domingo, 16 de setembro de 2012

A CURIOSA VIDA DAS ABELHAS





Por Cássio Ribeiro

As abelhas tem seu período médio de vida determinado de acordo com as atividades que exercem dentro de sua comunidade. Esse período também depende da época do ano em que ocorre o nascimento das abelhas de uma colméia.

A sociedade das abelhas é rigorosamente harmoniosa, organizada e dividida em duas castas, uma reprodutora e a outra estéril. A casta reprodutora é formada pelas rainhas e os zangões.

A rainha é responsável apenas pela postura dos ovos, e é o indivíduo da colméia que possui a vida mais longa, chagando a viver até cinco anos. Já o zangão, possui a única função de fecundar a rainha e vive apenas cerca de 80 dias.

A casta estéril é formada pelas abelhas operárias, que possuem o aparelho genital atrofiado, mas são equipadas e próprias para os vários trabalhos de construção, manutenção e alimentação da colméia.

A vida das abelhas operárias dura entre quatro e oito semanas, de acordo com a época de seu nascimento. Elas vivem mais quando nascem no outono, pois precisam esperar pelas abundantes flores que surgirão na primavera.

Na sistemática classificação do reino animal, as abelhas são insetos divididos em várias espécies: lingustica, carnica, sivula e unicolor. Porém, a palavra abelha é geralmente usada para indicar a abelha doméstica, cujo nome científico é Apis Melífera Ligustica.



 A raça Apis Melífera Ligustica



As várias raças de abelhas apresentam diferenças marcantes, tanto no comportamento quanto na forma, mas sempre há um ponto comum, que é a administração de suas colméias.


Todas as espécies vivem em grupos familiares formadores de sociedades que duram vários anos, e são regidas pelo poder feminino, sendo as componentes de uma determinada colméia sempre provenientes de uma única fêmea rainha.


As abelhas operárias são menores que as reprodutoras (rainha e zangão). Sua forma é diretamente ligada às atividades que devem realizar durante a vida. As operárias executam trabalhos diferentes que se modificam com o passar do tempo, sendo o envelhecimento, assim como nos humanos, um motivador do aumento gradativo de sua experiência e um determinador de suas mudanças de atividade.


Durante os cerca de 80 dias de sua existência, a abelha operária passa pelas seguintes fases de vida que determinam suas atividades: os ovos da rainha “amadurecem” durante três dias. Surge então uma larva sem patas, que se alimenta ativamente, fazendo de 1000 a 1300 refeições diárias.


Toda essa intensa alimentação faz a larva aumentar seu peso em cinco vezes só nas primeiras 24 horas de vida. Seis dias depois de deixar o ovo, a larva, que ainda vive no alvéolo (célula onde a rainha põe seus ovos na colméia) fecha-se num casulo de seda. Começa a chamada fase crisálida, que é o estágio de 12 dias em que a larva se transforma em um inseto prefeito, atingindo sua forma adulta e definitiva.



Nos próximos 14 dias, a jovem abelha operária desempenha sua primeira função dentro da colméia, que é a de produzir alimento para a rainha, os zangões e as novas larvas. Só depois desse período inicial de trabalho dentro da colméia, a operária sai para procurar alimento, tornando-se assim uma abelha coletora.
 
Jovem abelha produzindo alimento

 

A fase coletora de uma abelha dura cerca de 7 dias apenas. Depois desse período, as operárias entram na idade senil e voltam a trabalhar dentro da colméia, realizando as atividades que necessitam de mais experiência para serem executadas (produção de cera, construção de favos e alvéolos, limpeza, proteção da entrada e ventilação da colméia). Em caso de necessidade, as operárias senis podem voltar a coletar alimentos.


Como coletora, cuja função é desempenhada num breve período de 7 dias durante a vida e ...


na última fase da vida, mais maduras e experiêntes, construindo e cuidando da colméia



A abelha rainha tem como função exclusiva a procriação, e pode produzir entre 1500 e 2000 ovos por dia. Possui, portanto, o maior tamanho corporal; tem abdome grande e alongado em forma de cone. Suas asas não cobrem completamente o abdome e são maiores que as asas das abelhas operárias.


