica, e chegou a todo o norte da África, cruzando o estreito de Gibraltar e dominando quase que inteiramente a Península Ibérica (Portugal e Espanha), na Europa, à esquerda


Foram quase 700 anos de ocupação árabe, período em que muçulmanos e cristãos conviveram juntos, mas não se misturaram, principalmente por causa da diferença religiosa. O Romanço (que foi a base da língua portuguesa atual) permaneceu falado pelos cristãos, embora os árabes tenham influenciado na formação do português com muitas palavras: alambique, álcool, alfaiate, azul, armazém, fatia, garrafa e xarope são algumas delas.

Outro sinal marcante da cultura árabe presente na Península pode ser observado nos tradicionais panos que as portuguesas usam sobre a cabeça durante suas danças folclóricas lusitanas. A viola e o pandeiro trazidos pelos portugueses e tão "abrasileirados" por aqui posteriormente, também têm origem na presença da marcante cultura árabe na Península Ibérica durante 7 séculos.


É lógico que se os árabes não tivessem sido expulsos de Portugal no século 15, e a História transcorresse naturalmente, com a chegada de Cabral por aqui em 1500, hoje, ao invés de a maioria de nossa população ir à missa ou ao culto evangélico no domingo pela manhã e ao fim da tarde, a maioria dos brasileiros oraria 5 vezes por dia com os joelhos no chão e a cabeça voltada para a direção de Meca, onde está o templo Caaba. Também teríamos que, além de ler o Alcorão, peregrinar pelo menos uma vez na vida até Meca.

Somos hoje, em nossa língua, em nossa prática religiosa e em todas as nossas manifestações culturais, nada mais do que o resultado de um produto cultural originário de guerras, imposições, dominações, reconquistas e colonizações. Torna-se impossível dizer que este ou aquele, esta ou aquela cultura tem razão absoluta e prevalece sobre as outras. Cada povo vê a verdade, e a verdade inclui plenamente Deus, de acordo com a "lente" de sua visão cultural própria, que é naturalmente imposta às crianças a partir do momento em que, no Brasil por exemplo, aprendem a falar água, mãe e pai.

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