terça-feira, 30 de outubro de 2012

ÚLTIMA EDIÇÃO DO JORNAL DA TARDE É PUBLICADA






Por Cássio Ribeiro


A edição impressa do Jornal da Tarde circulou pela última vez em 31 de outubro. A empresa de comunicação Grupo Estado pretende investir mais em seu principal veículo, o jornal O Estado de São Paulo.

Os investimentos, que até 31 de outubro eram canalizados ao Jornal da Tarde, passarão a ser direcionados para a mídia virtual, ou seja, as páginas do Estadão na Internet (digital, áudio, vídeo e mobile). Os classificados que eram publicados no encarte Jornal do Carro continuarão sendo publicados como um caderno especial no jornal Estadão versão impressa.

Podemos dizer que há algum tempo observamos uma sucessão na liderança das mídias, da mesma forma como aconteceu com a mudança da liderança que era do rádio para a TV

O jornal impresso, com suas capas nas bancas às segundas-feiras exibindo a foto do gol de domingo, dá lugar a uma publicação na Internet alguns segundos depois do lance. Nem a TV consegue ser tão rápida e tão abrangente ao mesmo tempo.

A Internet representa um mundo único, e total, pois seu alcance não tem limites na superfície da Terra em termos de agilidade da informação. Sai o Jornal da Tarde de circulação; entra ele para a história da Comunicação Brasileira.


JT >>>>> UM MARCO NA RESISTÊNCIA À CENSURA DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA (1964-1985). A primeira briga com o governo veio já no primeiro ano de vida do Jornal, que culminou com uma manchete que escancarava uma ameaça de censura, em 23 de dezembro de 1966: "Ditador quer calar a Imprensa". Dois anos depois o governo quis impedir o jornal de publicar matéria sobre a crise no Congresso Nacional que culminaria no AI-5, o que foi rechaçado por telefone pelo diretor Ruy Mesquita, gerando reação da Polícia Federal, que bloqueou a saída do jornal pela Rua Major Quedinho. O jornal seguia sendo impresso, mas os agentes diziam: "Pode rodar, mas distribuir não vai." Pouco depois eles descobriram que o jornal estava nas bancas, e o próprio general Sílvio Corrêa de Andrade, chefe da DPF, saiu para recolher nas bancas os exemplares, que estavam saindo pela Rua Martins Fontes, oposta à Major Quedinho, por outra esteira. (FONTE Wikipédia).
 

domingo, 28 de outubro de 2012

A ÚLTIMA VIAGEM DO ZEPPELIN HINDENBURG






Por Cássio Ribeiro


Depois de seu primeiro capítulo, em 23 de outubro de 1906, quando nosso Santos Dumond realizou o primeiro vôo com o 14-Bis nos Campos de Bagatelle, na França, a história da aviação sempre foi pontuada por episódios catastróficos.




No meio da década de 1930, a corrida espacial que hoje é configurada por uma ‘maratona’ rumo a Marte, era representada pela competição da indústria de construção de balões dirigíveis. Nessa disputa, a Alemanha Nazista de Adolf Hitler levava a melhor graças à companhia Zeppelin, que ficava localizada na cidade de Frankfurt, e garantia à Alemanha daqueles tempos total supremacia na tecnologia do uso de gases mais leves que o ar.

Neste contexto, o dirigível Zeppelin Hindenburg era o principal representante da excelência do desenvolvimento científico do Terceiro Reich Alemão. Com 245 metros de comprimento, 30 metros de diâmetro e capacidade para transportar 112 toneladas, o Hindenburg era o maior de todos os dirigíveis já construídos, e a primeira aeronave transatlântica para transporte de passageiros.


 O imponente Hindenburg ...







representava a supremacia do trasporte aéreo alemão na década de 1930




Comparação entre o Hindenburg e um Boeing 747 atual




 Hangar construído no Rio de Janeiro para abrigar o Hindenburg em suas viagens ao Brasil na década de 30. Com 274 metros de comprimento, 58 metros de altura e 58 metros de largura, a construção seguiu as instruções de um imenso kit enviado pelos alemães ao Brasil ...





 Atualmente, a gigantesca construção pertence à Base Aérea de Santa Cruz, no RJ, e abriga os aviões do 1º Grupo de Aviação de Caça, o tradicional Esquadrão 'Senta A Pua!' da Força Aérea Brasileira, que, curiosanmente, lutou junto aos aliados em batalhas aéreas contra a Alemanha Nazista no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). O hangar é o único exemplar para dirigíveis ainda existente no mundo. Os outros dois hangares construídos para o Hindenburg ficavam na Alemanha e nos Estados Unidos, mas já foram demolidos.