O aparelho bucal da rainha não a possibilita produzir cera, geléia real e coletar pólen como as abelhas operárias. Durante a vida, que pode chegar a cinco anos, a rainha só sai da colméia para o vôo nupcial, que ocorre entre o 5º e o 7º dia de sua vida. Sua alimentação durante a vida é constituída exclusivamente de geléia ou gelatina real, produzida pelas glândulas situadas sob a faringe das abelhas operárias em sua fase jovem de vida, na qual desempenham a função alimentadora.



Dois momentos da rainha: apontada em destaque entre população da colméia e ...



rodeada por várias operárias durante a ovulação


Os zangões, que podem viver em média entre 40 e 80 dias, têm o corpo de tamanho médio, não tão grande quanto o das rainhas e nem tão pequeno quanto o das operárias. As asas dos zangões são geralmente do tamanho do abdome, que é mais curto e grosso em relação ao das fêmeas.

 
 
operária à esquerda, zangão à direita e a rainha ao centro, com corpo maior e mais alongado


Os olhos dos zangões são bem desenvolvidos, porém, eles não tem características físicas que os possibilitem alimentar-se sozinhos ou desempenhar algum trabalho dentro da colméia.


Os zangões são fortes, mas são inúteis para a vida em comunidade. Não possuem ferrão, glândulas para a produção de mel e coletor de néctar. A única função dos machos é fecundar a rainha virgem, mas morrem logo após a cópula. Quando se separa do zangão, a rainha arranca os órgãos genitais e parte dos intestinos do macho.



Os zangões são úteis apenas no período que vai do fim da primavera ao verão, quando as fecundações acontecem. Os machos que não fecundam, e por isso não morrem no ato da cópula com a rainha, são abandonados fora da colméia e eliminados pelas abelhas operárias.


 
Momento em que um zangão é eliminado por um grupo de operárias


As colméias possuem um número médio e constante de indivíduos de acordo com as necessidades de manutenção das mesmas. Por exemplo, uma colméia média é formada por cerca de 100 zangões, uma abelha rainha e 60 mil abelhas operárias.


A atividade em uma colméia acontece com maior intensidade durante o dia, quando a luz solar garante uma maior quantidade de flores abertas nas plantas, sendo assim bem mais farta a oferta de pólen e néctar na natureza. Também há atividade nas colméias à noite, embora seja bem menos intensa que durante o dia.


Embora as abelhas coletoras tenham como principal atividade a função de transportar pólen e néctar, também carregam bálsamos e própoles, que são substâncias pegajosas de cor escura derivadas de plantas resinosas. A própole é o material “cimentador” usado na construção dos favos e para tapar as fendas das colméias, além de cobrir os “cadáveres” de seres intrusos à colméia. Os bálsamos são usados para envernizar o interior dos alvéolos antes que a rainha deposite ali seus ovos.


 
  Abelhas operárias fechando as células hexaédricas dos favos




Outro elemento de extrema importância para a manutenção da vida na colméia, e que também é transportado pelas abelhas coletoras, é a água, que é essencial para manter a temperatura amena na colméia, principalmente nos períodos mais quentes do ano.


Apesar de toda essa mobilização ativa na colméia, a coleta de pólen e néctar é sem dúvida a atividade mais importante. É espetacular a atividade das abelhas operárias durante a coleta desses dois alimentos. Para uma abelha operária coletora completar uma carga de néctar, deve visitar cerca de mil flores.
 

Como a carga média transportada por uma abelha é de 5 miligramas por vez, e uma colméia chega a produzir cerca de 1 quilo de mel por dia durante a estação das flores, são necessários milhares de vôos realizados por cerca de 30 mil das 60 mil abelhas operárias de uma colméia.


