domingo, 2 de setembro de 2012

A ESTRADA REAL





Por Cássio Ribeiro
 
No meio do século 17, por volta do ano de 1654, a crise econômica e a concorrência que desvalorizavam o açúcar no mercado internacional tornaram necessário que fossem encontradas novas fontes de geração de capital e riquezas, a fim de substituírem as plantações de cana no Brasil Colônia.


Sendo assim, partiram várias expedições ou bandeiras da pequena Vila de São Paulo que, na época, possuía apenas algumas centenas de habitantes. Seus integrantes, chamados de bandeirantes, como os pioneiros Jacques Felix e Fernão Dias, eram mestiços de portugueses com índios, e utilizavam os caminhos milenares abertos pelos indígenas, além de suas técnicas de sobrevivência nos desconhecidos lugares que desbravavam.



  
Bandeirantes paulistas, cujas principais atividades iniciais foram, de bacamartes em punho, a ampliação das fronterias do que hoje se chama Brasil e a caça e captura de índios nos sertões de São Paulo e Minas Gerais


Foi através de um desses caminhos, conhecido como Trilha dos Guaianazes, que os bandeirantes partiram do Vale do Paraíba paulista e, passando pela Garganta do Embaú, ponto mais baixo em toda a extensão da Serra da Mantiqueira, chegaram a um imenso sertão que seria chamado mais tarde de Minas Gerais. O trajeto recebeu o nome de Caminho Geral do Sertão, e ligava a Capitania de São Paulo às Minas.


Os primeiros bandeirantes que passavam por certo lugar, deixavam ali para os viajantes posteriores, pequenas roças plantadas, local para descanso e, às vezes, erguiam uma rústica capela. Essas paradas originaram os núcleos de muitas cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais.


No final do século 17, foi descoberto ouro, assim como diamantes e outras pedras preciosas em território mineiro. Por ser a principal via de escoamento da mineração, o Caminho Geral do Sertão era muito utilizado para o transporte de grandes riquezas em carregamentos de ouro e pedras preciosas.


Por esse motivo, a Coroa Portuguesa passou a atribuir natureza oficial ao caminho, chamando-o de Estrada Real. Tinha início em Diamantina, no norte de Minas Gerais, e passava por Vila Rica (atual Ouro Preto), de onde se bifurcava, dando origem ao Caminho Velho e ao Caminho Novo. 


O Caminho Velho da Estrada Real percorria o interior de Minas Gerais e entrava em São Paulo, cruzando a divisa entre os dois estados no alto da Serra da Mantiqueira, através de seu ponto mais baixo, a Garganta do Embaú, e descia para o fundo do Vale do Paraíba paulista.


Em território paulista, a Estrada Real passa pelos municípios de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Lorena, Guaratinguetá e Cunha, chegando finalmente a Paraty, no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, de onde o ouro e as pedras preciosas eram embarcados para Portugal. Os 1200 quilômetros do Caminho Velho da Estrada Real eram percorridos em aproximadamente 95 dias de viagem pelas tropas de viajantes carregadores, cujas cargas eram transportadas por mulas.


Símbolo da Estrada Real, ...



que começa em Diamantina, no norte de Minas, e vai até Ouro Preto; esse trecho, em preto no mapa, tinha o nome de Trilha dos Diamantes. A partir de Ouro Preto, a Estrada Real se bifurca entre o Caminho Velho, à esquerda em marrom, que termina em Paraty / RJ, e o Caminho Novo, em vermelho, que passa por Juiz de Fora / MG, Petrópolis / RJ, e chaga ao norte da Baía de Guanabara, de onde o ouro e as pedras preciosas eram levados ao porto do Rio de Janeiro e embarcados para Portugal

Duas imagens de trechos preservados da Estrada Real em território mineiro, ...

onde ainda é possível observar a pavimentação original do século 18, em blocos de pedras

Paraty, no RJ, onde o Caminho Velho da Estrada Real termina após cruzar a Serra da Mantiqueira, o Vale do Paraíba paulista e a Serra do Mar, ao fundo

A Estrada Real também servia para o escoamento e o transporte de escravos, mercadorias e animais. E sobre tudo isso pagava-se imposto; mas o que interessava mesmo à Coroa Portuguesa era o Quinto. 

De toda e qualquer quantidade de ouro ou diamante que fosse transportada pela Estrada Real, deveria ser dado um quinto como imposto à Coroa Portuguesa; e foi daí que surgiu a expressão atual "quinto dos infernos", usada no português falado no Brasil.

Em 2001, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) criou o Instituto Estrada Real, que tem o propósito de promover o reconhecimento histórico e cultural do caminho



Os 1400 quilômetros das três vias da Estrada Real (Caminho dos Diamantes, Caminho Velho e Caminho Novo), que passam por 162 municípios de Minas, 7 de São Paulo e 8 do Rio de Janeiro, receberam marcos indicativos graças a uma parceria entre FIEMG e geógrafos da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). A marcação vermelha indica o ponto da localização do marco no curso da Estrada Real



O projeto instalou 1927 marcos ao longo da Estrada Real. Cada exemplar possui informações com a indicação do município mais próximo, telefones úteis, atrativos da região, distâncias em quilômetros e localização do ponto por GPS

Para fiscalizar, controlar e cobrar os impostos, Portugal criou espécies de pedágios chamados de registros. Esses registros eram pequenas construções localizadas em pontos estratégicos da Estrada Real, como margens de rios, desfiladeiros e passagens de serras, onde havia um portão com cadeado.

Em cada registro, sempre ficavam dois ou quatro soldados, um contador, um administrador e um fiel. Um desses registros ficava na Garganta do Embaú, no cruzamento da Estrada Real com o ponto mais baixo em toda a extensão longitudinal dos 500 quilômetros da Serra da Mantiqueira.



 
Trecho da Estrada Real em Guaratinguetá / SP, ...
  


de onde é possível observar o relevo da Serra da Mantiqueira ao fundo. O relevo da Serra se abaixa formando a Garganta do Embaú, por onde os bandeirantes paulistas, no século 17, chegaram às Minas Gerais, do outro lado, e por onde o curso do Caminho Velho da Estrada Real vem e entra em SP. Um dos postos de registro de cobrança do "Quinto" ficava no alto da Graganta do Embaú, em função de sua localização estratégica

Todo esse apogeu da mineração nas Gerais se estendeu pelo século 18 inteiro e terminou no início do século 19, quando os caminhos da Estrada Real passaram a ser livres. Porém, seus traçados formaram o principal fator de ligação com o litoral e a ampliação territorial da américa portuguesa, além da integração do que hoje é a Região Sudeste do Brasil.

A Estrada Real contribuiu de forma significativa para o encontro e a fusão de diversas culturas: imigrantes paulistas, pernambucanos, baianos, europeus, tropeiros do sul, escravos negros e índios. Diversas cidades do sudeste brasileiro surgiram a partir de pequenas capelas, vendas e ranchos de tropas instalados ao longo da Estrada Real e de outros caminhos oficiais da época. Passa por este trajeto, ou melhor, pela Estrada Real, a História do Brasil.


Para saber mais sobre a Estrada Real e ver belas fotos, acesse o blog http://estradareal4x4.blogspot.com.br/ de Moacir Ledeira. Moacir, agradecemos seu comentário e suas considerações. Abração! 




Outro blog interessante com mais informações históricas, vídeos e fotos sobre a Estrada Real é o http://sergiopiquetopolis.blogspot.com.br/ de Sérgio dos Santos, a quem agradecemos pelo atencioso comentário na publicação anterior da edição deste trabalho sobre a Estrada Real.

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