Fernanda Toffuli
Quando um grupo de pessoas se reúne por uma causa nobre, surgem agentes
do bem; nesse caso surgem os voluntários da causa animal.
Essas pessoas muitas vezes resgatam
animais nas ruas, em estado deplorável e cuidam deles com amor e carinho; levam-nos
ao veterinário e os reabilitam para adoções, que geralmente acontecem em
eventos destinados para isso.
A ativista de Taubaté-SP,
Rosangela Vegana Coelho, explica como começou o seu envolvimento com a causa
animal: “E ainda pequena eu já sentia uma ligação muito especial com os gatos,
o que mais tarde intuí ser uma devoção espiritual pela energia do gato e seu poder
de transmutação tão importante para a minha evolução espiritual. E assim, Poliana
Zumi entra em minha vida; uma gata retirada de um bueiro. E naquele instante,
em que a vi e toquei eu acessei o amor da forma mais bela possível. E criamos
intimidade e amizade. Meu amor por ela foi auxílio na percepção de que todos os
animais merecem e tem direito de ser respeitados”.
Rosangela com a gata Poliana Zumi: o despertar da compaixão
Mas muitos voluntários não
tem espaço para colocar animais em casa, então eles fazem rifas e bingos para
arrecadar dinheiro para ajudar nas contas dos protetores que resgatam: “Eu
ajudo os animais comprando, fazendo e divulgando rifas e com a venda dos meus
artesanatos. Sempre dou brindes para as protetoras fazerem rifas e bingos. Eu
também faço pedidos de doações de ração e conto com a ajuda de meu marido que é
meu braço direito e me apoia sempre”, comenta Paula Damilano, técnica de
laboratório e moradora de Taubaté-SP, no Vale do Paraíba paulista.
Gato Skoll no
momento da adoção, à esquerda, em 2014, e atualmente, à direita
O essencial para se ter um animal bem cuidado é tomar algumas
providencias veterinárias com eles e garantir a boa qualidade de vida.
A castração e a vacinação
são importantíssimas. A vacinação evita doenças muitas vezes fatais, e a
castração evita doenças nos machos como câncer de próstata, e em cadelas impede
a piometra, que é a inflamação do útero causada por infestação de bactérias.
Outro fator de extrema
importância associado à castração é o impedimento da proliferação de crias
indesejadas, o que evita ainda mais
abandono: “A única forma de controlar a
proliferação de animais de companhia é a castração. Fêmeas devem ser castradas
a partir dos três meses de vida, e machos a partir dos cinco meses de vida. A
importância da esterilização é grande, tendo em vista que cada fêmea dá uma média
de cinco filhotes por cria. No caso das cadelas são duas a três crias por ano.
As gatas, a cada três meses uma gestação; multiplicando esses números, chegamos
a um total muito grande de animais, muitos
abandonados , atropelados e envenenados”, explica a médica veterinária Heloisa
Marinho, de Taubaté-SP.
A veterinária
doutora Heloísa Marinho, durante trabalho voluntário com animais resgatados
após o rompimento da represa da Vale do Rio Doce, em Mariana-MG, no ano passado
(2015)
A adoção é uma forma de
ajudar animais. Eles muitas vezes são levados para eventos e as pessoas os
escolhem e adotam, porém, varias medidas são tomadas para evitar que esses
animais sofram novamente: “Pra você fazer uma adoção responsável, é preciso ter
em mente alguns requisitos: animal não é brinquedo e é como se fosse uma
criança. É necessário ter condições financeiras, pois um animal tem gastos como
ração de boa qualidade e sem corantes, água, vacinas em dia, vermífugos de 6 em
6 meses, banho, veterinário e brinquedos para sua qualidade de vida. Ter em
mente que todos da casa estão de acordo em adotar o animal e que o animal vai
destruir suas plantas, vai arranhar seu sofá, vai destruir seus sapatos e vai
encher suas roupas de pelos. Cães e gatos podem viver 15 anos ou mais e você
tem que se comprometer em cuidar dele todo esse tempo com muito amor e carinho.
Identificar seu animal com Plaquinha e, se possível, com chip de identificação.