A vida de uma colméia é definida por regras bem claras, e está diretamente ligada à manutenção da sobrevivência da espécie. A rainha exerce influência sobre todas as outras abelhas de sua colméia por meio de uma secreção glandular que cobre todo o seu corpo.


As abelhas operárias distribuem, de boca em boca, essa secreção glandular para todos os indivíduos da colméia. A substância química distribuída informa que a rainha está viva para todas as abelhas.


Caso a rainha morra, ou o número de indivíduos de uma colméia cresça ao ponto de a rainha não conseguir mais produzir a secreção glandular em quantidade suficiente para “marcá-los” todos, é necessário substituir a rainha. As abelhas alimentadoras escolhem e preparam algumas larvas entre as quais será escolhida uma nova rainha.


No caso de uma velha rainha morrer, a escolha da nova rainha será rápida e garantirá a sobrevivência da colméia. Já no caso da rainha permanecer viva, mas sua secreção glandular ser insuficiente para todos os indivíduos de sua colméia, haverá uma disputa mortal pelo trono entre as novas rainhas candidatas. Nesse caso, a velha rainha deixará a grande colméia para a vencedora e, acompanhada por algumas operárias que lhe serão fieis, sairá em busca de outro lugar adequado para construir uma nova colméia.


As abelhas também possuem capacidade de comunicação umas com as outras. Um curioso exemplo dessa comunicação é o clássico método de transmissão da informação sobre as fontes de alimentos encontrados pelas coletoras durante seus vôos de exploração.


Quando uma abelha coletora localiza uma nova fonte de alimentos, volta à colméia levando consigo pólen, néctar e perfume das flores do novo lugar que descobriu e visitou. A coletora inicia uma dança que permite às outras abelhas a localização das flores do lugar da nova fonte de alimentos.


A “dançarina” traça desenhos no ar com seus vôos e realiza movimentos de diferente intensidade com o abdome. Os movimentos fornecem às outras abelhas dados esclarecedores sobre a distância e a direção do novo lugar dos alimentos em relação à colméia.


O tipo de pólen e o perfume que trás consigo informa a espécie de flor da nova fonte de alimento. A intensidade, o ritmo e a cadência dos movimentos do abdome indicam a consistência, a distância e a direção do novo depósito de pólen e néctar descoberto.


Por meio de experiências realizadas, foi observado que uma abelha coletora indica, por meio de seus movimentos corporais, novas fontes de alimentos a até 3 quilômetros de sua colméia, com uma precisão de 50 metros. A “dança” também serve para informar a localização de locais adequados para a construção de novas colméias.



Após sua dança, a descobridora voa de novo para a nova fonte de alimentos, acompanhada por outras abelhas coletoras. Se no retorno dessa expedição ainda houver alimento abundante na nova fonte descoberta, uma nova viagem será realizada com um número maior de abelhas coletoras.


As coletoras são capazes de compreender a dança de abelhas da mesma espécie, mesmo que sejam de colméias diferentes. Porém, não existe comunicação entre operárias de espécies diferentes pois, embora todas as abelhas se comuniquem por meio de um mesmo tipo de linguagem corporal, o “dialeto” diferente de cada espécie torna a dança incompreensível entre espécies diferentes.


É prudente não incomodá-las!

As abelhas apresentam aspectos muito curiosos em relação à sua organização social e aos estudos dos mecanismos bioquímicos e fisiológicos exercidos pela rainha no controle de sua colméia. 



Fascinante também é a constatação de que as abelhas podem ser treinadas, tal como os roedores. Esse curioso inseto pode ser condicionado a apertar uma alavanca em grupo, ou realizar outra tarefa simples para obter alimento, uma solução de açúcar por exemplo.



Abelhas: frágeis sozinhas, fortes quando em grupo. Exemplo de organização social coletiva que, embora sejam irracionais, podem ter em diversos aspectos seus educados exemplos organizacionais adotados como modelo pelo racional ser humano.

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