segunda-feira, 2 de julho de 2012

AS ORIGENS DA LÍNGUA PORTUGUESA




Por Cássio Ribeiro

A língua falada é uma das principais ferramentas da expressão cultural de um povo. Nossa língua portuguesa possui uma origem bastante curiosa e, para conhecê-la, é necessário compreender um pouco da história da formação de Portugal.

O Império Romano chegou a dominar quase todo o mundo conhecido no século 3; era dito que desde onde o Sol nascia a onde ele se punha pertencia a Roma. Todas as terras em volta do mar Mediterrâneo eram controladas pelos soldados romanos ou centuriões, como eram chamados aqueles guerreiros.

A Península Ibérica, onde hoje está Portugal e Espanha, era ocupada originalmente pelos povos iberos, que falavam uma variedade de dialetos locais. Com a ocupação romana, muita gente das camadas sociais mais simples de Roma migrou para a Península Ibérica. Eram operários, comerciantes e soldados, que falavam o latim mais vulgar, diferente daquele falado pela aristocracia e pelos literatos romanos.

Toda cultura mais forte impõe naturalmente certo grau de influência sobre as expressões culturais de um povo menos poderoso em foa bélica e dominado, como aconteceu entre brancos e índios, e ainda acontece entre o Brasil e os EUA, pelo menos no campo da dominação econômica e da dependência científica e tecnológica. Sendo assim, o latim vulgar foi amplamente imposto e difundido por toda Península Ibérica, e é a base principal da formação do português falado hoje. A palavra vírgula, por exemplo, é uma união do termo latino "VIRG", que quer dizer vara e, seguido do sufixo "ULA", equivalente ao nosso diminutivo inha, forma a expressão "VARINHA" ao pé da letra. Eis um lote das conhecidas varinhas: ,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,.

Outra palavra da língua portuguesa com origem curiosa no latim vulgar é pílula. Formada pela união entre o termo "PIL", que representa bola, e o diminutivo "ULA", a palavra nomeou nossas "BOLINHAS" tão ingeridas no dia-a-dia como vitaminas, remédios e anticoncepcionais.

Em 300 anos após a invao romana, a Península Ibérica quase inteira falava uma derivação local do latim vulgar, chamada de Romao. A única exceção ocorreu numa região montanhosa ao norte da Espanha, chamada de Vascongada, perto da divisa com o sul da Fraa. Ali, até hoje vive o povo original ibérico chamado de basco. Os bascos conseguiram manter sua cultura geral e sua língua preservadas da o forte influência romana, tendo inclusive influenciado de forma significativa o vocabulário da língua portuguesa com algumas palavras: cama, esquerdo, bizarro e modorra o palavras cuja origem deriva do dialeto basco.

Ainda hoje, em pleno século 21, os bascos usam seu braço armado, o grupo separatista basco ETA, com atividades de ação terrorista em muitos casos, para reivindicarem sua separação da Espanha
A Península Ibérica na parte inferior do mapa, formada pela Espanha, em verde, e Portugal, em Branco, tem ao norte o pequeno território basco em destaque, que se estende até regiões do extremo sul da Fraa, em vermelho

 Embora o latim falado pelo povo tenha sido a principal base de formação do idioma português, nossa língua recebeu, em sua formação, a influência lingüística de outras etnias além dos romanos.

No século 5, os bárbaros germânicos ou escandinavos invadiram a Península vindos do norte. Os germânicos originaram o que hoje é o povo alemão e seus vizinhos no norte da Europa. Suas atividades principais naquela época eram a guerra e a pilhagem dos bens de outros povos.

O germânicos ocuparam toda a Península Ibérica por quase 300 anos e, embora as raízes das influências romanas tenham prevalecido, o vocabulário dos bárbaros contribuiu com muitas palavras que falamos em português hoje: guerra, brandir, gastar, esgrimir, luva, banir, bradar, escaramuça, franco, galope, roubar e trepar são alguns exemplos que mostram, quase sempre por meio da presença rascante do "r" ou "rr", a expressão da natureza violenta e selvagem das raízes germânicas no vocabulário daquele povo dominado cuja expressão falada originou o nosso português.

No século 8, os árabes chegaram à Península Ibérica depois de cruzarem os 14 quilômetros e meio do Estreito de Gibraltar, que separa o sul da Espanha do norte do Marrocos. A ocupação árabe teve início em 711, com a vitória na Batalha de Guadalete.

