Por Cássio Ribeiro
1º de julho de 1946. A marinha dos
Estados Unidos realiza uma série de explosões nucleares a fim de testar
bombas atômicas no Atol de Bikini, ao sul do Oceano Pacífico, perto da
Oceania.
Teste nuclear da marinha americana em 1946 ...
no Atol de Bikini, localizado no Oceano Pacífico
Dois dias depois, em 3 de julho de
1946, o francês e engenheiro mecânico desempregado Luois Réard
apresentava ao mundo uma inédita peça da vestimenta feminina, que ele
mesmo chamou de biquíni, já que tinha a certeza de que, mesmo naquela
sociedade liberal européia da década de 40, o pequeno traje seria
encarado como uma explosão nuclear; e foi.
Comparado com os modelos de hoje, o biquíni inicial era um tanto
comportado. Mesmo assim, nenhuma modelo daquele ano de 1946 aceitou vestir-se e
desfilar no lançamento da nova peça, que cabia em uma caixa de fósforos.
Esse primeiro biquíni usado no lançamento trazia a disposição da página de um jornal em sua
estampa.
A tarefa de modelo acabou sobrando para a francesa
Michelini Bernardini, uma dançarina que fazia show tirando a roupa todas
as noites em uma casa noturna de Paris. Michelini então desfilou e
posou para fotos à beira de uma piscina em Paris, naquele julho de 1946.
Os jornais da época descreveram o primeiro biquíni como "quatro
triângulos de nada".
Michelini Bernardini no momento do lançamento do biquíni, segurando a caixa de fósforos da qual a paça saíra antes de ser vestida por ela. A estampa do primeiro biquíni reproduzia a página de um jornal
Apesar do escândalo, Michelini recebeu 50 mil cartas de admiradores. Mesmo
sendo sensação de divulgação na imprensa da época, o biquíni chegou às
lojas mas não fez sucesso num primeiro momento. O tradicional maiô ainda
roubava a cena numa época em que o biquíni representava escândalo.
Essa realidade
só começou a mudar graças ao Cinema, onde a atriz francesa Brigitte Bardot
atuou sem inibição nos filmes "E Deus Criou a Mulher", em meados da
década de 50, e "As Noviças", em 70.
Brigitte também contribuiu para a
popularização do Biquíni no Brasil, depois que fotos suas desfilando no
verão de 64 com um minúsculo biquíni em Búzios, no RJ, ganharam o
mundo. Até esse fato, o biquíni só era usado no Brasil pelas vedetes do
teatro rebolado.
Brigitte Bardot no filme "As Noviças", de 1970
Ainda na década de 60, com a onda de liberalismo que tomou conta do mundo, o
biquíni passou a representar um comportamento de mulheres que buscavam a
independência e a liberdade numa forma de protesto, tanto que o então
presidente Jânio Quadros (1917–1992), proibiu o uso do biquíni
nas praias brasileiras, por meio de um decreto assinado em 1961.
A proibição foi a espoleta que faltava para
deflagrar o uso desenfreado da peça, que só diminuía de tamanho com o
passar dos anos.
Já na
década de 70, a ousadia reuniu o biquíni com a exposição de uma barriga
de 7 meses de gravidez na praia de Ipanema. Essa ousadia tinha um nome
que ficou famoso como um símbolo de atitude da liberação feminina: Leila
Diniz, que foi a primeira grávida a desfilar de biquíni em público, no
ano de 1971, na famosa praia carioca.
Leila aos 7 meses de gestação em Ipanema, em 1971
A atriz niteroiense Leila Diniz morreria um ano depois, em um acidente de avião ocorrido em Nova Délhi, Índia, em 14 de junho de 1972
A partir de Leila Diniz, o Brasil,
graças aos seus 7 mil quilômetros de praias e verão durante quase todo o
ano em alguns lugares, passou a despontar como o grande celeiro de
tendências da moda dos biquínis.
A
carioca Rose di Primo lançou a tanga ainda nos idos dos anos 70, aos 16
anos, quando substitui as laterais de um biquíni muito apertado, e que
não passava pelas pernas, por tiras de pano. Apesar dos protestos de sua
mãe, Rose escandalizava diariamente a liberal Ipanema com seus
minúsculos modelos de tanga recém criados.
Na
década de 80, o Brasil se consagra e se firma no cenário mundial como
líder da produção de biquínis, e na vanguarda das tendências de novos
modelos.
As inovações surgem sobre os corpos esculturais de verdadeiras
deusas como Monique Evans (e seu famoso topless), Luiza Brunet, Isadora
Ribeiro e toda uma constelação adornada pelos modelos enroladinho, sutiã
cortininha e asa delta. Quando o tamanho não tinha mais para onde
diminuir, surgiu mais um modelo 100% brasileiro chamado fio dental, que
acabou ganhando as praias de todo o mundo e, ainda hoje, é o preferido
das mulheres mais jovens.
O modelo asa delta: sempre destacando a beleza e o charme escultural da mulher carioca
O fio dental de Isadora Ribeiro e ...
o atual modelo fio dental, mais "radical"
Nos anos 90, o biquíni ganha
acompanhamentos ditados pela moda: cangas coloridas, óculos, saídas de
praia, chapéus, chinelos e toalhas.
O Brasil hoje é o país que mais fabrica
e consome biquínis no mundo, além de ter a qualidade de suas peças
reconhecida mundialmente pelo estilo ousado e pela criatividade dos
modelos. São cerca 60 milhões de biquínis produzidos todos os anos no
país, dos quais, 9 milhões são exportados.
A modernidade evolutiva proporcionou
agilidade e qualidade na produção das peças: corte dos modelos a laser,
tecidos que secam rapidamente e repelem os raios solares nocivos ao
corpo, além de impedirem a proliferação de bactérias.
Ainda está longe de existir, mas os
especialistas afirmam que algumas futuras inovações serão tecidos que
mudarão de cor conforme a temperatura e possuirão propriedades
anticelulite e antiestrias.
Ao biquíni, sempre associado ao corpo
daquela que talvez seja a mais perfeita de todas as criaturas já concebidas, a mulher,
resta a definição dada por uma das mais importantes editoras de moda do
mundo, Diana Vreeland (1903-1989), com passagem pelas revistas
americanas de moda Vogue, Harper’s e Bazaar: "É a invenção mais importante deste
século 20, depois da bomba atômica", disse ela.
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