Não deixar ter acesso nenhum à rua (no caso se tiver gatos colocar tela em todas suas
janelas e muro se for preciso). Nunca deixe eles darem uma voltinha pois, numa
dessas saídas, ele pode ir e nunca mais voltar ou se voltar pode estar correndo
risco de ser atropelado, pegar doenças, ser envenenado ou maltratado, enfim, nunca
maltrate ou abandone um animal”, explica Aline Meirelles, estudante.
A protetora de animais Aline Meirelles, de Taubaté-SP
Se interessou por animais? Quer ajudar os protetores? Procure uma associação ou ONG e faça a sua parte!
Muitos animais vivem por
toda a vida em pequenas celas nos centros de controle de zoonoses das cidades.
Adote! Não compre cães de reprodutores que exploram o sofrimento de fêmeas de
raça durante todas as suas vidas. O mundo não precisa de mais cães reproduzidos
em cativeiro; precisa sim de castração e adoção.
Cássio Ribeiro
Em Guaratinguetá-SP, também
no Vale do Paraíba paulista, a protetora e ativista da causa animal, Marilene
de Barros (conhecida como Lena), arrecada ração para gatos e, todos os dias sem
falta, faça chuva ou sol, vai à rodoviária da cidade e ao cemitério Nosso
Senhor dos Passos, no fim da tarde, para oferecer ração e água aos felinos que
vivem nesses dois locais de Guaratinguetá.
Marilene, à esquerda, observa
os gatos que vivem no Cemitério Nosso Senhor dos Passos, em Guaratinguetá-SP
A protetora conta
que todos os anos, no dia de finados, alguns familiares de pessoas sepultadas
no local se revoltam, chutam e levam embora vasilhas de água e ração em sinal
de protesto e indignação pelo fato dos cerca de 20 felinos viverem no local. Quem seriam os loucos?
A 101% Rock foi acompanhar o
trabalho voluntário da senhora Marilene de Barros em uma tarde no cemitério dos
Passos e tivemos uma surpresa. O resultado está na videorreportagem composta
pelos 4 vídeos abaixo:
Uma surpresa e o flagrante
O que o ativismo da proteção
animal representa para dona Lena de Barros
A mãe dos filhotes
fora do túmulo no momento em que saiu para dar uma volta, ...
e deitar-se, no
detalhe à esquerda, junto a outros gatos para descansar um pouco afastada das 5
pequenas crias que continuaram a aguardá-la dentro do túmulo
Marilena de
Barros (Lena): a ativista conta que alguns habitantes da cidade que não castram suas
gatas, ao tomarem conhecimento da gestação de suas felinas e saberem do
trabalho voluntário realizado pela protetora na rodoviária e no cemitério dos
Passos, ...
levam as crias e até mesmo as mães adultas e os abandonam nos referidos
locais da cidade. Quem seriam os loucos?
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Confira abaixo a entrevista
exclusiva com a ativista Rosangela Vegana Coelho, num bate papo sobre proteção
animal, veganismo e o entendimento da sociedade em geral com relação ao
ativismo da causa animal:
101% Rock: O que é ser ativista da proteção
animal para você e como você se sente desempenhando essa atividade na sociedade?
Rosangela:
O
termo seria ativista do Direito Animal porque implica em uma concepção ética de
que animais não humanos devem ser respeitados em sua identidade enquanto
espécie. Proteger é algo mais ligado a empatia, acolhimento...
Neste sentido, ser ativista
do Direito Animal é formatar minha vida de acordo com essa ética de que os
animais possuem direitos que nós devemos assegurar e respeitar. Isso não é
amor, é respeito. Para mim ser ativista é obrigação moral, posto que luto para
assegurar direitos de seres desprovidos de fala e que não podem fazer
reivindicações .
101% Rock: Como
vc percebe que a sociedade, no geral, ou as pessoas que não tem envolvimento
com a proteção animal veem a figura do ativista?
Rosangela:
Então,
eu desempenho as duas atividades, protetora de animais que usualmente é
conhecida como aqueles que resgatam e acolhem cães e gatos vítimas do abandono
e crueldade e desempenho uma função na sociedade como ativista que, como disse,
tem uma implicação ética fundamentada no direito dos animais de não serem
explorados e vistos como objetos à disposição humana...
