domingo, 5 de agosto de 2012

BIQUÍNI: A EVOLUÇÃO DOS 4 "TRIÂNGULOS DE NADA"






Por Cássio Ribeiro

1º de julho de 1946. A marinha dos Estados Unidos realiza uma série de explosões nucleares a fim de testar bombas atômicas no Atol de Bikini, ao sul do Oceano Pacífico, perto da Oceania.


Teste nuclear da marinha americana em 1946 ...


 no Atol de Bikini, localizado no Oceano Pacífico



Dois dias depois, em 3 de julho de 1946, o francês e engenheiro mecânico desempregado Luois Réard apresentava ao mundo uma inédita peça da vestimenta feminina, que ele mesmo chamou de biquíni, já que tinha a certeza de que, mesmo naquela sociedade liberal européia da década de 40, o pequeno traje seria encarado como uma explosão nuclear; e foi.


Comparado com os modelos de hoje, o biquíni inicial era um tanto comportado. Mesmo assim, nenhuma modelo daquele ano de 1946 aceitou vestir-se e desfilar no lançamento da nova peça, que cabia em uma caixa de fósforos. Esse primeiro biquíni usado no lançamento trazia a disposição da página de um jornal em sua estampa.


A tarefa de modelo acabou sobrando para a francesa Michelini Bernardini, uma dançarina que fazia show tirando a roupa todas as noites em uma casa noturna de Paris. Michelini então desfilou e posou para fotos à beira de uma piscina em Paris, naquele julho de 1946. Os jornais da época descreveram o primeiro biquíni como "quatro triângulos de nada".



Michelini Bernardini no momento do lançamento do biquíni, segurando a caixa de fósforos da qual a paça saíra antes de ser vestida por ela. A estampa do primeiro biquíni reproduzia a página de um jornal

Apesar do escândalo, Michelini recebeu 50 mil cartas de admiradores. Mesmo sendo sensação de divulgação na imprensa da época, o biquíni chegou às lojas mas não fez sucesso num primeiro momento. O tradicional maiô ainda roubava a cena numa época em que o biquíni representava escândalo.

Essa realidade só começou a mudar graças ao Cinema, onde a atriz francesa Brigitte Bardot atuou sem inibição nos filmes "E Deus Criou a Mulher", em meados da década de 50, e "As Noviças", em 70. 

 Brigitte também contribuiu para a popularização do Biquíni no Brasil, depois que fotos suas desfilando no verão de 64 com um minúsculo biquíni em Búzios, no RJ, ganharam o mundo. Até esse fato, o biquíni só era usado no Brasil pelas vedetes do teatro rebolado.



Brigitte Bardot no filme "As Noviças", de 1970


Ainda na década de 60, com a onda de liberalismo que tomou conta do mundo, o biquíni passou a representar um comportamento de mulheres que buscavam a independência e a liberdade numa forma de protesto, tanto que o então presidente Jânio Quadros (1917–1992), proibiu o uso do biquíni nas praias brasileiras, por meio de um decreto assinado em 1961. 

A proibição foi a espoleta que faltava para deflagrar o uso desenfreado da peça, que só diminuía de tamanho com o passar dos anos.


Já na década de 70, a ousadia reuniu o biquíni com a exposição de uma barriga de 7 meses de gravidez na praia de Ipanema. Essa ousadia tinha um nome que ficou famoso como um símbolo de atitude da liberação feminina: Leila Diniz, que foi a primeira grávida a desfilar de biquíni em público, no ano de 1971, na famosa praia carioca.


Leila aos 7 meses de gestação em Ipanema, em 1971


 A atriz niteroiense Leila Diniz morreria um ano depois, em um acidente de avião ocorrido em Nova Délhi, Índia, em 14 de junho de 1972



A partir de Leila Diniz, o Brasil, graças aos seus 7 mil quilômetros de praias e verão durante quase todo o ano em alguns lugares, passou a despontar como o grande celeiro de tendências da moda dos biquínis.


A carioca Rose di Primo lançou a tanga ainda nos idos dos anos 70, aos 16 anos, quando substitui as laterais de um biquíni muito apertado, e que não passava pelas pernas, por tiras de pano. Apesar dos protestos de sua mãe, Rose escandalizava diariamente a liberal Ipanema com seus minúsculos modelos de tanga recém criados.


Na década de 80, o Brasil se consagra e se firma no cenário mundial como líder da produção de biquínis, e na vanguarda das tendências de novos modelos. 

As inovações surgem sobre os corpos esculturais de verdadeiras deusas como Monique Evans (e seu famoso topless), Luiza Brunet, Isadora Ribeiro e toda uma constelação adornada pelos modelos enroladinho, sutiã cortininha e asa delta. Quando o tamanho não tinha mais para onde diminuir, surgiu mais um modelo 100% brasileiro chamado fio dental, que acabou ganhando as praias de todo o mundo e, ainda hoje, é o preferido das mulheres mais jovens. 



O modelo asa delta: sempre destacando a beleza e o charme escultural da mulher carioca






O fio dental de Isadora Ribeiro e ...




o atual modelo fio dental, mais "radical"



Nos anos 90, o biquíni ganha acompanhamentos ditados pela moda: cangas coloridas, óculos, saídas de praia, chapéus, chinelos e toalhas.


O Brasil hoje é o país que mais fabrica e consome biquínis no mundo, além de ter a qualidade de suas peças reconhecida mundialmente pelo estilo ousado e pela criatividade dos modelos. São cerca 60 milhões de biquínis produzidos todos os anos no país, dos quais, 9 milhões são exportados. 


A modernidade evolutiva proporcionou agilidade e qualidade na produção das peças: corte dos modelos a laser, tecidos que secam rapidamente e repelem os raios solares nocivos ao corpo, além de impedirem a proliferação de bactérias.

Ainda está longe de existir, mas os especialistas afirmam que algumas futuras inovações serão tecidos que mudarão de cor conforme a temperatura e possuirão propriedades anticelulite e antiestrias.


Ao biquíni, sempre associado ao corpo daquela que talvez seja a mais perfeita de todas as criaturas já concebidas, a mulher, resta a definição dada por uma das mais importantes editoras de moda do mundo, Diana Vreeland (1903-1989), com passagem pelas revistas americanas de moda Vogue, Harper’s e Bazaar: "É a invenção mais importante deste século 20, depois da bomba atômica", disse ela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário