domingo, 25 de novembro de 2012

A COLONIZAÇÃO HOLANDESA NO BRASIL






Por Cássio Ribeiro

Os holandeses só se fixaram à força no Brasil, e ficaram por aqui colonizando o Nordeste de nosso país durante 24 anos, devido a alguns acontecimentos históricos que acabaram transformando os antes principais aliados comerciais de Portugal, em inimigos que travaram grandes batalhas pelo domínio da Bahia, Pernambuco, Maranhão e Rio Grande do Norte. 


Os holandeses participavam ativamente do transporte da cana produzida nas colônias portuguesas, como também do seu refino e a comercialização do produto final no rendoso mercado europeu. A Espanha dominava o que hoje são os Países Baixos (Holanda e Bélgica), regiões da Itália (Sardenha, Nápoles e Sicília), além de colônias nas três Américas, na África e no Oriente. 


Em 1578, o rei de Portugal Dom Sebastião morreu na Batalha de Alcácer-Quibir, na África, onde os portugueses foram derrotados pelos Árabes. Dom Sebastião não tinha filhos e, por esse motivo, seu tio-avô, o já idoso Cardeal Dom Henrique, assumiu o trono português. Dom Henrique morreu dois anos depois, em 1580, deixando novamente sem dono a Coroa Portuguesa. 


Surgiram vários pretendentes querendo ocupar a posição de rei de Portugal, entre eles, figuravam em destaque os dois principais candidatos, que eram o poderoso rei da Espanha, Felipe II, e um certo Dom Antônio, unânime preferido do povo português. O rei Dom Henrique, em seu leito de morte, não quis coroar Dom Antônio, facilitando o caminho para que o rei espanhol Felipe II passasse também a ser o rei de Portugal. 


Pouco antes do rei Dom Henrique morrer, o povo português cantava o seguinte corinho nas ruas: “Viva el-rei Dom Henrique, no inferno muitos anos, por deixar em testamento, Portugal aos castelhanos”.



Felipe II chegou ao trono português porque era neto, pelo lado materno, do rei português Dom Manoel, conhecido também como O Venturoso. Pelo lado paterno, Felipe II descendia da casa real da Áustria, ou família Habsburgo, que realizou uma série de casamentos no século 16 visando interesses políticos. Dessa forma, os Habsburgo conseguiram reunir um imenso território que abrangia porções de terra em todos os continentes. Com a nomeação de Felipe II para ocupar o trono lusitano, Espanha e Portugal formaram a União Ibérica (1580 – 1640), dominada pela Dinastia Filipina.



 O poderoso rei espanhol Felipe II, que acabou anexando Portugal por meio da União Ibérica, 


e o escudo de sua família real, os Habsburgo, que dominou regiões em todo o Globo. No brasão, é possivel observar em sua parte superior, o leão holandês, o Brasão de Portugal, as águias germânicas e a bandeira da casa real da Áustria, além de símbolos de outros territórios do imenso reino de Felipe II


A Holanda, que também era dominada pela dinastia Filipina, declarou-se independente em 1581. Em represália, Felipe II proibiu todas as relações comerciais entre os holandeses e as colônias espanholas e portuguesas em todo o mundo, incluindo o Brasil.


 
Essa medida representou um forte golpe na economia holandesa, baseada em grande parte nas relações comerciais com a colônia brasileira. Para a nova classe social dominante holandesa, formada pelos ricos comerciantes de Amsterdam que ascenderam ao poder depois que a Holanda se libertou da Espanha, a principal prioridade foi recuperar o domínio do monopólio comercial do açúcar produzido no Nordeste Brasileiro.


Foi nesse cenário que aconteceram as invasões holandesas no Brasil. Muitos historiadores consideram como a primeira tentativa de invasão holandesa no Brasil, a investida da expedição do almirante Olivier Van Noort, que em 1599, ao passar pelos arredores da entrada da Baía da Guanabara, na então Capitania do Rio de Janeiro, pediu apoio para obter suprimentos frescos e higienizar seus 4 navios, já que enfrentava um surto de escorbuto entre sua tripulação de 248 homens.