O Hindenburg inaugurou o serviço de viagem aérea transatlântica em 1936, fazendo 10 vôos de ida e volta entre a Alemanha e os Estados Unidos. Em 1937, a temporada de transporte de passageiros sobre o Atlântico começou na noite de 3 de maio, com a decolagem do Hindenburg em Frankfurt. 



Na ocasião, embarcaram 61 tripulantes e 36 passageiros que pagaram 400 dólares, cada um, pela luxuosa viagem com previsão de término 3 dias depois, em Nova Jersey, Estados Unidos, na manhã do dia 6 de maio.



  Em plena década de 1930, os passageiros podiam usufruir ...



do grande luxo oferecido nas dependências do Hindenburg ...



 além de poderem contemplar a explendorosa vista durante as viagens



A viagem foi tranquila até que o Hindenburg, já no meio da travessia do Oceano Atlântico a caminho dos Estado Unidos, começou a enfrentar ventos fortes e contrários vindos do oeste para o leste.

 A tripulação precisou desviar a rota mais para o norte, voando agora sobre as geladas águas do Atlântico repletas de icebergs naquela região, o mesmo cenário que fez o desventurado navio Titanic sucumbir e repousar a cerca de 3 mil metros, naquelas frias profundezas do Atlântico.

 
Além da semelhança das rotas percorridas, o Hindenburg, com o tamanho de cerca de dois campos de futebol, apresentava quase a mesma envergadura que o Titanic. A diferença estava na locomoção pelo ar, que possibilitava aos passageiros um espetáculo de contemplação dos enormes icebergs.



O Sol projetava a sombra do Zeppelin no mar. Tal sombra parecia ir direto de encontro aos icebergs. A impressão era a de que o Hindenburg colidiria de frente, assim como o Titanic, com os imensos e pontiagudos blocos de gelo.

 
O desvio da rota pelo norte atrasou a viagem em 8 horas, e o Hindenburg, mesmo a uma velocidade média de 110km/h, não chegaria mais aos Estados Unidos naquela manhã de 6 de maio de 1937.


 
Apesar de serem os mais eficientes dirigíveis daqueles tempos, os Zeppelins alemães apresentavam uma significativa e perigosa falha de segurança, pois dependiam do explosivo gás hidrogênio para flutuarem. 


Já os Norte-americanos, embora bem atrás dos alemães na eficiência da fabricação de dirigíveis, faziam uso e monopolizavam a tecnologia de fabricação do gás hélio, não tão perigoso como o hidrogênio usado pelos alemães, por não ser inflamável. Uma lei norte-americana de 1925 proibia a venda de gás hélio para as potências estrangeiras.


 
Acima e em volta da cabeça dos tripulantes e dos passageiros do Hindenburg, havia 200 mil metros cúbicos do perigoso gás hidrogênio. O Zeppelim na verdade era uma imensa bomba voadora.

 
Um dos passageiros abordo do Hindenburg na viagem de maio de 1937 era o alemão Fritz Erdman, oficial e espião da Luft Waffe (Força Aérea da Alemanha Nazista). Fritz estava apreensivo durante a viagem, pois pouco antes do início do vôo, o embaixador alemão nos Estados Unidos recebeu uma carta que afirmava haver um plano para destruir o Zepelim Hindenburg. Eis o texto da carta:
 


"Por favor, avisem à Companhia Zeppelin em Frankfurt para abrir e verificar toda a correspondência antes de embarcá-la no próximo vôo do Zeppelin Hindenburg. O Zeppelin será destruído por uma bomba-relógio".


A carta foi escrita por uma psicótica da cidade americana de Milwaukee, mas a ameaça de sabotagem foi levada a sério, já que o Hindenburg, por ser o símbolo da supremacia aérea alemã naqueles tempos, e o orgulho da frota de dirigíveis germânicos, era também um alvo potencial para os sabotadores que se opunham ao Terceiro Reich Alemão.

 

Na manhã do dia 6 de maio de 1937, dia da chegada do Hindenburg nos Estados Unidos, o comandante da base aérea da marinha americana em Lakehurst, Nova Jersey, rebebeu a notícia de que uma forte tempestade com trovões e raios havia começado no norte. A previsão era de que o mau tempo continuaria por todo o dia.


