Por Cássio Ribeiro
As Ilhas Britânicas são uma continuação
física do continente Europeu. O bloco continental que forma a
Europa fica com a superfície submersa na região do Canal da Mancha, que
separa as Ilhas Britânicas do litoral da Europa, onde se localiza a França.
Imagem de satélite da Europa: no meio da imagem, à esquerda, observa-se o arquipélago britânico, ...
que é separado da Europa pelo Estreito de
Dover. De Dover, na Inglaterra, até o cabo Gris-Vez, na região de
Calais, que fica no norte da França, são 33 quilômetros de mar sob o qual passa o Eurotúnel. Os 33 km do Estreito de Dover são a menor distância entre as duas margens do Canal da Mancha. O nome do Canal é devido à mancha da platafroma continental da Europa, que mesmo sob as águas, pode ser observada claramente de cima.
O arquipélago britânico é formado por 6 mil ilhas. As duas maiores e mais importantes são a Grã-Bretanha e a Irlanda. A Grã-Bretanha é a maior, e possui 244 mil quilômetros quadrados. Já a Irlanda, bem menor, tem uma área de 84 mil quilômetros quadrados.
Os primeiros habitantes que originaram a população da
Irlanda foram os Celtas, os mesmos que originaram a maioria da
população da França. Já a Grã-Bretanha, é formada pela Inglaterra dos
bretões, pelo País de Gales dos galeses, e pela Escócia dos escoceses.
A Irlanda foi cristianizada a partir do século 5, mas
os irlandeses nunca formaram um reino único. Já em seu início, a Ilha
foi dividida pelos irlandeses em quatro reinos fracos, o que culminou
com a dominação da Irlanda pelos reis ingleses, a partir do ano de 1171.
Em
1534 na Inglaterra, a Reforma Anglicana tornou o protestantismo a
religião oficial inglesa, também seguida no País de Gales e na Escócia.
Na ilha da Irlanda, ao norte, alguns ingleses e galeses que lá viviam,
passaram a seguir o anglicanismo protestante, porém, os irlandeses
daquela região decidiram continuar católicos, a fim de que sua
identidade cultural e nacional permanecessem preservadas apesar da
dominação inglesa.
As duas maiores ilhas do arquipélago
britânico: Grã-Bretanha, a direita, que abrange os territórios da
Inglaterra, do País de Gales e da Escócia, ao norte. A Irlanda, à
esquerda em amarelo e roxo, é a segunda maior ilha do arquipélago
Bandeira do País de Gales
Bandeira da Inglaterra
Bandeira da Escócia
A união entre as bandeiras da Inglaterra e
da Escócia, mais a antiga bandeira da ilha da Irlanda, dominada
inicialmente por inteiro pela Grã-Bretanha, originou a bandeira do Reino
Unido
Reino Unido
Para promover o fortalecimento de sua dominação na
Irlanda, a Inglaterra cedeu para imigrantes escoceses e ingleses, terras
que pertenciam a irlandeses. O ato era chamado de Plantation, e
concentrava nas mãos dos colonizadores ingleses, extensos latifúndios
cultiváveis. Essa política provocou a revolta inicial dos irlandeses
contra a rainha inglesa Elisabeth I (1558-1603).
Em
1847 e 1848, a Irlanda foi devastada pela Grande Fome, que foi uma
praga generalizada nas plantações de batatas, que eram o alimento básico
da grande parcela da população de pobres irlandeses. Num total de 8,5
milhões de irlandeses católicos, 800 mil morreram de inanição na
ocasião.
O governo
inglês não tomou nenhuma providencia para tentar controlar a devastação
causada pela fome. Milhões de irlandeses emigraram para os Estados
Unidos. A população da Irlanda foi reduzida para 4 milhões de habitantes
em 1900.
Os
protestantes ingleses, em número de 750 apenas, eram donos de mais de 50% das
terras cultiváveis irlandesas. Os católicos controlavam apenas 14%
destas terras, por meio de pequenas propriedades.
As
indústrias da Irlanda, concentradas ao norte, também eram controladas
por ingleses, escoceses e galeses, que, em função da forte imigração
operária, eram a maioria na região norte da irlanda. Em 1916, no domingo
de Páscoa, ocorreu uma revolta irlandesa nacionalista, que foi dominada
pelo exército inglês após sangrentos confrontos.
Em
1919, os parlamentares irlandeses eleitos nas eleições gerais do Reino
Unido inglês não aceitaram fazer parte da Câmara dos Comuns, que incluía
representantes da Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda. Os
representantes da Irlanda decidiram formar um parlamento paralelo,
chamado de Dáil Éireann, que expediu imediatamente a Declaração
Unilateral de Independência da proclamada República Irlandesa, mas o ato
não foi reconhecido internacionalmente.