O governo da Capitania do Rio de Janeiro, obedecendo as ordens da metrópole luso-espanhola, não permitiu a aproximação dos quatro grandes navios holandeses, que foram repelidos por tiros de canhão da artilharia da Fortaleza de Santa Cruz da Barra. 


Os holandeses comandados por Van Noort só conseguiram atracar mais ao sul, na praticamente deserta Ilha Grande/RJ, onde puderam finalmente higienizar suas embarcações.






O holandês Olivier Van Noort, que deu a volta ao mundo e enfrenttou um surto de escorbuto entre seus homens, quando passava pelo litoral do RJ, em 1599


A Holanda era uma das potências marítimas das Grandes Navegações nos séculos 16 e 17


Partiram do RJ e, já em 6 de fevereiro de 1600, cruzaram o Estreito de Magalhães e navegaram pelo oceano Pacífico, ao longo das costas do Chile e do Peru, onde saquearam e queimaram várias embarcações, algumas espanholas inclusive. 


Depois de cruzarem todo o Pacífico, chegaram às Filipinas, onde afundaram umas das principais embarcações espanholas da época, o galeão mercante San Diego, que naufragou pesando trezentas toneladas. Os destroços do navio foram encontrados em 1995, ainda carregados com um imenso tesouro em moedas de ouro e peças de porcelana.


Os holandeses ainda saquearam as Filipinas e visitaram Java, antes de contornarem o Cabo da Boa Esperança, no Sul da África, e seguirem de volta para a Europa. Atracaram finalmente de volta a Roterdã, em 26 de agosto de 1601, só com um dos quatro navios iniciais, tripulado apenas por 45 sobreviventes dos 248 integrantes que começaram a expedição em 1598. Alguns historiadores atribuem a Olivier Van Noort a descoberta da Antártida nesta viagem.


A primeira invasão oficial holandesa no Brasil aconteceu em 1624. A poderosa Companhia das Índias Ocidentais, criada pela rica classe de comerciantes holandeses para dominar as colônias espanholas nas Américas, preparou uma imensa e poderosa esquadra para atacar a Bahia, porém, a notícia sobre os planos da invasão chegaram ao Brasil muito antes do fato acontecer.


O governador geral da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, tentou organizar uma resistência antecipada, mas a demora da chegada dos holandeses fez os preparativos para a defesa serem negligenciados.


Em 9 de maio de 1624, 26 navios comandados pelo holandês Jacob Willekens, com 1700 soldados e 1600 tripulantes abordo, entraram na Baía de Todos os Santos e tomaram Salvador em menos de 24 horas, diante de uma modesta e inútil tentativa de resistência. Muitos dos soldados portugueses que defendiam a costa brasileira abandonaram os combates na ocasião. Os holandeses tomaram 8 navios e atearam fogo em outros 7.


O governador Diogo de Mendonça Furtado foi preso e embarcado para a Holanda. Os portugueses, mesmo com a ocupação Holandesa, fizeram questão de não reconhecer a perda do território. Dom Marcos Teixeira, então quinto bispo do Brasil, foi nomeado pelos portugueses como o novo governador da Capitania invadida.


Dom Marcos organizou a resistência contra os invasores. Como as forças portuguesas e brasileiras não tinham condições de travar uma batalha frontal com os holandeses, foi adotada a tática de emboscadas.


O emprego do fator surpresa nos ataques possibilitou sucesso aos defensores locais. Morreram os holandeses Johan Van Dorth, comandante dos soldados invasores, e seu sucessor, Willem Schouten. Salvador passou a ser um cenário de confinamento para os holandeses completamente cercados. Os suprimentos chegavam pelo mar.


Em 1625, no fim de março, a Espanha enviou 52 navios ao Brasil (30 espanhóis e 22 portugueses), com cerca de 13 mil homens. Os holandeses foram obrigados a assinar a rendição. O governante holandês Hans Kijff aceitou as condições impostas: entrega da cidade de Salvador com toda artilharia, armas, munições, bandeiras e navios que estavam no porto; entrega de todo dinheiro, ouro, prata, jóias e escravos que estivessem na cidade ou nos navios; restituição de todos os prisioneiros; exigência de que os vencidos não lutariam contra a Espanha até chegarem à Holanda. Aos holandeses, foram prometidos navios, armas e mantimentos suficientes para o retorno à sua pátria.


