Imagine ruínas abandonadas que já foram antigos prédios. Imagine acomodações rústicas embaixo de viadutos que são habitadas por mendigos. Imagine também o sistema subterrâneo de escoamento das águas da megalópole São Paulo, que drena os fluídos dos esgotos e as correntezas das chuvas da superfície asfáltica e concretada da capital paulistana para o poluído e agonizante Rio Tietê.
Esses locais certamente não são o lugar mais apropriado para um artista expor seus trabalhos, contudo, foram escolhidos pelo ex-punk e ex-motoboy paulistano José Augusto Capela, o Zezão, para criar e fazer sua arte.
Esses locais certamente não são o lugar mais apropriado para um artista expor seus trabalhos, contudo, foram escolhidos pelo ex-punk e ex-motoboy paulistano José Augusto Capela, o Zezão, para criar e fazer sua arte.

Nos tempos em que era punk e motoboy, nos idos da primeira metade da década de 1990, Zezão começou praticando sua expressão por meio da pichação comum. Sua assinatura era “Vicio Pif Dst” (“vicious pintores infratores ferroviários destroy) e Zezão escalava prédios públicos para grafitar.
Com o tempo, sua caligrafia foi ganhando forma arredondada e as letras acabaram virando desenhos abstratos com caráter mais incrementado e artístico, lembrando uma espécie de língua tribal que não pode ser entendida de forma direta por nós, mas que possui expressivo significado de comunicação como veremos. Convido o agora, de certo, indignado leitor, a seguir até o fim desta matéria.

Zezão no início praticava a pichação comum, como esses jovens de São Paulo...


O cenário da galeria, que não é especificamente aquela das artes, sem dúvida também não é dos mais agradáveis. Na parede, um “revestimento” com centenas de baratas saúda Zezão, que caminha.
Certa vez, a lanterna falhou subitamente e Zezão se viu envolto pela escuridão em pleno labirinto de túneis. Nenhum problema para o grafiteiro que conhece como ninguém a São Paulo que o cidadão comum, em suas idas e vindas pela cidade, não vê; aquela do subsolo.
Outro problema que pode atingir Zezão, de forma fatal, é amenizado pelo inseparável telefone Celular que o artista carrega sempre que se aventura nas galerias em tardes de verão na capital paulista.
Zezão deixa sempre um amigo de plantão para verificar a formação de nuvens sobre a cidade, a fim de avisá-lo via ligação sobre a iminente chegada de um temporal, o que encheria rapidamente os túneis até o teto com violentas correntes de água e arrastaria o grafiteiro indefeso para a calha do Rio Tietê, num afogamento certo e muito poluído.
Certa vez, a lanterna falhou subitamente e Zezão se viu envolto pela escuridão em pleno labirinto de túneis. Nenhum problema para o grafiteiro que conhece como ninguém a São Paulo que o cidadão comum, em suas idas e vindas pela cidade, não vê; aquela do subsolo.
Outro problema que pode atingir Zezão, de forma fatal, é amenizado pelo inseparável telefone Celular que o artista carrega sempre que se aventura nas galerias em tardes de verão na capital paulista.
Zezão deixa sempre um amigo de plantão para verificar a formação de nuvens sobre a cidade, a fim de avisá-lo via ligação sobre a iminente chegada de um temporal, o que encheria rapidamente os túneis até o teto com violentas correntes de água e arrastaria o grafiteiro indefeso para a calha do Rio Tietê, num afogamento certo e muito poluído.


O grafiteiro conta que certa vez, ao ser avisado sobre a chegada de uma forte chuva, saiu rápido pela tampa de um bueiro em uma famosa via pública da capital paulista, para surpresa dos pedestres e motoristas que transitavam pelo local no momento.
Zezão agora caminha com uma lanterna nas mãos no interior de uma galeria. A água urbana passa ligeira e turvamente poluída na altura das canelas do grafiteiro, e só não entra em contato com a pele do artista graças a uma bota de borracha (galocha) que zezão usa como calçado para percorrer os caminhos subterrâneos da cidade de São Paulo.
O grafiteiro sabe de cór o ranking de velocidade da corrida aquática do esgoto que sempre assistiu fluir numa espécie de mix entre regata e fórmula 1, e cujas campeãs absolutas com melhores tempos de chegada ao Rio Tietê são as garrafas pet.
Zezão agora caminha com uma lanterna nas mãos no interior de uma galeria. A água urbana passa ligeira e turvamente poluída na altura das canelas do grafiteiro, e só não entra em contato com a pele do artista graças a uma bota de borracha (galocha) que zezão usa como calçado para percorrer os caminhos subterrâneos da cidade de São Paulo.
O grafiteiro sabe de cór o ranking de velocidade da corrida aquática do esgoto que sempre assistiu fluir numa espécie de mix entre regata e fórmula 1, e cujas campeãs absolutas com melhores tempos de chegada ao Rio Tietê são as garrafas pet.

