Um homem e o acúmulo de
animais vivos e mortos em uma casa com aspecto de total abandono. Cães e aves
expostos à situação de fome e sede até a morte. Lixo, cadáveres de animais e entulho
acumulados favorecendo a reprodução de pernilongos e a proliferação de variadas
doenças.
Esse foi o triste cenário
que três ativistas da proteção e da causa dos direitos animais de Taubaté-SP encontraram na última segunda-feira, 15 de fevereiro de
2016.
O leitor confere agora a
versão dessa realidade descrita em um relato com a emoção de quem esteve no
local e viu tudo de perto:
Rosangela Vegana Coelho
“De que ONG vocês são?”
Essa era a pergunta que imperava. Todos queriam saber quem eram as três
mulheres que passaram alguns dias articulando para salvar animais que viviam em
situação de extremos maus-tratos. A resposta: “mulheres independentes que
trazem garra e amor no coração.”
Renata
Ruiz, Paula Pereira e eu, somando forças com a brilhante Dra. Fernanda,
delegada do 2º Distrito Policial de Taubaté. A denúncia foi de que havia
diversos animais no local, sem comida, sem água e constatamos além: animais
presos em gaiolas, morrendo aos poucos (muitos encontramos mortos), por falta
de água e comida, sem poderem fugir pra tentar conseguir alimento.
Foi uma ação de protetores
independentes e ativistas, que contou com o apoio da Polícia Civil, Setor de
Postura da prefeitura de Taubaté-SP, Equipe de Combate à Dengue, CCZ (Centro de
Controle de Zoonoses de Taubaté-SP), Polícia Científica e a Advogada Paula
Gomes, Cristiano Freitas e algumas pessoas da vizinhança e, claro, a Luz do Sublime.
O trabalho em conjunto
resgatou 53 animais entre galinhas, pintinhos, patos e cães na cidade de
Taubaté-SP, no Vale do Paraíba paulista. Fomos informados de que animais estavam
morrendo presos em uma casa.
O responsável por eles não os alimentava como
deveria. O local era um verdadeiro cenário de terror com acúmulo de lixo, sujeira, entulhos, baratas, restos de
animais mortos por toda parte e cheiro insuportável.
Entramos na propriedade às
10hs da manhã do dia 15 de fevereiro de 2016, segunda-feira. Unidos conseguimos, em quase 8 horas de trabalho
intenso, exaustivo e difícil, resgatar 53 animais (49 aves – infelizmente uma morreu
– e 4 cães).
As aves ficarão sob minha
tutela provisória até que corra o processo. Os cães foram levados para o CCZ
(infelizmente não tínhamos para onde levar).
DETALHES DA AÇÃO:
("Não deixaremos nenhum
animal para trás!") Eu meditava essas palavras
em meu coração enquanto ajudava os outros a resgatar todas aquelas vítimas da
humanidade.
Foi um dia difícil e logo
no início encontramos uma galinha morrendo ali no chão, fraca, vítima de
extrema crueldade. E eu a peguei no colo e entre lágrimas cantei mantras, bem
baixinho, para que não despertasse as pessoas que estavam ali naquele local que
cheirava a dor e sofrimento, para executar uma tarefa, retirar os animais. E
ali, naquele instante, era ela e eu apenas e nos entrelaçamos na mesma dor
Eu sabia, e sentia, a morte estava nela e eu pedia perdão por não termos conseguido chegar antes, e assim me senti pequena, impotente. Entre lágrimas eu a afaguei e a encaminhei para o local onde todas as outras aves foram levadas. Ela resistiu até chegar no sítio, receber a energia de um lugar lindo, com aromas de amor e proteção...
e assim partiu
As aves não serão doadas.
Há muitas pessoas mandando mensagens querendo adotar e quando respondo que, se
elas estiverem disponíveis para adoção, irão para lares no mínimo vegetarianos,
algumas pessoas se ofendem.
Bem, eu jamais depositaria
a vida de tantos animais (em especial aves) em locais desconhecidos em que as
pessoas tem o infeliz hábito de comer carne.
Peço que não se ofendam;
isso é um critério para proteger esses animais que tanto já sofreram. Eles
estão em um lugar lindo, recebendo cuidados e amor, em um local de extrema
confiança minha.
As galinhas são muito significativas para mim, pois não fazem parte da lista de animais pelos quais a maioria das pessoas mantém compaixão, mas eu as amo e sofro quando as vejo mortas, assadas, girando naquelas máquinas em cada esquina que tem um bar, uma padaria.
Não! Não existe jeito certo
de matar quem não deseja morrer!
E nesse resgate isso ficou
muito evidente, o pavor delas de serem pegas, fugiam o mais que podiam, não
sabiam que estávamos lá para salvá-las e acreditavam que estávamos selecionando
quem iria para a panela. Quantas vezes elas viram isso acontecer?
Foi
tudo difícil para mim. A energia do local, o cheiro, e parece que ainda posso
ouvir e tocar o desespero de todos eles, os cães, as galinhas, os patos, os
pintinhos.