A derrota na invasão da Bahia gerou imenso prejuízo aos cofres da Companhia das Índias Ocidentais, porém, as vultosas perdas econômicas foram compensadas quando o almirante holandês Pieter Heyn aprisionou uma esquadra espanhola com um dos maiores carregamentos de prata da História, durante viagem entre o México e a Espanha.


Todo o lucro obtido foi investido para financiar uma nova expedição invasora ao Brasil. O alvo foi a Capitania de Pernambuco, que era o maior centro açucareiro do Brasil Colônia.


O governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque, preparou suas forças para resistir aos invasores, apenas com os recursos existentes em Pernambuco na época. A tropa de defensores era formada por apenas 27 soldados. Em 14 de fevereiro de 1630, uma esquadra de sessenta embarcações holandesas, com um total de 7 mil homens, chegou para colonizar Olinda.


Foram enviados reforços portugueses e espanhóis para a região. O governador Matias de Albuquerque tentou resistir em Recife, dando a ordem para queimar os armazéns e os navios que se encontravam no porto. Mesmo assim, Recife também foi dominada pelos holandeses.


A aproximadamente seis quilômetros de Recife e Olinda, foi edificado um foco de resistência batizado de Arraial do Bom Jesus. Do local, partiam combatentes que, usando as mesmas técnicas de guerrilha empregadas anteriormente em Salvador, também conseguiram sitiar os holandeses em Recife.


A Espanha preparou uma esquadra para apoiar a resistência pernambucana. A Holanda também enviou reforços ao Nordeste brasileiro para intensificar a resistência. As duas forças navais se encontraram próximo à costa brasileira, e o combate terminou empatado, com grande perda de homens dos dois lados.


Ao fim desta batalha, os holandeses incendiaram Olinda e recolheram-se exclusivamente em Recife, onde permaneceram encurralados por dois anos, impossibilitados de ampliar seus domínios pelas emboscadas pernambucanas.


Os holandeses já cogitavam a desocupação de Recife, quando Domingos Fernandes Calabar, que até então havia lutado do lado pernambucano, passou a integrar as tropas holandesas. Calabar conhecia os pontos fracos da resistência pernambucana, como também todos os caminhos da região onde ocorria a luta. Era o trunfo que os holandeses precisavam para a virada nos rumos da batalha pelo rentável e valioso nordeste açucareiro brasileiro.



O guerrilheiro mulato Domingos Fernandes Calabar, que mudou de lado, passando a apoiar a ocupação holandesa


Vitórias seguidas deram aos holandeses o controle sobre a Vila de Igaraçu, o Forte do Rio Formoso e até o Arraial do Bom Jesus, que era o quartel general da resistência portuguesa, e só foi conquistado pelas forças da Holanda após três meses de cerco e intensos combates.


A Espanha não enviou os recursos que os pernambucanos precisavam para impedir a edificação dos domínios holandeses. As forças defensoras de Pernambuco, formadas por cerca de 8 mil homens entre portugueses, índios e até espanhóis, recuaram para Alagoas. O holandeses só perderam a batalha de Porto Calvo, mas com ela, também se foi seu maior trunfo, Domingos Fernandes Calabar. Preso, Calabar foi enforcado e esquartejado alguns dias depois. 


 
Calabar finou-se, mas os holandeses agora eram os senhores absolutos de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Nessa região, a Companhia das Índias Ocidentais idealizava a criação de uma imensa colônia de povoamento, como ocorreu nos Estados Unidos. A capital da denominada Nova Holanda seria a cidade de Recife. 


