Por Cássio Ribeiro
Depois de seu primeiro capítulo, em 23 de outubro de 1906, quando nosso Santos Dumond realizou o primeiro vôo com o 14-Bis nos Campos de Bagatelle, na França, a história da aviação sempre foi pontuada por episódios catastróficos.
No meio da década
de 1930, a corrida espacial que hoje é configurada por uma ‘maratona’
rumo a Marte, era representada pela competição da indústria de
construção de balões dirigíveis. Nessa disputa, a Alemanha Nazista de
Adolf Hitler levava a melhor graças à companhia Zeppelin, que ficava
localizada na cidade de Frankfurt, e garantia à Alemanha daqueles tempos
total supremacia na tecnologia do uso de gases mais leves que o ar.
Neste contexto, o dirigível Zeppelin
Hindenburg era o principal representante da excelência do
desenvolvimento científico do Terceiro Reich Alemão. Com 245 metros de
comprimento, 30 metros de diâmetro e capacidade para transportar 112
toneladas, o Hindenburg era o maior de todos os dirigíveis já
construídos, e a primeira aeronave transatlântica para transporte de
passageiros.
O imponente Hindenburg ...
representava a supremacia do trasporte aéreo alemão na década de 1930
Comparação entre o Hindenburg e um Boeing 747 atual
Hangar
construído no Rio de Janeiro para abrigar o Hindenburg em suas viagens
ao Brasil na década de 30. Com 274 metros de comprimento, 58 metros de
altura e 58 metros de largura, a construção seguiu as instruções de um
imenso kit enviado pelos alemães ao Brasil ...
Atualmente,
a gigantesca construção pertence à Base Aérea de Santa Cruz, no RJ, e
abriga os aviões do 1º Grupo de Aviação de Caça, o tradicional Esquadrão
'Senta A Pua!' da Força Aérea Brasileira, que, curiosanmente, lutou junto aos aliados em batalhas aéreas contra a Alemanha Nazista no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O hangar é o único exemplar para
dirigíveis ainda existente no mundo. Os outros dois hangares construídos
para o Hindenburg ficavam na Alemanha e nos Estados Unidos, mas já foram demolidos.
O Hindenburg inaugurou o serviço de
viagem aérea transatlântica em 1936, fazendo 10 vôos de ida e volta
entre a Alemanha e os Estados Unidos. Em 1937, a temporada de transporte
de passageiros sobre o Atlântico começou na noite de 3 de maio, com a
decolagem do Hindenburg em Frankfurt.
Na ocasião, embarcaram 61
tripulantes e 36 passageiros que pagaram 400 dólares, cada um, pela
luxuosa viagem com previsão de término 3 dias depois, em Nova Jersey,
Estados Unidos, na manhã do dia 6 de maio.
Em plena década de 1930, os passageiros podiam usufruir ...
do grande luxo oferecido nas dependências do Hindenburg ...
além de poderem contemplar a explendorosa vista durante as viagens
A viagem foi
tranquila até que o Hindenburg, já no meio da travessia do Oceano
Atlântico a caminho dos Estado Unidos, começou a enfrentar ventos fortes
e contrários vindos do oeste para o leste.
A tripulação precisou
desviar a rota mais para o norte, voando agora sobre as geladas águas do Atlântico repletas de icebergs naquela região, o mesmo cenário que fez o
desventurado navio Titanic sucumbir e repousar a cerca de 3 mil metros,
naquelas frias profundezas do Atlântico.
Além
da semelhança das rotas percorridas, o Hindenburg, com o tamanho de
cerca de dois campos de futebol, apresentava quase a mesma envergadura
que o Titanic. A diferença estava na locomoção pelo ar, que
possibilitava aos passageiros um espetáculo de contemplação dos enormes
icebergs.
O Sol projetava a sombra do Zeppelin no mar. Tal sombra parecia ir direto de encontro aos icebergs. A impressão era a de que o Hindenburg colidiria de frente, assim como o Titanic, com os imensos e pontiagudos blocos de gelo.
O desvio da
rota pelo norte atrasou a viagem em 8 horas, e o Hindenburg, mesmo a uma
velocidade média de 110km/h, não chegaria mais aos Estados Unidos
naquela manhã de 6 de maio de 1937.
Apesar
de serem os mais eficientes dirigíveis daqueles tempos, os Zeppelins
alemães apresentavam uma significativa e perigosa falha de segurança,
pois dependiam do explosivo gás hidrogênio para flutuarem.