As
tropas britânicas e os voluntários da Irlanda do Norte entraram em
ação. Foram dois anos de conflitos militares e ataques terroristas com
bombas, na chamada Guerra Anglo-irlandesa, ou Guerra da Independência da
Irlanda.
Em 1921, o governo do Reino Unido e líderes da Irlanda firmaram um acordo no tratado Anglo-Irlandês, que reconhecia o estado livre da Irlanda, correspondente a 85% do território da ilha irlandesa, e o Ulster, que representa 15% do território da Irlanda e, sendo também chamado de Irlanda do Norte, permaneceu controlado pelo Reino Unido da Grã-Bretanha, já que a maioria de sua população é formada por protestantes escoceses e ingleses, e uma minoria de irlandeses católicos.
Após o
tratado Anglo-Irlandês, em 1921, o domínio inglês permaneceu apenas sobre a Irlanda do Norte, ...
que ainda pertence ao Reino Unido
Bandeira da Irlanda do Norte
Após o reconhecimento, o estado da Irlanda foi
integrado à Comunidade Britânica das Nações (Commonwealth), mas os
irlandeses nunca tiveram um sentimento de união política e econômica com
o Reino Unido.
Na Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), os outros
membros da Commonwealth (Nova Zelândia, Austrália, África do Sul e
Canadá) participaram do conflito como aliados do Reino Unido. A Irlanda
permaneceu neutra.
Em
1949, a Irlanda deixou de participar da Commonwealth e proclamou sua
total independência, com o nome de República da Irlanda ou Eire, que
quer dizer "ilha" em seu idioma original céltico.
Bandeira da República da Irlanda, que é a porção sul da ilha irlandesa, e abrange 85% de seu território, ...
cuja população é católica
Dublin, capital da República da Irlanda
Como a República da Irlanda era um país agrário, com reduzidas
oportunidades econômicas, muitos católicos migraram para a Irlanda do
Norte, em busca de trabalho nas indústrias ligadas ao Reino Unido, e
concentradas naquela região.
Hoje, os católicos constituem 40% da
população total da Irlanda do Norte, e sofrem intensa discriminação por
parte dos 60% protestantes da população, ligados à Grã-Bretanha.
Em 1956, foi criado na República da Irlanda o IRA (Irish Republican
Army) ou Exército Republicano Irlandês, que é uma organização terrorista
que reivindica a unificação entre a República da Irlanda (Eire) e os
seis condados que formam a Irlanda do Norte (Ulster).
O IRA já executou
vários atentados à bomba e assassinatos de autoridades britânicas e
membros das lideranças protestantes da Irlanda do Norte. A principal
ação do IRA foi a explosão, em 1979, da lancha pilotada pelo tio da
rainha Elisabeth II, e considerado, na Inglaterra, herói da Segunda
Guerra Mundial, almirante lorde Mountbatten.
Embora o IRA tenha sido criado oficialmente
em em 1956, voluntários que defendiam a República da Irlanda durante a
Guerra da Independência da Irlanda, no início da década de 1920, já eram
chamados de membros do IRA (Exército Republicano Irlandês)
As reações das forças de segurança do Reino Unido e
dos protestantes da Irlanda do Norte também já provocaram muitas mortes
entre a população católica da República da Irlanda.
O episódio mais
conhecido aconteceu em 1972, quando 14 civis católicos foram mortos por
soldados ingleses em Belfast. O Fato ficou conhecido como "Domingo
Sangrento", e virou tema de uma canção da banda de rock irlandesa U2.
Ainda
em 1972, o governo do Reino Unido colocou a Irlanda do Norte sobre seu
controle direto, por meio de uma ocupação militar. Só em 1998, o
primeiro ministro trabalhista inglês Tony Blair estabeleceu um acordo
entre ele, o primeiro-ministro da República da Irlanda, e os
representantes protestantes da Irlanda do Norte, com direito a
intevenção do presidente dos Estados Unidos na ocasião, Bill Clinton. O
acordo ficou conhecido como Acordo da Sexta-Feira Santa.
No
acordo, ficou estabelecida a realização de eleições para a formação de
um parlamento na Irlanda do Norte, que indicaria um primeiro-ministro
para comandar politicamente a região, que continuaria ligada ao Reino
Unido, porém, com certa autonomia. Os católicos passaram a ter o direito
de votar na Irlanda do Norte, o que antes não acontecia.
Belfast, capital industrializada da Irlanda do Norte (Ulster), onde foi assinado o Acordo da Sexta-Feira Santa, em 1998
Apesar do acordo, nem o IRA, que quer a unificação entre as duas
irlandas e a formação de uma só república, nem os extremistas
protestantes, que querem continuar ligados à Grã-Bretanha, resolveram
abandonar de vez as armas. Ambos os lados ainda possuem membros
extremistas que apostam em ações violentas, a fim de que os resultados
derrubem o acordo estabelecido em 1998.
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