Mapa do litoral nordeste brasileiro. A região em rosa foi dominada pelos holandeses. É curioso notar que algumas cidades da "Nova Holanda" tinham nomes diferentes daqueles que foram dados pelos portugueses: Natal RN, se chamaria Nova Amsterdam; João Pessoa PB seria Frederícia, e Aracaju possivelmente teria hoje o nome de São Cristovão



Pintura que retrata o Recife histórico, ... 





onde as caracerísticas marcantes da arquitetura holandesa são facilmente observadas, como nesse conjunto de fachadas que lembram os prédios históricos da capital Amsterdam







Recife é consederada patrimônio artístico nacional, e patrimônio histórico cultural da humanidade




Em 1637, a Holanda enviou outro grande reforço a Pernambuco. Várias embarcações trouxeram o novo governador do Brasil Holandês. O conde João Maurício de Nassau-Siegen teve seu nome escrito para sempre na História do Brasil, graças ao melhor período da colonização holandesa por aqui, ocorrido durante seu governo.





João Maurício de Nassau-Siegen, administador holandes que idealizou a colonização inicial do Nordeste brasileiro nos mesmos moldes daqueles adotados nas colônias que se tornaram países ricos e desenvolvidos hoje em dia 

 
Os territórios ocupados pelos holandeses tiveram Maurício de Nassau como capitão-general, almirante das forças de terra e de mar e governador. Nassau praticamente aniquilou a resistência dos pernambucanos, venceu as forças portuguesas de Alagoas, e atacou o Ceará e Sergipe. A Bahia só não foi ocupada outra vez porque seu governador, Pedro da Silva, resistiu desesperadamente auxiliado pelas forças do índio Antônio Felipe Camarão.


 
Em 1639, enquanto a Espanha enviava cerca de 1200 soldados como reforço, que desembarcaram no Rio Grande do Norte e percorreram cerca de 2400 quilômetros até a Bahia, Nassau e suas qualidades natas de administrador firmavam o domínio holandês em quase todo o litoral do Nordeste Brasileiro. 


As guerras, porém, não permitiram que a Companhia das Índias Ocidentais lucrasse com a produção de açúcar, já que o conflito fez as produções dos engenhos caírem consideravelmente.


Os holandeses passaram a investir na conquista econômica plena da região. Maurício de Nassau estabeleceu ótimo relacionamento com os senhores dos engenhos, ao oferecer facilidades para a produção e o comércio do valioso açúcar.


Os fazendeiros também tinham interesse em manter o funcionamento pleno de seus engenhos e comercializar facilmente seu açúcar produzido. Nassau facilitou tudo isso, criado condições para atender os interesses dos donos de engenho, concedendo-lhes créditos que possibilitaram a compra e a reativação de engenhos abandonados.


As primeiras moedas brasileiras foram cunhadas pelos holandeses em Pernambuco, no século 17


Na gestão de Nassau, Olinda foi reconstruída e, em Recife, foram erguidos os palácios de Friburgo e da Boa Vista, além de pontes, hospitais e orfanatos. Era um rumo de administração bem diferente daquele adotado pelos portugueses antes da ocupação flamenga.


 
Nassau trouxe sábios, filósofos e estudiosos para desvendarem os segredos da flora e da fauna brasileiras. Pintores famosos como Franz Post e os irmãos Pieter também vieram e deixaram quadros que retratam a paisagem brasileira da época. O primeiro observatório astronômico do Brasil também foi construído no palácio de Friburgo.


 A zona urbana de Recife no século 17, ...


 assim como as riquezas da nova colônia, ...


foram retratadas nas obras dos mais famosos pintores holandeses da época, ...


trazidos por Nassau ao Nordeste Brasileiro para registrarem o cotidiano da "Nova Holanda", num tempo em que ainda não existia a fotografia


Apesar de protestante, como todos os holandeses, Nassau deu liberdade de culto religioso aos católicos e aos judeus, e garantiu a participação política de brasileiros e portugueses por meio das Câmaras Municipais nos moldes holandeses, chamadas de Câmaras do Escabinos. 



 
Em 1640, o domínio espanhol sobre Portugal caiu, e a Dinastia de Bragança passou a governar um território português novamente independente. Portugal e Holanda assinaram um acordo de não agressão por 10 anos. Ainda assim, Nassau atacou o Maranhão e o incorporou aos territórios holandeses no Brasil.


Nassau era contra a política administrativa da Companhia das Índias Ocidentais, e não concordava com a imposição de juros altos e a cobrança rigorosa dos empréstimos concedidos aos senhores de engenho. Nassau acabou afastado do cargo de administrador da “Nova Holanda” e voltou para a Europa em maio de 1644. 