Já os Norte-americanos, embora bem atrás dos alemães na eficiência da
fabricação de dirigíveis, faziam uso e monopolizavam a tecnologia de
fabricação do gás hélio, não tão perigoso como o hidrogênio usado pelos
alemães, por não ser inflamável. Uma lei norte-americana de 1925 proibia
a venda de gás hélio para as potências estrangeiras.
Acima
e em volta da cabeça dos tripulantes e dos passageiros do Hindenburg,
havia 200 mil metros cúbicos do perigoso gás hidrogênio. O Zeppelim na
verdade era uma imensa bomba voadora.
Um
dos passageiros abordo do Hindenburg na viagem de maio de 1937 era o
alemão Fritz Erdman, oficial e espião da Luft Waffe (Força Aérea da
Alemanha Nazista). Fritz estava apreensivo durante a viagem, pois pouco
antes do início do vôo, o embaixador alemão nos Estados Unidos recebeu
uma carta que afirmava haver um plano para destruir o Zepelim
Hindenburg. Eis o texto da carta:
"Por favor, avisem à Companhia Zeppelin em Frankfurt para abrir e verificar toda a correspondência antes de embarcá-la no próximo vôo do Zeppelin Hindenburg. O Zeppelin será destruído por uma bomba-relógio".
"Por favor, avisem à Companhia Zeppelin em Frankfurt para abrir e verificar toda a correspondência antes de embarcá-la no próximo vôo do Zeppelin Hindenburg. O Zeppelin será destruído por uma bomba-relógio".
A carta foi escrita por uma psicótica da cidade americana de Milwaukee, mas a ameaça de sabotagem foi levada a sério, já que o Hindenburg, por ser o símbolo da supremacia aérea alemã naqueles tempos, e o orgulho da frota de dirigíveis germânicos, era também um alvo potencial para os sabotadores que se opunham ao Terceiro Reich Alemão.
Na manhã do dia 6 de maio de 1937, dia da chegada do Hindenburg nos Estados Unidos, o comandante da base aérea da marinha americana em Lakehurst, Nova Jersey, rebebeu a notícia de que uma forte tempestade com trovões e raios havia começado no norte. A previsão era de que o mau tempo continuaria por todo o dia.
No Hindenburg, o almoço foi servido mais cedo, a fim de que a chegada aos Estados Unidos pudesse ser apreciada pelos passageiros. O Zeppelin causava tremendo alvoroço onde quer que chegasse, pois sendo o primeiro dirigível transatlântico já fabricado, sua presença envolvia enorme publicidade e interesse do público.
Eram exatamente 15h, e o Hindenburg começava a sobrevoar o céu de Nova Iorque. Lojas e escritórios ficaram vazios e o trânsito parado; a tripulação conduziu o Hindenburg rumo a Times Square, onde uma multidão se aglomerava na rua. Pequenos aviões com observadores e repórteres voavam próximos ao Zeppelin.
Registro da chegada a Nova Iorque ...
e ilustração com o Hindenburg no céu dos Estados Unidos
Na base aérea em
Nova Jersey, local do pouso, relâmpagos eram vistos não muito longe. O
céu estava fechado e o tempo continuavam ruim. O perigo das condições
eletrostáticas desfavoráveis obrigaram o fechamento das fábricas de pneu
próximas a Nova Jersey.
Depois
de quase meia hora sobrevoando Nova Iorque sob a mira de olhares e
flashs fotográficos, o Hindenburg atravessou o Rio Hudson e seguiu para
seu destino final, em Nova Jersey.
A
aterrissagem de um dirigível era o momento mais perigoso do vôo e,
preferencialmente, acontecia ao amanhecer, quando os ventos são
geralmente mais calmos. Um pouso do Hindenburg necessitava de centenas
de pessoas em terra, na chamada equipe de solo.
Os cabos de aterrissagem eram jogados do dirigível para a equipe de solo, que os puxava até a presilha localizada no bico do dirigível ser conectada e fixada ao mastro de atracação. Um vento lateral repentino podia fazer o Zeppelin subir novamente.
Em algumas ocasiões, componentes da equipe de solo permaneciam agarrados às cordas e eram arrastados para cima. Quando não agüentavam mais, soltavam as cordas e despencavam dezenas de metros numa queda fatal.
Eram 16h e o Hindenburg finalmente chegava à Base Aérea Lakehurst. Fez um rápido sobrevôo e tomou o rumo do mar para evitar a tempestade. Agora, são 17h, e uma multidão está reunida ao redor da Base. A equipe de solo está pronta no local de atracação, mas o Hindenburg, a alguns quilômetros dali, sobrevoa o mar perto de Atlantic City, como que se esquivando da tempestade.
