Por Cássio Ribeiro
“Jah está presente aqui. Jah vive aqui e agora.
Jah vive dentro e fora. Já está em tudo, mas nem tudo está em Jah”. O pequeno trecho é
uma parte da letra da música Selassie Vive, da banda brasileira de reggae Jah I
Ras, cujos integrantes vivem em uma comunidade rastafari localizada em
Itapecerica da Serra/SP.
Quem é Jah? Como surgiu a cultura rasta? O porquê
das longas tranças (dreads), e a relação com a Maconha. Essas e diversas outras
perguntas sobre o rastafarianismo serão respondidas neste trabalho.
Antes de viajarmos para a Jamaica da década de 1930, a fim de entendermos
as origens do Rastafari, será necessário começarmos nossa abordagem um pouco
antes, na Etiópia, um país pobre do norte da África.
Segundo a antiga tradição etíope, Makeda, a
Rainha de Sheba, visitou o Rei Salomão em Israel. Em uma interpretação de 1 Reis 10:13 do Velho Testamento do
Judaísmo: "E o Rei Salomão deu para
a Rainha de Sheba todo o seu desejo, tudo o que ela perguntou junto a ele.
Salomão lhe deu da sua generosidade real. Portanto ela virou e foi ao seu
próprio país, ela e os seus empregados."
Os rastafaris interpretam o verso acima como
sendo o relato de que o Rei Salomão teria engravidado e tido um filho com a
rainha Makeda. Isso seria uma evidência de que o povo africano seria mais um
povo originado de uma tribo inicial que era formada por filhos de Israel, ou
judeus.
O filho de salomão com Makeda, de acordo com as
tradições, era Menelik. A geração 225 depois de Menelik seria O etíope Haile
Selassie I (1872 – 1975). Selassie foi coroado pela Igreja Ortodoxa Etiópica
como Imperador da Etiópia, em 2 de novembro de 1930. O nome de Selassie antes
dele ser coroado já fazia alusão a um pré-reinado. Seu nome antes de tornar-se
imperador era Ras Tafari: (ras = cabeça, ou título etíope equivalente a Duque, e
Tafari = nome que designava seu futuro reinado). Selassie era o único imperador
e governante negro de toda África colonizada daqueles tempos, numa Etiópia
independente e livre. Governou a Etiópia de 1930 até 1974. Faleceu em 1975.
Para a cultura Rastafari, Haile Selassie seria Deus (Jah) encarnado, e lideraria o povo africano de todo o mundo em sua volta à pátria África (Sião ou Paraíso para eles). Selassie é chamado pelos rastafaris de Jah Rastafari, Jah Selassie ou Magestade Imperial
Bandeira imperial da Etiópia durante o reinado de Haile Selassie, que durou de 1930 até 1974. O leão representa o Leão da Tribo de Judá, numa alusão à ligação de Selassie com a linhagem de imperadores etíopes desde o primeiro filho da rainha Makeda com Salomão, o príncipe Menelik. O verde da bandeira representa a vegetação e a terra africana, o amarelo simboliza a riqueza do continente e, o vermelho, trata-se do sangue do sofrido povo africano
As bases inspiradoras para o desenvolvimento da
cultura Rastafari são as histórias da Etiópia Antiga e a figura de Haile
Selassie, apresentas acima.
O Rastafari surge na Jamaica, uma ilha do Caribe
bem longe da africana Etiópia. Na década de 1930, o jamaicano Marcus Garvey teria realizado uma revelação
profética, segundo a qual era necessário que todos os negros que foram
espalhados pelo mundo devido ao comércio dos tempos de escravidão, deveriam
voltar para sua pátria natal, a África. "Atrás à África" era o termo
empregado.
O jamaicano Marcus Garvey, autor da profética revelação que originou o Rastafarianismo
Bandeira da Jamaica, cujo verde e o
amarelo tem o mesmo significado da bandeira da Etiópia. Já a cor negra,
representa o povo afro-descendente
Essa revelação, associada a uma foto de Haile
Selassie I vestido de guerreiro circulou pelas favelas da capital da Jamaica,
Kingston, junto com um artigo de jornal que afirmava que Selassie era o mentor
da Ordem Nyahbinghi, que seria uma sociedade
secreta africana comprometida em acabar com a dominação colonial branca.
Tais acontecimentos foram
as causas do surgimento da cultura Rastafari numa Jamaica da década de 30, onde
a maioria da população era católica e 98% dos habitantes eram descendentes de
escravos negros africanos.
Para os Rastafaris, o
Deus do velho testamento do Judaísmo é chamado de Jah. É curioso notar que Jah
do Rastafarianismo, Jeová do Velho testamento do Judaísmo e Allah dos muçulmanos são o mesmo Deus, adorado por culturas diferentes e de formas diferentes.