Sua ida pôs fim ao melhor período da ocupação holandesa no Brasil. A administração posterior fez renascer o ódio dos moradores do litoral nordestino contra os invasores, devido às cobranças sem piedade das dívidas dos senhores de engenho. Quem não pagava, tinha seus bens confiscados pelos holandeses. 



Nassau se foi e, um ano depois de sua partida, a reação contra o domínio holandês recomeçou em Pernambuco. Em 1645, João Fernandes Vieira, um dos mais ricos habitantes de Pernambuco, liderou a insurreição formada por brancos, negros, índios, brasileiros e portugueses, a fim de expulsar os invasores.



O governo português, respeitando o acordo de não agressão contra os holandeses, não ofereceu, pelo menos oficialmente, apoio aos revoltosos brasileiros. O primeiro combate importante, que marcou o início da virada no cenário do conflito, aconteceu no Monte das Tabocas, onde os holandeses foram derrotados. Os pernambucanos também venceram em Serinhaém, Nazaré e Porto Calvo.



 
Em 19 de abril de 1648, os pernambucanos venceram a primeira batalha dos Montes Guararapes. Os holandeses, cercados em Recife, voltaram a receber seus abastecimentos exclusivamente por meio de navios que vinham da Holanda.


Em 19 de fevereiro de 1649, os holandeses tentaram romper o cerco a Recife, mas foram derrotados novamente na segunda batalha dos Montes Guararapes. As lutas duraram quase cinco anos, e a situação dos holandeses só piorou, até culminar com a necessidade de rendição. 




 Pintura de óleo sobre tela de Victor Meireles, onde a batalha final e decisiva ocorrida no Monte dos Guararapes é retratada


 
Brasão holandês da Batalha dos Guararapes


 
Em 26 de janeiro de 1654, o comandante holandês Sigismundo Von Schkopp assinava a rendição na Campina do Taborba. Terminava a ocupação holandesa no Nordeste brasileiro, depois de 24 anos.


 O Brasil pode não ter tido a chance de que, em seu litoral nordestino, fosse desenvolvida uma colonização de povoamento como aconteceu nos Estados Unidos. Porém, o domínio holandês por duas décadas e meia, e a luta para expulsá-los tiveram significativas conseqüências para o Brasil:


1 - Colaboraram para a urbanização na região litorânea. O Recife holandês tornou-se um dos mais importantes centros urbanos em todo o Brasil.


2 - Favoreceram a manutenção da unidade territorial da colônia, e contribuíram decisivamente para o desenvolvimento do sentimento nacional.


3 - Promoveram uma união mais efetiva entre os elementos étnicos formadores do povo brasileiro, unidos na causa comum de combater os invasores, e permitiram a realização de uma experiência social, que foi o nascimento da sociedade urbana de Recife, bem diferente da sociedade rural típica do Nordeste canavieiro.



De uma forma ou de outra, se a ocupação holandesa não conseguiu criar por aqui uma nação separada do Brasil, que hoje poderia ter os moldes dos países desenvolvidos do primeiro mundo, ela foi eficaz para o surgimento de um sentimento de unidade nacional que se solidificou e originou o que hoje se observa nos mapas como a expressão territorial geográfica unida que consolidou o Brasil.

sábado, 24 de novembro de 2012

TRICOLOR DA TERRA DE SÃO FREI GALVÃO ESCAPA DA SÉRIE C NA ÚLTIMA RODADA






Não foi a conquista de um título, mas a festa foi digna das maiores glórias. Aliás, é mesmo uma tremenda glória escapar da Série C do Brasileirão, que é uma competição árdua no sentido das viagens longínquas quando se joga fora de casa e da quantidade de equipes pleiteando o cobiçado acesso à Série B. 


Série B na qual permanece o Guaratinguetá Futebol após vencer em casa o Grêmio Barueri por 2 x 1 nessa tarde. Bragantino também escapou da degola ao vencer o Boa Esporte em casa por 3 x 0.

A tarde foi muito feliz para a Garça do Vale, porém, o tradicional Guarani de Campinas, Campeão Brasileiro em 1978, foi rebaixado para a Série C do Brasileirão, ao perder por 2 X 1 para o São Caetano.