A sociedade ainda não
está preparada para acolher a figura do ativista e somos vistos como
desocupados, arrogantes e radicais. Não, ninguém quer ver que a humanidade é
cruel com os animais e os tem subjugado, explorando-os para benefícios que,
para nós, não importa se são muitos ou poucos. Não, animais não existem para
suprir necessidades humanas, seja quais forem. Somos os chatos, os
indesejáveis, os loucos de uma causa perdida, ouço muito isso. Os ativistas são
muito atacados até mesmo por aqueles que protegem cães e gatos.
101% Rock: Como
a sua família (parentes próximos que vivem na sua casa e família no geral) veem
sua atividade como ativista na proteção animal?
Rosangela:
Essa
questão é delicada. Seria interessante fazer um entre aspas e colocar aqui
falas deles próprios ( risos). A minha
família, acredito, ainda não consegue acessar o que sou realmente, acho que
temem pela minha integridade física e psicológica. Não é fácil lidar com o
sofrimento dos animais o tempo todo e as pessoas se sentem mais confortáveis
com a superficialidade. Minha mãe, tenho certeza, queria que eu fosse
diferente, menos ventania (risos novamente), um pouco mais pacata e
domesticada. Meus parentes... aprendi a
não me importar com a opinião deles. É minha vida e é loucura ter que me
esforçar para agradar pessoas que são irrelevantes para mim. Luto por uma causa
nobre, são inocentes, se não conseguem tocar isso com respeito, prefiro ficar
distante e seguir meu caminho, meu Ofício Sagrado de Servir aos Animais.
101% Rock: Quando
você chega com mais um animal em casa, ou recebe mais um, como aquele filhote de
gato trazido recentemente pelas crianças, como seus familiares reagem a isso?
Rosangela: Quando uma pessoa
não se importa com nada além do seu próprio bem-estar é muito difícil entender
que é preciso acolher um gato ou um cachorro em situação de abandono. Nossa
espécie os domesticou e, assim, temos uma dívida imensa com eles, minimizar seu
sofrimento não paga essa dívida porque o ideal seria que retornassem à sua
condição primária, dentro de sua identidade de existência original.
101% Rock: O poder público ajuda de alguma
forma os ativistas em suas atividades de proteção animal? Doa remédios, ração,
arca com despesas de internação de animais?
Rosangela:
Não
posso responder por todos os protetores de cachorro e gato mas nunca recebi um
centavo do poder público para os animais que resgato. Todos os gastos são pagos com recursos
próprios, ajuda de amigos e eventos como rifas e bingos.
Três momentos na Câmara
Municipal de Taubaté-SP: acima, durante audiência pública pelo fim das carroças
e charretes na zona urbana de Taubaté, ...
expressando sua
opinião na tribuna da Câmara Municipal sobre o fim das carroças e charretes na
zona urbana de Taubaté e ...
dialogando com
vereadores no intervalo da sessão em busca de apoio para a causa animal
101% Rock: Falando um pouco sobre você e o veganismo agora, o
que é o veganismo e qual a diferença entre veganismo, vegetarianismo etc?
Rosangela:
É
muito difícil determinar o que é veganismo mas, basicamente, vegano é aquele
que tem uma alimentação estrita vegetariana, ou seja, livre de qualquer
componente de origem animal, como carnes, leites, ovos e mel. Além disso, não
usa nada que tenha origem animal como couro, seda, lã, produtos testados em
animais e produtos que contenham algum ingrediente de origem animal; o vegano
também não apoia e não participa de nenhuma atividade cujo animal é usado,
explorado e ferido em sua identidade cultural. Para mim, especificamente,
veganismo é a forma mais coerente de proteger e amar os animais. Vegetarianismo é normalmente designado
àqueles que se abstém de carnes mas consomem produtos e derivados animais.
101% Rock: Se
o feijão for preparado com um pedaço de bacon também não rola né? O
comprometimento do vegano em se abster de qualquer consumo com relação a
animais é total?
Rosangela:
Não
rola. Essa questão faz com que eu diga que não existe uma cartilha do vegano.
Veganismo é, antes de tudo, consciência, ou existe o comprometimento total ou
não existe veganismo. Não dá para ser vegano de segunda a sexta, por isso mesmo
não apoio campanhas como Segunda Sem Carne e Desafio 21 Dias Sem Carne.
101% Rock: Muitas
pessoas tornam-se veganas e continuam a comer produtos industrializados;
explica melhor isso?