A Península Ibérica foi quase toda dominada, e os árabes só não exerceram influência sobre as regiões montanhosas da Cantábria e das Astúrias, no extremo norte da Península, onde um pequeno reino católico de resistência se estabeleceu.

Nas Astúrias, uma caverna abrigava o rei e servia como templo de Cristo. Os cristãos desciam as montanhas de repente para atacarem os acampamentos árabes nas planícies. Esses ataques deram origem à Guerra da Reconquista, e foram empurrando os árabes de volta para o sul, a a expulsão total no século 15, em 1492.



Caverna que abrigou os cristãos nas Astúrias, localizada em Covadonga, ao noroeste da Espanha. Os cristãos levaram com eles uma imagem da Virgem Maria na ocasião em que se refugiaram na caverna. A vantagem numérica dos árabes não lhes adiantava muito, pois era difícil penetrar na estreita entrada da gruta ...



 Durante a batalha, diz a lenda que houve um terremoto e parte da montanha desabou, soterrando um terço dos árabes em combate. O triunfo em Covadonga, no ano de 718, foi a primeira vitória do cristianismo ibérico sobre os árabes invasores, e marcou o início da formação da Espanha. No local da entrada da caverna, há atualmente um santuário dedicado à Virgem das Batalhas. 




Foram quase 7 séculos de ocupação árabe, período em que muçulmanos e cristãos conviveram juntos, mas não se misturaram, principalmente por causa da diferença religiosa. O Romao permaneceu falado pelos cristãos, embora os árabes tenham influenciado na formação da língua portuguesa com muitas palavras: alambique, álcool, alfaiate, azul, armazém, fatia, garrafa e xarope são algumas delas.

Outro sinal marcante da cultura árabe presente na Península pode ser observado nos tradicionais panos que as portuguesas usam sobre a cabeça durante suas daas folclóricas lusitanas. A viola e o pandeiro trazidos pelos portugueses e tão abrasileirados por aqui posteriormente, também têm origem na presença da cultura árabe na Península Ibérica.
 


Além da influência na formação da língua portuguesa, os traços da cultura árabe podem ser notados na vestimenta e ...
 na dança do folclore português



Outra marcante influência árabe na Península Ibérica pode ser observada na arquitetura, como neste prédio à direita da foto, localizado em Toledo, na Espanha e ...


 nesta ponde em Alcântara, também na Espanha




O francês Henrique de Borgonha atuou de forma intensa e significativa na Reconquista, liderando a expulsão dos árabes do Reino da Galiza, que tinha o norte de Portugal em suas terras. Por isso, o rei de Leão e Castela, Afonso VI, presenteou o infante francês com a mão de sua filha Catarina de Aragão e as terras do Condado de Portucale, que deu origem ao território atual de Portugal.

Falado por grupos étnicos com tradições e costumes tão diferentes dentro da Península, o Romanço sofreu variações e adaptações distintas em muitas regiões, dando origem ao galego-português, onde hoje é Portugal, e ao castelhano em toda Espanha, com exceção do nordeste daquele país, onde se fala o catalão, que é bem parecido com o castelhano, mas definido como uma expressão lingüística à parte.


A expansão marítima portuguesa em busca de novos pólos para comércio teve início no século 15, e difundiu a língua falada em Portugal por países de todo o mundo, como Brasil, Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissal e até Macau, na China.

No Brasil, a língua portuguesa ainda recebeu a influência dos dialetos falados pelos escravos africanos, de onde derivam palavras como moleque e quitanda, entre outras.O tupi-guarani, falado pelos índios que aqui viviam, foi outro dialeto que contribuiu com palavras para o vocabulário português brasileiro: mandioca, mingau, guri e abacaxi são alguns exemplos.

O português falado no Brasil recebeu algumas influências não observadas em Portugal, o que ocasionou algumas diferenças em formas de expressão da língua falada nos dois países. Uma delas está no uso do nosso gerúndio (saindo, andando e subindo), que não é aplicado em Portugal, onde é dito estou a sair, estou a andar e estou a subir. Nós brasileiros costumamos dizer que vamos entrar no fim da fila; já os lusitanos caminham até o rabo da bicha, onde entram.

Nossa identidade, nossos costumes, nosso folclore, nossa culinária, nossa religião, nossos valores e nossa cultura em geral só existem graças a nossa rica língua portuguesa, que é o principal agente unificador, promotor e propagador de tudo o que é nosso, ou seja, nossas mais variadas expressões do dia a dia através dos tempos.

Um comentário:

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