O ponto alto da comemoração ao final do jogo em Guaratinguetá foi o centroavante Alemão roubando o carrinho que presta o socorro e faz a remoção dos jogadores que sofrem alguma contusão durante as partidas. Alemão veio em direção à torcida com o carrinho e fez um rodopio de 180 graus, voltando em direção ao meio campo. Sacudiu o carrinho ocupado por alguns jogadores em leves ziguezagues até virar à esquerda e parar voltado para a trave da lanchonete de Dito Pelé.

Todos abandonaram o carrinho e saíram correndo, inclusive Alemão de cueca, já que arremessou seu short em direção à Torcida Jovem da Garça. Foram 6 reais muito bem pagos pelo ingresso, pois a festa no estádio Dario Leite foi inesquecível hoje para os nobres guaratinguetaenses.

Parabéns ao Guaratinguetá pela conquista que não foi a de um título, mas resultou no mesmo “orgasmo” coletivo da conquista de um campeonato na tarde de hoje. De fato foi, a importante conquista de poder continuar a disputar a Série B do Campeonato Brasileiro.

Além do Campeão da Série B, o Goiás, também Criciúma, Atlético PR e Vitória disputarão a Serie A em 2013. Os rebaixados para a Série C foram CRB, Guarani, Ipatinga e Grêmio Barueri.



domingo, 18 de novembro de 2012

UM GIRO POR DENTRO DO RALI DAKAR







Por Cássio Ribeiro


Em 5 de janeiro de 2008, um sábado, era para ter sido escrito mais um capítulo da história daquele que é o mais famoso e tradicional Rali do mundo. Porém, junto com as dunas, as pedras, os buracos, a dor, o medo, a fome, a sede, o calor de mais de 45 graus do dia e o frio intenso da noite, que precisavam ser superados durante os mais de 9 mil quilômetros a serem percorridos em pleno Deserto do Saara, um perigo a mais presente na competição de 2008 do também chamado "Rali da Morte" acabou fazendo a organização do evento cancelar aquela que seria a histórica 30ª edição do Rali.



  
Competidores descansando no intervalo entre duas etapas do Rali Dakar, realizado na ocasião entre a Europa e a África




O governo da França avisou ao diretor do Rali Dakar 2008, o francês Etienne Lavigne, que terroristas haviam feito ameaças aos competidores do Rali, sem que pudessem ser especificadas as prováveis etapas da competição onde ocorreriam os ataques. 



Durante o trecho do Rali que cortava o Deserto do Saara, no noroeste da África, os competidores de diversas nacionalidades ficavam indefesos durante horas em seus carros, motos e caminhões, expostos e cercados por cenários formados por dunas em todos os 15 dias da competição em média.




Por horas durante o Rali, os participantes eram presas fáceis...


 
 para os fundamentalistas islâmicos, como nesse trecho dentro do leito de um rio seco no deserto




Apesar das ameaças terroristas, que já tinham ocorrido em anos anteriores, mas nunca ocasionaram o cancelamento da competição, o ponto fundamental que impediu a realização do Rali Dakar 2008 foi o assassinato de 4 turistas franceses em 28 de dezembro de 2007, na Mauritânia, que é um país localizado no noroeste da África e cujo deserto era cortado por grande parte do percurso do Rali.




 Logo que cruzava o Estreito de Gibraltar e entrava na África, o percurso seguia para o oeste a fim de evitar o território da Argélia, mas a passagem pela Mauritânia representava perigo iminente para os competidores




O assassinato dos 4 franceses naquela região foi atribuído ao grupo Islâmico "Salafista para Pregação e o Combate", que teve origem na Argélia e atua em todo o norte da África, além de ser ligado à organização Al-Qaeda desde 2002. 



 Bandeira do Grupo Islâmico Salafista; braço armado da Al-Qaeda no norte da África






O 30º Rali Dakar 2008 teria início na cidade portuguesa de Lisboa, em frente ao Mosteiro dos Jerônimos, e terminaria em 20 de janeiro no oeste da África, na capital do Senegal, Dakar. 