E no final quando ia dar
por encerrada a ação do resgate eu entrei para me certificar que nenhum animal
haviaficado para trás. E lá estava ela, uma galinha pequena, sozinha, no meio
da escuridão da incerteza, ela talvez acreditando que todos os seus irmãos
haviam sido mortos.
E quando notou minha
presença e a presença daqueles que entraram novamente comigo, ela se agitou,
gritou e num golpe de amor eu a agarrei para nunca mais soltar. Meu amor a
segurou e eu nunca me senti tão feliz de ter nas mãos um animal.
Ela foi a única que
consegui pegar sozinha, ela foi a última a sair e saiu no meu colo. Mas estará
sempre presente em minha alma, como um símbolo de que não descansarei até que a
última jaula esteja vazia. E assim, nenhum animal ficou para trás.
Algumas
pessoas questionaram sobre a veracidade da quantidade de aves. O documento
abaixo é para confirmar.
Soube
que o cachorro preto, o Negão, estava acorrentado fazia mais um de ano
Negão apresentava comportamento brabo e nenhum humano conseguia aproximar-se do cão, que foi levado para o (CCZ) Centro de Controle de Zoonoses de Taubaté-SP e mantinha-se de costas quando as pessoas tentavam se aproximar
A veterinária doutora Heloísa Marinho, de Taubaté, fez contato com o terapeuta comportamental e adestrador de cães Eduardo Santos, que se pôs à disposição para ajudar
Na primeira sessão com Eduardo, Negão já permitiu a aproximação ...
e o afago de pessoas
a reconciliação
Temos muito trabalho pela frente: recuperar as aves, conseguir lar para os cães quando for possível. Queremos muito conseguir lar para todos eles. Precisamos de ajuda.
Vamos
precisar de ajuda para manter esses animais, até que o processo seja concluído
(por favor, quem puder doar milho, ração, agradecemos muito). As aves (galinhas, patos, pintinhos, galos)
foram levados para um local seguro de extrema confiança minha, onde receberão
além de tudo, muito amor.
Foram retirados, além dos
animais, caminhões e mais caminhões de lixo e entulho. Não só os animais foram
salvos, mas pessoas também; um local com alto grau de foco de dengue e
proliferação de bactérias por conta de toda sujeira e dos diversos animais
mortos.
Até mesmo o causador de
tudo isso, um senhor, foi salvo da situação em que vivia; ele deve ter algum
distúrbio, e, creio, terá mais auxílio da família de agora em diante. Caso não
seja comprovada a insanidade mental, responderá na justiça conforme a Lei de
maus-tratos aos animais.
Ficamos extremamente cansadas, choramos, sorrimos, vibramos, lutamos! Conseguimos! 53 animais salvos da morte.
Que essa ação possa inspirar tantas outras pessoas para que não se omitam diante da crueldade praticada com nossos irmãos animais. Todo mundo pode agir, todo mundo pode ser ato.
Exausta, suja, mas com o coração cheio de esperança e gratidão, cumpri meu Ofício Sagrado de Servir aos Animais.
Que sejamos atos!
Que sejamos gratos!
Rosangela com integrantes da equipe que combate a reprodução do mosquito aedes aegypti em Taubaté-SP
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Confira abaixo o depoimento de outra ativista que participou da ação de ajuda e libertação dos animais:
Renata Ruiz
"Senti o coração
sangrando, fiquei desesperada tentando arrumar uma maneira de acabar com o
sofrimento de muitas vidas, seres que tão quanto nós tem Fome, sede, dor... eles
tem um coração batendo dentro do peito... Doeu tanto... Mais depois de horas de
tanta tristeza vem a satisfação e aquela sensação de NÃO ACREDITO, CONSEGUIMOS!
Renata com o Sr. Mário, do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Taubaté
Naquele dia, cada um fez um
pouco; aos poucos a alegria tomava o lugar da tristeza, pois ainda estávamos
ali, na "casa dos horrores". Havia corpos de animais mortos, centenas
de prisões (GAIOLAS), vestígios de sofrimento e o cenário era horrível, mas o
AMOR foi capaz de ali invadir e, ao longo desse resgate, sorrisos e risadas
passaram a fazer parte do resgate.
Mas senti por duas vezes de novo uma explosão de sentimentos. Minha amiga Rosangela Vegana Coelho com um dos animais em seu colo quase sem vida, e ela não aguentou, desmoronou por uns minutos; chorou, sofreu, e naquele momento mais uma vez ela me mostrou algo que existe em tão poucas pessoas, o amor! O mais puro que se pode sentir; o mesmo que vem de uma criança, o mesmo que vem de um animal.
Renata com um dos resgatados, o cão Negão, no dia em que o animal permitiu a aproximação de pessoas pela primeira vez, após a sessão inicial com o adestrador Eduardo Santos, de camiseta verde
Chorei por dentro, e
segurei o choro por fora. Por outro momento senti pena daquele que foi o
causador de tanta maldade; o vi ali. Fui até ele e acariciei as costas dele,
senti ele tão frágil, tão só, um senhor em pele e osso; falei com ele. Senti
tudo nesse resgate, mas os sentimentos que vieram à frente e que estão nesse momento
explodindo no meu coração são o AMOR e a GRATIDÃO!!