No Hindenburg, o almoço foi servido mais cedo, a fim de que a chegada aos Estados Unidos pudesse ser apreciada pelos passageiros. O Zeppelin causava tremendo alvoroço onde quer que chegasse, pois sendo o primeiro dirigível transatlântico já fabricado, sua presença envolvia enorme publicidade e interesse do público.


Eram exatamente 15h, e o Hindenburg começava a sobrevoar o céu de Nova Iorque. Lojas e escritórios ficaram vazios e o trânsito parado; a tripulação conduziu o Hindenburg rumo a Times Square, onde uma multidão se aglomerava na rua. Pequenos aviões com observadores e repórteres voavam próximos ao Zeppelin.


Registro da chegada a Nova Iorque ...
 



e ilustração com o Hindenburg no céu dos Estados Unidos

Na base aérea em Nova Jersey, local do pouso, relâmpagos eram vistos não muito longe. O céu estava fechado e o tempo continuavam ruim. O perigo das condições eletrostáticas desfavoráveis obrigaram o fechamento das fábricas de pneu próximas a Nova Jersey.


 
Depois de quase meia hora sobrevoando Nova Iorque sob a mira de olhares e flashs fotográficos, o Hindenburg atravessou o Rio Hudson e seguiu para seu destino final, em Nova Jersey.


 
A aterrissagem de um dirigível era o momento mais perigoso do vôo e, preferencialmente, acontecia ao amanhecer, quando os ventos são geralmente mais calmos. Um pouso do Hindenburg necessitava de centenas de pessoas em terra, na chamada equipe de solo.


Os cabos de aterrissagem eram jogados do dirigível para a equipe de solo, que os puxava até a presilha localizada no bico do dirigível ser conectada e fixada ao mastro de atracação. Um vento lateral repentino podia fazer o Zeppelin subir novamente.

Em algumas ocasiões, componentes da equipe de solo permaneciam agarrados às cordas e eram arrastados para cima. Quando não agüentavam mais, soltavam as cordas e despencavam dezenas de metros numa queda fatal.

Eram 16h e o Hindenburg finalmente chegava à Base Aérea Lakehurst. Fez um rápido sobrevôo e tomou o rumo do mar para evitar a tempestade. Agora, são 17h, e uma multidão está reunida ao redor da Base. A equipe de solo está pronta no local de atracação, mas o Hindenburg, a alguns quilômetros dali, sobrevoa o mar perto de Atlantic City, como que se esquivando da tempestade.

O relógio já marca 17h55 e começa a chover forte sobre a Base. O aguaceiro dura cerca de 15 minutos e vai embora de repente, da mesma forma como havia chegado. A equipe de solo e os espectadores estão encharcados.


Apesar das condições de pouso serem desfavoráveis, a direção do vento estar instável e trovões serem ouvidos ao longe; às 18h20, o comandante da Base Aérea de Lakehurst, Charles Rosental, toma uma decisão e dá a seguinte ordem: "Recomendação de pouso imediato!"

O Hindenburg estava a 22 quilômetros da Base Aérea de Lakehurst quando recebeu o aviso para pousar, e rumou novamente para o local de sua chegada. O operador de rádio do Zeppelin enviou então uma mensagem para a Alemanha: "Preparar para o pouso. Tempo ruim". A mensagem chegou a Hamburgo e foi passada de forma equivocada para Frankfurt: "O Hindenburg Aterrissou".


Agora já são 19h20 e o Dirigível está novamente sobrevoando a Base. Vem do norte e, imponente, aproxima-se do mastro de atracação. A expectativa é grande entre os presentes e o Hindenburg vem sereno, diminuindo sua velocidade.


Os cabos de atracação são lançados do Hindenburg de uma altura de 60 metros para a equipe de solo, que se posiciona e segura os cabos, começando a conduzir o bico do dirigível na direção do mastro de atracação.

Começa a chover forte novamente. A equipe de solo recolhe o Dirigível enfrentando muita dificuldade para equilibrar-se no terreno encharcado. De repente, um vento forte faz o Hindenburg subir novamente sem controle, e o Zeppelin fica solto no céu.

 
Num instante, algumas labaredas são avistadas na parte traseira esquerda do dirigível, que parece estar mais pesada que a frente. Há uma explosão e os 200 mil metros cúbicos de hidrogênio do Hindenburg começam a inflamar terrivelmente. As chamas vão aumentando e aumentando cada vez mais, e já consomem a metade traseira do Zeppelin.