Os cabos de aterrissagem eram jogados do dirigível para a equipe de solo, que os puxava até a presilha localizada no bico do dirigível ser conectada e fixada ao mastro de atracação. Um vento lateral repentino podia fazer o Zeppelin subir novamente.
Em algumas ocasiões, componentes da equipe de solo permaneciam agarrados às cordas e eram arrastados para cima. Quando não agüentavam mais, soltavam as cordas e despencavam dezenas de metros numa queda fatal.
Eram 16h e o Hindenburg finalmente chegava à Base Aérea Lakehurst. Fez um rápido sobrevôo e tomou o rumo do mar para evitar a tempestade. Agora, são 17h, e uma multidão está reunida ao redor da Base. A equipe de solo está pronta no local de atracação, mas o Hindenburg, a alguns quilômetros dali, sobrevoa o mar perto de Atlantic City, como que se esquivando da tempestade.
O relógio já marca 17h55 e começa a chover forte sobre a Base. O aguaceiro dura cerca de 15 minutos e vai embora de repente, da mesma forma como havia chegado. A equipe de solo e os espectadores estão encharcados.
Apesar das condições de pouso serem desfavoráveis, a direção do vento estar instável e trovões serem ouvidos ao longe; às 18h20, o comandante da Base Aérea de Lakehurst, Charles Rosental, toma uma decisão e dá a seguinte ordem: "Recomendação de pouso imediato!"
O Hindenburg estava a 22 quilômetros da Base Aérea de Lakehurst quando recebeu o aviso para pousar, e rumou novamente para o local de sua chegada. O operador de rádio do Zeppelin enviou então uma mensagem para a Alemanha: "Preparar para o pouso. Tempo ruim". A mensagem chegou a Hamburgo e foi passada de forma equivocada para Frankfurt: "O Hindenburg Aterrissou".
Agora já são 19h20 e o Dirigível está novamente sobrevoando a Base. Vem do norte e, imponente, aproxima-se do mastro de atracação. A expectativa é grande entre os presentes e o Hindenburg vem sereno, diminuindo sua velocidade.
Os cabos de atracação são lançados do Hindenburg de uma altura de 60 metros para a equipe de solo, que se posiciona e segura os cabos, começando a conduzir o bico do dirigível na direção do mastro de atracação.
Começa
a chover forte novamente. A equipe de solo recolhe o Dirigível
enfrentando muita dificuldade para equilibrar-se no terreno encharcado.
De repente, um vento forte faz o Hindenburg subir novamente sem
controle, e o Zeppelin fica solto no céu.
Num instante, algumas
labaredas são avistadas na parte traseira esquerda do dirigível, que
parece estar mais pesada que a frente. Há uma explosão e os 200 mil
metros cúbicos de hidrogênio do Hindenburg começam a inflamar
terrivelmente. As chamas vão aumentando e aumentando cada vez mais, e já
consomem a metade traseira do Zeppelin.
Instantes
após a explosão, as chamas começaram a consumir o Hindenburg
rapidamente. Abaixo, à direita do plano da foto, o mastro de atracação
pode ser observado bem longe do Dirigível
A pressão do hidrogênio vazando
inflamado impulsionou o Zepelim à frente, como um foguete sobre a
multidão que corria apavorada e em desespero. O Hindenburg se manteve
aprumado até o momento em que as chamas chegaram ao bico. O dirigível
finalmente caiu longe do mastro de atracação, com a cauda atingindo
primeiro o solo, e o bico ainda erguido em chamas.
A queda final do Hindenburg
Já no chão, o Hindenburg emitia muita
fumaça negra e ainda havia chamas em vários pontos. A equipe de salvamento
se apressou para socorrer as pessoas abordo do Zeppelin, que ainda fumegava
sobre suas cabeças, reduzido apenas a ferros retorcidos que sobraram de sua grandiosa
estrutura.
Momentos finais do imponente dirigível ...
e os restos de sua estrurura metálica ainda fumegando
Das 97 pessoas que estavam a bordo, 35
morreram. O espião nazista Fritz Erdman foi uma delas. Um integrante da
equipe de solo também morreu. Sob rumores de sabotagem, três
investigações foram iniciadas mas nada foi provado. Chegava ao fim,
dessa trágica forma, os tempos áureos das luxuosas viagens em
dirigíveis. Os aviões roubariam a cena a partir de então.
No vídeo abaixo, o leitor pode ver como foram os momentos finais do Hindenburg.
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