O Rastafarianismo prega
que a África (também chamada de Zion) foi o verdadeiro berço da humanidade e
que todos os negros deveriam voltar para a sua pátria, o que caracteriza a
presença marcante do afrocentrismo e da busca pela criação de uma África
formando um só país, na qual o Pan-africanismo seria posto em prática.
A capital desse reino
africano único seria a “Nova Jerusalém", e ficaria na Etiópia. Tal teoria se
apega aos
versos proféticos da Bíblia Hebraica em Sofonias
3:1: "De Além dos rios da Etiópia os meus adoradores, a filha dos meus
dispersados, trarão o meu oferecimento."
Rastafari da pequena Ilha de Barbados, que também fica no Caribe
O Rastafari pode ser definido ao mesmo tempo como uma religião, uma ideologia e um movimento. Muitos rastas afirmam que a prática não se trata de uma religião em absoluto, mas um “caminho para a vida”.
Para os rastas, Jah tem a
forma da tríade sagrada (Pai, filho e Espírito Sagrado), e está em todo ser
humano por meio do Espírito Sagrado. Por isso que os rastas se referem a eles
como “Eu e Eu”, no lugar de “nós”, acentuando também dessa forma a igualdade do
povo.
No
Rastafari, o resto da sociedade de fora do rasta é chamada de Babilônia. Para eles,
desde a ascensão de Roma, teria a Babilônia representado a divindade com
aspecto racial branco durante séculos para promover sua atividade predatória
colonial e, ao mesmo tempo, ser racista, dominando e agredindo o povo africano
com o comércio de escravos no Oceano Atlântico.
As comunidades rastafari
são muitas vezes chamadas por seus integrantes de Sião, numa alusão ao paraíso
apresentado nos textos bíblicos.
Os rastas seguem as leis
alimentares do Velho Testamento da Bíblia. Em geral, são vegetarianos e, quando
muito, comem apenas carne de peixe como único alimento provido de algo morto. A
cozinha rastafari é repleta de verduras naturais e frutas como o coco e a
manga, e dispensa os alimentos processados e com conservantes. O álcool também
é evitado, pois para eles teria sido uma criação da Babilônia para confundir os
rastas.
As longas tranças ou
“dreads” que os rastas usam são outra aproximação ideológica com os costumes
descritos no Velho Testamento judeu e cristão. O próprio Sansão teria cultivado
7 dreads ou tranças.
Outra prática marcante na
cultura rastafari é o uso espiritual da Maconha na liturgia religiosa. Para
eles, a Maconha seria um sacramento que limpa o corpo e a mente, cura a alma,
exalta a consciência, facilita o sossego, traz o prazer e os coloca mais perto
a Jah.
Sendo assim, para a
cultura Rastafari, a Maconha trata-se de uma erva sagrada ou santa, santidade
essa que teria sido concedida pelo próprio Jah no momento que criou a Maconha.
Os rastas afirmam que a ilegalidade da Maconha em muitos países é uma
confirmação da perseguição que a cultura rastafari sofre por parte da
Babilônia.
Baseados em Gênesis 1:11:"E o Deus disse, deixado a terra traz adiante a grama, a erva que produz
semente, e a árvore de fruto que produz fruto depois da sua espécie, cuja
semente é em si mesmo, sobre a terra: e foi assim", os rastas buscam
uma legitimação religiosa para o uso sacro da Maconha.
No Rastafari, a
etimologia da palavra "Maconha" e termos semelhantes usados em todas
as línguas do Oriente Próximo podem ser originados no hebreu "qaneh
bosm" (נה שם), que designa uma das ervas que Jah ordenou a Moisés
incluir na sua preparação do perfume sagrado que unta em Êxodo 30:23. O termo
hebraico "qaneh bosm" também aparece em Isaias 43:24; Jeremias 6:20 e
Ezequiel 27:19.
Também criado na Jamaica ainda na primeira metade do século passado, o Reggae através de sua música, seu ritmo e seus versos, foi o principal propagador e divulgador da cultura Rastafari em todo o mundo. O cantor jamaicano Bob Marley é até hoje, desde a década de 1970, a mais conhecida figura do Reggae em todo o mundo.
Bob
Marley (1945–1981), o principal símbolo artístico do Reggae jamaicano e da divulgação do Rastafari em todo o mundo
Quando o Imperador Haile Selassie morreu, em 1975, a reação dos
rastafaris foi melhor expressada na canção Jah Live! (Jah Vivo!) de Bob Marley,
que declara: “O Deus não pode morrer”. A canção pode ser ouvida abaixo
O Reggae nasceu entre negros pobres de
Trenchtown, que é o principal gueto de Kingston, na Jamaica. Na ocasião, muitos
músicos rastas locais influenciados pelo Jazz tocado em rádios americanas que
eram sintonizadas na Jamaica, misturaram este e alguns outros ritmos de fora
com música original jamaicana. Assim nasceu o Reggae.