 Instantes após a explosão, as chamas começaram a consumir o Hindenburg rapidamente. Abaixo, à direita do plano da foto, o mastro de atracação pode ser observado bem longe do Dirigível

A pressão do hidrogênio vazando inflamado impulsionou o Zepelim à frente, como um foguete sobre a multidão que corria apavorada e em desespero. O Hindenburg se manteve aprumado até o momento em que as chamas chegaram ao bico. O dirigível finalmente caiu longe do mastro de atracação, com a cauda atingindo primeiro o solo, e o bico ainda erguido em chamas.

 A queda final do Hindenburg



Já no chão, o Hindenburg emitia muita fumaça negra e ainda havia chamas em vários pontos. A equipe de salvamento se apressou para socorrer as pessoas abordo do Zeppelin, que ainda fumegava sobre suas cabeças, reduzido apenas a ferros retorcidos que sobraram de sua grandiosa estrutura.




 Momentos finais do imponente dirigível ...



 e os restos de sua estrurura metálica ainda fumegando




Das 97 pessoas que estavam a bordo, 35 morreram. O espião nazista Fritz Erdman foi uma delas. Um integrante da equipe de solo também morreu. Sob rumores de sabotagem, três investigações foram iniciadas mas nada foi provado. Chegava ao fim, dessa trágica forma, os tempos áureos das luxuosas viagens em dirigíveis. Os aviões roubariam a cena a partir de então.



No vídeo abaixo, o leitor pode ver como foram os momentos finais do Hindenburg.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ESCOTISMO: 100 ANOS SEMPRE ALERTA PELO MUNDO






Por Cássio Ribeiro


Tarde de sábado nublada em uma praça de Guaratinguetá, no interior paulista. Um grupo de homens, mulheres e jovens, vestidos com uniforme cáqui, está reunido na forma de um círculo humano, em cujo interior, 12 crianças trajando uniforme azul escuro completam o cenário. Trata-se do início de mais uma reunião do Grupo Escoteiro Sarça Ardente, que é o grupo número 232 do estado de São Paulo.


 Grupo Sarça Ardente, no início de mais uma reunião



A formação humana circular do início da reunião, assim como a disposição circular das barracas nos acampamentos escoteiros de todo o mundo, se repete há mais de 100 anos, desde agosto de 1907, quando o general inglês Robert Baden-Pawell, ou simplesmente B-P, como é chamado pelos escoteiros, reuniu um grupo de 21 jovens, uma criança e mais alguns auxiliares na pequena Ilha de Brownsea, que fica na costa da Inglaterra, no Canal da Mancha.



Primeiro acampamento escoteiro realizado por Baden-Powell, em 1907, ...


 na pequena Ilha de Brownsea, perto do litoral inglês


Baden-Powell tinha 50 anos quando decidiu organizar o acampamento para os jovens, depois de já ter servido no exército inglês por 31 anos, onde adquiriu grande experiência na vida ao ar livre, durante as campanhas de combate contra tribos das colônias inglesas na Índia e na África do Sul. 

 
O feito mais famoso de Baden-Powell durante a carreira militar foi a resistência ao cerco à cidade de Mafeking, na África do Sul, onde ficou sitiado com sua tropa por 217 dias, de outubro de 1899 até maio de 1900. Baden-Powell resistiu às forças do contingente superior dos inimigos africanos, até que as tropas inglesas conseguissem abrir caminho para socorrê-lo.
 

Baden-Powell organizou o primeiro acampamento escoteiro, em agosto 1907, baseado no pensamento de que a ocasião seria ideal para pôr em prática um método de atividades ao ar livre que contribuiria para a educação de jovens. B-P enviou então uma carta para alguns pais e mães conhecidos seus: "Me proponho realizar um acampamento com meninos selecionados, para que aprendam Escotismo durante uma semana, nas próximas férias de agosto"..."A alimentação, a preparação dos alimentos, os aspectos sanitários, etc, serão cuidadosamente supervisionados...", escreveu ele.




Baden-Powell e a saudação escoteira 'Sempre Alerta!'. Os dedos representam os três itens da Promessa Escoteira



O primeiro acampamento escoteiro fui um sucesso. Baden-Powell percebeu que as atividades ao ar livre exerciam forte atração sobre os jovens de todas as classes sociais, que aprendiam técnicas e, ao mesmo tempo, eram educados para uma vida futura como cidadãos dignos.