Antes do cancelamento do Rali Dakar 2008, a organização do evento ainda pensou em uma prova mais curta, que terminasse no Marrocos; porém, o governo francês recomendou que o Rali nem fosse iniciado.




Sem a realização da etapa 2008 da competição, o diretor do Rali, Etienne Lavigne, direcionou a organização do Dakar para a América do Sul a partir de 2009.



Foi uma mudança significativa nas tradições e no trajeto histórico do Rali, que surgiu de forma curiosa a partir da ocasião em que o francês Thierry Sabine, em 1977, ficou perdido no deserto do norte da África, e decidiu que o local seria ótimo para a realização de um Rali anual. 



A primeira edição do Dakar foi realizada um ano depois, entre dezembro de 1978 e janeiro de 1979 — dos 170 participantes que saíram de Paris na edição inaugural, só 69 concluíram o Rali em Dakar.  



A partir de então até a edição cancelada de 2008, o tradicional Rali, que é a maior e mais dura prova automobilística do mundo e reúne cerca de 500 veículos entre as categorias caminhão, carro e moto, nunca deixou de ser realizado.



Entre 2009 e 2011, o novo percurso do Rali Dakar teve início na Argentina e Terminou no Chile. Na edição 2012 (33ª edição), realizada entre 1 e 15 de janeiro deste ano, a grande novidade foi a ampliação do percurso sul-americano até o Peru.


  
O percurso 2012 do Rali Dakar, realizado na América do Sul atualmente
 


 Mesmo realizado na América do Sul atualmente, os acidentes são constantes nas edições do "Rali da Morte"





 Até 2007, quando era realizado entre a Europa e África, a areia fina das dunas do Saara muitas vezes revelava-se uma armadilha durantre os deslocamentos de 150 Km/h




  
Piloto e navegador, que segue com um mapa estudando a melhor opção para cumprir cada etapa no menor tempo, devem estar entrosados como em uma dança. No deserto do Chile por exemplo, que é cheio de pedras de todos os tamanhos, um erro pode representar a despedida Rali, e muitas vezes da própria vida


No Dakar, o destaque brasileiro é o experiente piloto André Azevedo, que é assíduo participante da categoria caminhões do Rali desde 1999, ano em que estreou dando ao Brasil uma colocação no pódio, com a conquista do 3º lugar. 



 André Azevedo, sinônimo de presença brasileira na categoria caminhões do Dakar desde 1999..






e seu robusto caminhão da Equipe Brasil Dakar, fabricado na República Checa. O modelo é equipado com sistema para inflar os pneus em movimento, caso furem durante uma etapa no meio do deserto




Uma outra faceta muito criticada do Rali Dakar nas edições Europa-África até 2007 era aquela observada pelos que analisavam o evento como uma agressão ao pobre continente africano, repleto de fome e epidemias. 



O próprio título oficial do evento "Euromilhões Lisboa-Dakar" deixava claro um triste contraste expresso quando os carros, as motos e os caminhões das marcas líderes do mercado automobilístico mundial passavam pelas vilas pobres do interior árido norte-africano e suas populações de humildes tuaregues. 



Registro da chegada da edição 2007 do Euromilhões Lisboa-Dakar ...


As edições realizadas até 2007, com início na Europa, marcavam um triste contraste com a condição econômica e social das populações africanas


Na versão antigado Rali , quando os carros, as motos e os caminhões percorriam os 20 quilômetros da última etapa do Dakar, junto ao Atlântico e já dentro do território do Senegal, na costa oeste africana, rumo à linha de chegada em Dakar, estavam batidos, remendados e com o motor cansado, porém, tudo podia ser reparado com recursos financeiros de sobra.



Os últimos 20 quilômetros do Rali Dakar eram e são, na verdade, uma festa, uma grande festa dos países ricos e líderes da economia mundial, representados por seus competidores que, mesmo exaustos, conseguiam e conseguem percorrer o deserto, vencendo o medo, o frio, a dor, o calor, a sede e a fome. 


Tudo meramente transitório. Deixam na verdade para trás toda uma realidade humana e social que não se repete só em períodos anuais, como uma festa, e nem pode ser subitamente cancelada como o Dakar de 2008.