Outros músicos famosos do Reggae com forte
orientação Rastafari presente nas suas músicas são Peter Tosh, Freddie
McGregor, Príncipe Lincoln Thompson, Coelho Wailer, Príncipe Adrian Nones,
Cornell Campbell, Dennis Brown e muitos outros.
No Brasil, algumas
manifestações plenas da cultura Rastafari são marcantes. Em Itapecerica da Serra/SP,
há uma comunidade Rastafari chamada Santa Maria de Sião. Nela, vive a banda
brasileira de Reggae Jah I Ras, que além de cantar a religião e a cultura Rastafari
em suas letras, também vive de acordo com as doutrinas existenciais do
rastafarianismo.
Abaixo, o leitor pode
conferir com a banda Jah I Ras um pouco da expressão cultural Rastafari
praticada no Brasil.
Ao centro, a becking vocal Sistah Palloma e Ras Kahdu, líder da banda Jah I Ras: "Não temos como objetivo estar presentes na mídia ou
despertar interesses e ganhar dinheiro. Nossa intenção é mostrar o que é o
rastafari", diz a banda.
Jah I Ras
Embora a comunidade Rastafari
da Banda Jah I Ras fique em Itapecerica da Serra, a primeira igreja Rastafari
do Brasil fica na cidade de Americana, no interior de SP, com o pomposo nome de
Primeira Igreja Niubingui Etíope Coptic de Sião. No vídeo abaixo, o leitor pode
conhecer melhor a congregação.
A Igreja Rastafari de
Americana já foi invadida algumas vezes. Na última, Ras Geraldinho foi levado
pelas autoridades.
Atualmente, o líder
Rastafari está preso na Cadeia Pública de Americana. Como é ativista e bem
politizado, além de possuir excelente relacionamento social onde se encontra,
Ras Geraldinho foi voluntário para dar aulas de informática aos outros presos
na Cadeia de Americana. Seu julgamento será realizado no próximo dia 29 de
novembro.
O próprio Ras Geraldinho
relata como foi uma das invasões: “Eles vem fazer a batida, eles vem gravando. O
cara é policial e vira diretor de cinema. Eu abri o portão da Igreja e fui
recebido com uma automática na minha testa velho”, afirma Ras Geraldinho.
A lei brasileira ainda
não prevê o uso religioso da Maconha. Já o Chá Ayahuasca (Santo Daime) é
permitido por lei atualmente, embora já tenha sido proibido pela lei em duas
ocasiões no Brasil.
Para saber um pouco mais sobre Geraldinho, o leitor pode acessar dois blogs mantidos pelo Ras, que são:
e
Na própria Jamaica, a cultura Rastafari em seu início
já foi discriminada. Os Rastas eram vistos sem qualquer status social, até
porque em sua maioria viviam em condições paupérrimas nas favelas jamaicanas.
Só em 1960, a Universidade de
West Indies patrocinou uma reportagem sobre o movimento Rastafari e sua relação
com a sociedade jamaicana em
geral. Tal reportagem foi o resultado de um pedido por parte
da comunidade Rasta que se queixava da perseguição policial e da desinformação
pública sobre o movimento.
Embora tal reportagem
tenha divulgado o Rasta e ajudado a
diminuir o preconceito jamaicano com relação a tal cultura, a maioria da
população da Jamaica ainda é cristã.
Em 1997, chegou-se a
estimativa de que 1 milhão de rastafaris vivessem no mundo inteiro. No censo
jamaicano de 2001, foram contabilizados cerca de 24020 rastafaris no país,
menos de 1% da população na época. Outras fontes afirmam que nos anos 2000 os
rastafaris formassem 5% da população jamaicana. Outra estimativa é a de que há
pelo menos 100 mil rastafaris naquele país caribenho no qual o Rastafari teve origem.
olha eu acho que deveria ser mais respeitado nao so o movimento assim como oficialir se a religiao pois sou adepto ao movimento mas pouco tenho conseguido ajudar a avançar tudo issoaqui em salvador/ ba pois a maioria das pessoas que se intitula rasta na sua maioria pensa em se drogar e viver sem direçao o q. pnso eu q esta longe da vontade de jah e pelo pouco q.sei a vontade de jah e um ser um tanto indepndente com profissionalidade p/viver respeitando uns aos outros conheço o mivimento desde 1984 quando rsolvi participar de muitas reunioes. ok?mas se apopulaçao se organizassem seria otimo pelo menos algums comportamentos eu sigopelo pouco q.li no folheto que dizia rastafarianismo usos e costumes la em haile selacie. no inicio da historia. de qualquer forma eu gostaria de conseguir uma biblia do templo rastafari jamaicano ok?nyl trasta salvador]ba rua petrolina nr. 85 e Piraja cep 41 297 410
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