                                                           Clique na imagem para ampliar
Sinais de pista ensinados aos escoteiros de todo o mundo, para serem usados como códigos informativos em ocasiões de atividades nos campos, florestas e montanhas. Alguns desses símbolos já eram usados por tribos indígenas milenares


Tomado por entusiasmo após o sucesso do primeiro acampamento, Baden-Powell realizou palestras sobre seu novo método educativo e escreveu, a partir de janeiro de 1908, seis fascículos quinzenais que logo foram reunidos e lançados em um livro, "Souting for Boys" (Escotismo para Rapazes). O livro popularizou o Escotismo por toda a Inglaterra e por diversos países do mundo. Na América do Sul, o Chile já tinha suas primeiras tropas escoteiras em 1908.



No Brasil, o Movimento Escoteiro chegava em 1910, mesmo ano em que Baden-Powell decidiu pedir afastamento do exército inglês para se dedicar exclusivamente ao Escotismo. Powell percebeu que poderia ser mais útil ao seu país instruindo a nova geração para uma boa cidadania, ao invés de preparar homens adultos para uma futura guerra.


 


Agora dedicado exclusivamente ao Escotismo, Baden-Powell fez uma viagem pelo mundo em 1912, para conhecer os grupos escoteiros de diversos países. Foi aí que surgiu a idéia de fazer do Movimento uma Fraternidade Mundial. Sendo assim, em 1920, os escoteiros de todo o mundo se reuniram em Londres para a primeira concentração internacional de escoteiros, chamada de Primeiro Jamboree Mundial. Na última noite do evento, Baden-Powell foi proclamado Escoteiro-Chefe-Mundial, diante de uma animada multidão de jovens de todo o mundo.





Foram realizados outros Jamborees mundiais na seqüência (1924 na Dinamarca, 1929 na Inglaterra, 1933 na Hungria e 1937 na Holanda). Além da organização dos Jamborees, Baden-Powell também fez longas viagens pelo mundo e manteve correspondência com dirigentes escoteiros de muitos países, no intuito de fortalecer os elos e os laços formadores da Fraternidade Mundial dos Escoteiros.



Baden Powell trabalhou intensamente pelas causas do Movimento Escoteiro até os 80 anos de idade, quando foi morar com sua esposa no Kenia, onde morreu aos 83 anos, em janeiro de 1941, rodeado por um cenário formado por quilômetros de florestas e montanhas com picos cobertos de neve.




O Símbolo dos escoteiros é a Flor-de-Lis, que representa a orientação para a direção certa, para o alto, mostrando o caminho para o cumprimento do dever e da ajuda ao próximo. As três folhas que formam a Flor-de-Liz também lembram os três itens da promessa escoteira, que são: "Prometo pela minha honra, fazer o melhor possível: 1 – Para cumprir meu dever para com Deus e a minha pátria, 2 – Para ajudar o próximo em todas as ocasiões e 3 – Para obedecer a lei do escoteiro."


 A Flor-de-Liz é o símbolo do Escotismo em todo o mundo, e é entregue ao escoteiro como distintivo do uniforme no ato da Promessa Escoteira. A fim de distiguir as diferentes nacionalidades, cada país adota geralmente um emblema nacional sobre a Flor-de-Liz. No caso do Brasil, o símbolo escoteiro recebe o Selo da República, com o círculo de estrelas e o Cruzeiro do Sul no interior. Embaixo, ainda figuram o lema do Escotismo (Sempre Alerta!), e um nó, que representa a boa ação diária que cada escoteiro deve praticar, sem que haja recompensa em dinheiro por isso




Os itens da LEI do ESCOTEIRO são: 1 - O escoteiro tem uma só palavra e sua honra vale mais do que sua própria vida, 2 – O escoteiro é leal 3 – O escoteiro está sempre alerta para ajudar o próximo e praticar diariamente uma boa ação, 4 – O escoteiro é amigo de todos e irmão dos demais escoteiros, 5 – o escoteiro é cortês, 6 – O escoteiro é bom para com os animais e as plantas, 7 – O escoteiro é obediente e disciplinado, 8 – O escoteiro é alegre e sorri nas dificuldades, 9 – O escoteiro é econômico e respeita o bem alheio e 10 – O escoteiro é limpo de corpo e alma.




Na reunião do Grupo Escoteiro 232 SP (Sarça Ardente), em Guaratinguetá, era possível observar na prática todo esse clima cordial e ordeiro da conduta dos escoteiros. Alguns membros eram saudados pelo resto do grupo, por terem se destacado no último acampamento. Seguia-se o coro de "Bravo! Bravo! Bravíssimo!" e os homenageados respondiam: "Grato! Grato! Gratíssimo!" em alto e bom som, sempre cadenciado por uma salva de palmas escoteira, executada por todo o grupo.