Rosangela: Dois grandes
desafios: A questão da carne, leite e ovos é antes de tudo uma implicação
cultural e a dificuldade de quebrar paradigmas sustentados historicamente pela
comunidade médica. As pessoas estão habituadas a ter restos e partes de animais
sobre a mesa, sobre os pratos e dentro do estômago. Isso é normalidade para
elas, sem isso sentem-se menos pessoas. Nunca questionaram a comida que comem,
nunca discorreram acerca disso. Sempre foi assim e reproduzem essa herança.
Romper com isso é muito difícil para elas e quando começam a dar passos para a
dieta vegetariana estrita sentem uma falsa necessidade (não precisamos de
industrializados, a natureza nos dá tudo que precisamos de alimento) de
produtos cheios de químicas e aromatizados artificialmente. Não costumo
implicar com isso, mas tenho buscado outro caminho. Um retorno para a natureza,
reconciliação com a terra e com a Terra.
101% Rock: Com
a alimentação vegana que você pratica, alguma vez após algum exame o médico já
disse que havia alguma deficiência de nutrientes no seu corpo?
Rosangela:
Preciso
dizer que fujo dos médicos , que me perdoem alguns que são amigos. Faz anos que
não tenho resfriados, viroses e doenças comumente adquiridas pelas pessoas,
algumas até as tem como propriedade ( risos), alimentam-se mal, cigarros,
bebidas excessivas, compulsão alimentar... tudo isso e a falta de compaixão
tornam-se bomba no organismo. Bem, sou doadora de sangue, acho que está tudo
ok, mas considero importante sim um acompanhamento de um profissional na
transição para o veganismo. Os meus
últimos exames indicam que sou uma pessoa saudável.
101% Rock: Fale
um pouco sobre o livro que você está lendo atualmente – Galactolatria (Mau
Deleite).
Rosangela:
Galactolatria Mau Deleite traz um conteúdo riquíssimo sobre as realidades
escondidas pela indústria do leite. Nós precisamos crescer, leite é importante
somente nas fases iniciais de nossa vida terrena e quando digo leite não me
refiro ao que roubamos de outras espécies. A vaca não dá leite, ela é sempre
roubada mediante um crime de exploração e crueldade. Eu afirmo que há mais
morte e sofrimento em um copo de leite do que em um pedaço de carne, veja bem,
não digo que é melhor comer carnes e evitar o leite, mas é preciso que as
pessoas saibam que vacas são estupradas , inseminadas artificialmente, recebem
quantidades enormes de drogas (não há outra palavra que aponte o que os
hormônios causam em seu corpo), causando sérias infecções. Como se não bastasse
tudo isso, elas vivem presas em máquinas que são usadas para extrair leite que
deveria ser para seu filho. E os bezerros? Esses são retirados de suas mães
poucos dias após o nascimento e os machos são conduzidos para confinamentos
onde terão uma alimentação pobre de ferro, praticamente imobilizados para que
não desenvolvam músculos e suas carnes sejam brancas e rosadas para garantir a
gula vaidosa de humanos que adoram comer vitelo para celebrar momentos
especiais. O livro traz todas essas informações e muito além disso, a autora
Sonia T Felipe , doutora em Filosofia, apresenta um trabalho sério, tudo muito
bem amarrado tecnicamente, com todos os dados científicos existentes sobre o
assunto. Trata-se de um livro de estudo para quem age em benefício dos animais
não humanos mas também é para aqueles que querem tirar o véu da opressão e
negação de informações reais sobre a indústria sangrenta do leite.
101%
Rock: Qual a mensagem que você gostaria de deixar para as pessoas com relação
ao ativismo da proteção animal?
Rosangela:
Gostaria de acenar que nós não somos seres especiais ou espaciais. Somos humanos
que a partir de uma consciência mais ampla de compaixão e respeito pelos
animais, com coragem e ousadia, colocamos nossa vida, nossos conhecimentos e
racionalidade em favor daqueles que são explorados porque não são da nossa
espécie. Pessoalmente eu digo que exerço um ofício, o Ofício Sagrado de Servir
aos Animais, nesse sentido busco reconciliar animais e humanos através da
prática do amor, acolhendo e amparando esses que chamo de meus irmãos.
Parabéns a todos!!#Força e #Luz ♡♡♡♡
ResponderExcluirObrigado Renata.. Pra vc também..
ResponderExcluirEmocionante.
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