Em determinado momento, os lobinhos, que são crianças entre 6 e 10 anos, se retiram caminhando enfileirados em direção a uma sala no interior da sede do Grupo Sarça Ardente, onde irão participar de atividades educativas, separados do resto do Grupo. As atividades dos lobinhos, quase sempre lúdicas, visam introduzir as crianças na prática escoteira.




No interior da sala, os lobinhos sentam-se e a chefe escoteira, chamada de "aquelá" por eles, começa indagando sobre a preferência do cardápio para o próximo acampamento. Quando a "aquelá" Mara fala em abóbora ou mandioca com carne, e chá de camomila, os lobinhos, como quase todas as crianças da mesma idade, não aprovam a idéia. No entanto, quando lhes é apresentada a alternativa de hamburguer com batatas fritas, a alegria é subitamente expressa num coro unânime de um ÊÊÊÊ! infantil cheio de vitalidade.



Alcateia de lobinhos do Grupo Escoteiro 232 SP (Sarça Ardente)



Os lobinhos formam a classe do Escotismo que reúne crianças com idades entre 6 e 11 anos. Dos 11 aos 15, os já adolescentes são escoteiros. Dos 15 aos 18 anos, os jovens passam para o quadro sênior e, dos 18 aos 21 anos de idade, a atividade escoteira abrange a classe dos pioneiros, depois da qual, pode ser desempenhada a função de chefe escoteiro.

Para o chefe Charles, de 42 anos, que é escoteiro desde 1977 e também trabalha na Cadeia Pública de Guaratinguetá, o Escotismo é uma satisfação pessoal: "Se eu conseguir tomar conta e educar essas crianças hoje, não vou precisar tomar conta delas na Cadeia Pública mais adiante", afirma o chefe Charles.



Chefe Charles à esquerda e, na sequência, os chefes Catarina, Arnoldo e Renê,  que é um dos fundadores e idealizador do Grupo Escoteiro Sarça Ardente, que fica à Praça Esmeralda, nº 106, no Jardim Aeroporto, em Guaratinguetá / SP




9 anos no Movimento Escoteiro, Larissa, de 15 anos, é uma das monitoras da Tropa El Shaday, do 232º Grupo Escoteiro do estado de São Paulo



A semente inicial plantada pelo inglês Baden-Powell no acampamento da Ilha de Brownsea, em 1907, fecundou e floresceu pelo mundo completando seu primeiro Centenário em 2007. Calcula-se que 500 milhões de homens e mulheres já tenham prometido viver de acordo com a Lei e a Promessa Escoteira nesses 100 anos de existência da Organização Mundial do Movimento Escoteiro. 




Hoje, são mais de 28 milhões de membros em 216 países e territórios, que formam a maior associação para a educação não formal de jovens no Mundo. Um imenso elo que faz a Fraternidade Mundial Escoteira parecer, em escala global, com os círculos humanos tão tradicionais nas reuniões dos escoteiros desde 1907, Sempre Alerta!

domingo, 14 de outubro de 2012

EL NIÑO: ENTENDENDO O FENÔMENO CLIMÁTICO





Por Cássio Ribeiro


O Oceano Pacífico abrange cerca de 180 milhões de quilômetros quadrados da face externa de nosso planeta, o que representa um terço de toda a superfície da Terra. Sendo o maior de todos os oceanos, o Pacífico também reúne quase a metade do volume de água e da superfície de todos os mares, e também possui a marca da maior profundidade já registrada em todos os oceanos, que são os – 10.912 metros das Fossas Marianas, localizadas ao sul do Japão.
Extensão do Oceano Pacífico e a localização das Fossas Marianas, em preto. O Equador é a linha horizontal que divide a esfera em duas metades (hemisférios)


Observando o mapa acima, pode-se notar que a bacia do Oceano Pacífico apresenta um aspecto rusticamente circular. À direita ou a leste, é limitada pelas Américas (do Norte, Central e do Sul). Já à esquerda ou no limite extremo oeste do Pacífico, estão localizados o Japão ao norte, o arquipélago da Indonésia ao centro, e a Austrália mais ao sul.


Na região onde a esfera terrestre é dividida em duas metades ou hemisférios norte e sul, está a linha do Equador, que marca também a região mais quente do Planeta, também chamada de zona tropical.



Nessa região central (Equador) da superfície do imenso Oceano Pacífico, em condições normais, os ventos naturalmente ocorrem na direção da direita (leste) para a esquerda (oeste), ou seja, da costa da América do Sul, onde estão o Peru e o Chile, para a Região do outro extremo do Pacífico, onde fica a Indonésia. Esses Ventos são os chamados Ventos Alíseos.



Os Ventos Alíseos acabam empurrando para o oeste uma grande quantidade da camada de água mais quente localizada na superfície do Oceano Pacífico. Essa água mais quente acaba se concentrando próximo da costa da Indonésia, onde, nessas condições, a superfície do Pacífico fica cerca de meio metro mais elevada do que na outra extremidade do mesmo Oceano, na costa da América do Sul, onde está o Peru e o Chile.



Esse fenômeno natural também ocasiona uma subida ou ressurgência das águas mais frias das profundezas do Pacífico, que acabam aflorando na extremidade direita deste Oceano, próximo à costa da América do Sul. Essas águas mais frias das profundezas possuem grande quantidade de oxigênio dissolvido, e também sobem carregadas de nutrientes e microorganismos, que servem de alimento para os peixes daquela região.


 
A ilustração mostra a ação dos ventos que concentram as águas mais quentes na esquerda ou oeste, e possibilitam o afloramento ou a ressurgência das águas mais frias na extremindade direita ou leste


A costa esquerda da América do Sul é umas das regiões onde há maior abundância de peixes na Terra. A pescaria de anchovas no Chile e no Peru já registrou a impressionante marca de 12 milhões de toneladas capturadas por ano.
 

Como as águas mais quentes do Pacífico ficam localizadas no extremo oeste, junto à Indonésia, ali ocorre maior evaporação e formação de nuvens. O ar quente também sobe nesse processo de evaporação e é formado então um ciclo de interação e movimento compensatório entre a superfície do Pacífico e a região da atmosfera localizada a cerca de 15 quilômetros de altitude.

Os Ventos Alíseos sopram para a esquerda junto a superfície do Pacifico. A água mais quente é concentrada próximo da Indonésia. Ocorre a evaporação e o ar quente sobe. O ar frio, localizado a cerca de 15 mil metros de altitude, se desloca para a direita. 
Numa reação compensatória, o ar frio desce na outra extremidade do Pacífico, onde fica a região que abrange o Peru e o Chile, na costa sul-americana, que por sinal acaba registrando baixa incidência de chuvas nessas condições.


Outra ilustração que mostra a ação dos Ventos Alíseos, que concentram a água mais quente, em vermelho e laranja, na estremidade esquerda ou oeste do Pacífico, onde ocorre intensa evaporação e elevação do ar mais quente. O ar mais frio da atmosfera desloca-se para direita ou leste


Tudo no Planeta fica equilibrado até o fenômeno El Niño entrar em cena. O El Niño é, à grosso modo, o aquecimento acentuado das águas da superfície do gigante Oceano Pacífico, na região ao longo da linha do Equador. Mas como isso ocorre?



Em primeiro lugar, os cientistas garantem que o El Niño é um fenômeno natural, que ocorre em alguns anos e em outros não, num ciclo não definido e que dura entre 2 e 7 anos geralmente.


Embora não haja certeza, alguns cientistas afirmam que em anos de El Niño, o aquecimento das águas também é ocasionado pela atividade dos vulcões submersos no Pacífico. Outros afirmam que os El Niños coincidem com os anos de maior incidência das manchas solares.



Atualmente, pelo fato de ser um fenômeno natural, os estudiosos só sabem ao certo prever quando um novo El Niño irá começar, o que irá causar, e quando irá terminar.

Sem que possa ser explicado o motivo certo, um El Niño ocorre quando os Ventos Alíseos ficam mais fracos e até, em certas ocasiões, sopram no sentido contrário ao observado em anos que não há El Niño. Essa mudança interrompe o deslocamento das águas quentes para o oeste, onde está a Indonésia.



Com a diminuição da intensidade dos Ventos Alíseos, as águas mais quentes voltam para o leste, ficando distribuídas por toda a região central do Pacífico, sobre a linha do Equador







A superfície do Pacífico fica mais estável e as águas quentes se distribuem por toda região ao longo da linha do Equador. As águas frias não sobem com nutrientes e oxigênio, o que obriga os peixes a migrarem da costa sul-americana esquerda. Muitos morrem.

  

A evaporação ocorre em grande escala na superfície central ou equatorial do Pacífico, o que gera intensa subida do ar quente para a atmosfera. Pela lei compensatória, na região que fica a cerca de 15 quilômetros de altitude, o ar frio é empurrado para os lados e acaba descendo já não tão frio, na região da Indonésia, no norte e leste da Amazônia, e no norte da Região Nordeste Brasileira.





Com o El Niño, o Pacífico fica mais quente (região vermelha e laranja). A evaporação ocorre ao longo da linha do Equador, e as águas mais frias, em azul, não emergem mais na costa da América do Sul, à direita, no leste








Ao contrário do que ocorre com a evaporação das águas quentes, esses ares que descem das regiões superiores da atmosfera em anos de ocorrência do El Niño, acabam inibindo a formação de nuvens, o que explica a intensa seca registrada na Amazônia, na Indonésia e no Nordeste Brasileiro em anos de El Niño.



Nos anos de 1982/83 e 1997/98, o fenômeno El Niño ocorreu com maior intensidade em todo o século 20. Em 1997/98, a Indonésia registrou uma das maiores secas de sua história. Muitas pessoas precisaram usar máscaras para suportarem os altos índices de poluição provocada pelas queimadas e pelos gases emitidos nas grandes cidades.



No Brasil, em 1998, foi registrada grande seca em Roraima, o que ocasionou uma das piores queimadas já ocorrida em todos os tempos na região. No mesmo ano, a seca espalhou fome e miséria na região do semi-árido nordestino brasileiro.









No gráfico que mostra as temperaturas do Pacífico em 1997, ano em que foi registrada a incidência do El Niño com maior intensidade em todo o século 20, as águas mais quentes, em marrom e vermelho, estão distribuídas por toda a região equatorial do Oceano





O El Niño é um fenômeno natural e sempre existiu. Os cientistas pesquisam se o El Niño teria relação com o aquecimento global, mas é necessário separar a variação climática natural ocasionada pelo El Niño, e o aquecimento gerado pelas atividades humanas, diretamente relacionadas com o efeito estufa.



O mestre em Meteorologia, Gilvan Sampaio de Oliveira, responsável pela Operação Meteorológica do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em Cachoeira Paulista/SP, esclarece no livro "O El Niño e Você, O Fenômeno Climático", publicado em 1999, alguns tópicos curiosos sobre o El Niño:



"...Muitas vezes durante o episódio de 1997/98, fenômenos que ocorreram como chuvas excessivas que provocaram enchentes foram atribuídas ao El Niño, quando em muitos casos não era verdade. É aquela velha história: já que ele está ai, vamos colocar a culpa nele ... Bastava acontecer algum evento meteorológico extremo para botarem a culpa no pobre El Niño ... Demonizar o El Niño ou achar que ele é uma catástrofe enviada pelos deuses, ou ainda achar que ele é uma das desavenças de final de século ou de final de milênio, não !!!! Ele é um fenômeno natural que sempre existiu e que vai sempre existir. Não é causado pelo efeito estufa ou pelo aumento de partículas sólidas na atmosfera, como por exemplo a poluição das grandes cidades. Também não é ocasionado pelo chamado buraco na camada de ozônio..." Explica Gilvan Sampaio, nas páginas 1,2 e 3 do livro.



O El Niño já foi observado desde anos remotos, por volta de 622 depois de Cristo (D.C), quando foram verificadas fracas cheias do Rio Nilo, o que prejudicava severamente a atividade agrícola no antigo Egito.



O navegador espanhol Francisco Pizarro registrou uma contracorrente oceânica que vinha do norte para o sul, na costa esquerda da América do Sul, em 1525.



No final do século 19, marinheiros que percorriam em pequenas embarcações a costa do Peru e do Chile, no oeste da América do Sul, observaram a mesma corrente que surgia só em alguns anos, no período próximo ao Natal; por isso, passaram a chamá-la de El Niño (O menino em espanhol), em referência ao menino Jesus.



A chegada da corrente coincidia com chuvas fortes, que transformavam algumas regiões desérticas em frondosos jardins. Por outro lado, os peixes e os pássaros que se alimentavam deles desapareciam daquela região nos períodos dos anos em que ocorria a curiosa corrente.



Ao contrário do El Niño, também pode ocorrer em alguns anos, um resfriamento acentuado das águas centrais do Pacífico, o que também ocasiona diversos distúrbios climáticos no mundo. Nesse caso, o fenômeno é chamado de La Niña (a menina em espanhol).