Os outros “participantes” da fórmula 1 da má educação e da sujeira promovidos e patrocinados pelos habitantes de São Paulo são frutas estragadas, pacotes de petiscos, caixas de pasta de dente, dezenas de cachorros e alguns cavalos, além de muitos outros “corredores” anônimos que concorrem nas “provas” de má cidadania que não acontecem apenas em São Paulo, mas também em toda grande cidade onde haja a concentração do animal, muitas vezes “irracional”, ser humano.


A forma como Zezão produz um grafite seu é descrita abaixo num trecho de texto publicado na Revista piauí, um ícone do jornalismo literário brasileiro, em http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-12/grafiteiro/zezao-sai-do-esgoto:
“Zezão tira o menor rolinho de espuma, o de 4 centímetros de largura, da sacola que leva atravessada no peito, e o mergulha na tinta azul- clarinha. Na parede interna da galeria de esgoto, pinta um pequeno círculo. Do meio dele faz sair um traço horizontal para a esquerda e, com agilidade, pinta ao redor uns arabescos. Uma das pernas encaracoladas do desenho, a mais magricela, segue como um pega-rapaz em direção às águas opacas e malcheirosas do córrego Carandiru. "Por esse esgoto correu o sangue dos detentos, por isso gosto de voltar aqui", diz, em tom reflexivo, enquanto agita, como se fosse um chocalho, uma latinha de tinta. É sempre assim. Com o rolinho, ele faz desenhos sinuosos com o azul-claro. Com o spray azul-escuro, faz o contorno.” Crédito: Revista piauí.

O que Zezão faz nem tem muito apego com a estética e na verdade é uma forma de intervenção urbana, que mostra, através do contraste entre o azul cheio de vida dos desenhos do grafiteiro e o meio urbano degradado, como um lugar que já abrigou um rio limpo cheio de peixes e vida foi destruído pela ocupação desequilibrada e cruel de uma grande cidade como São Paulo. Os grafites abstratos de Zezão expressam ao mesmo tempo vergonha, saudade, crítica ao sistema e muito mais.

Trata-se da Folkcomunicação (comunicação do povo), que a jornalista brasileira Márcia Campos, de Pindamonhangaba-SP, que vive atualmente na Irlanda e é estudiosa de Folkcomunicação explica: “Folkcomunicação é um termo cunhado por Luiz Beltrão nos anos 60 para definir a comunicação realizada pelos marginalizados (público que está a parte da grande mídia). Ela pode estar diretamente ou indiretamente ligada ao folclore. Trocando em míudos, folkcomunicação nada mais é do que a expressão comunicativa dos grupos marginalizados através de seus próprios canais e agentes. Além do grafite, a pichação comum também é uma expressão comunicativa dada por inscrições que assumem diferentes formas como assinaturas, desenhos, frases de efeitos, etc. Geralmente suas mensagens são de cunho politico e tomam como canal vias publicas, monumentos e edificios (midia externa), tal expressão tem como objetivos desafiar a ordem publica, chocar e expressar idéias, e ideais de um grupo marginalizado, que toma para si um meio público e massivo como canal. Assim sendo, todo o processo comunicativo da pichação envolve todos os agentes destacados por Beltrão na Folkcomunicação”, completa a jornalista.


Zezão já expôs seus trabalhos pelo mundo: em Londres, em Nova Iorque, nas Catacumbas de Paris, em Praga, capital da República Tcheca e em diversos outros países.
Para ele, sua obra só é considerada grafite quando é realizada no meio urbano, e não quando é exposta em galerias ou vendidas em placas de concreto com o propósito de decoração em ambientes, por preços que chegam a variar entre 1000 e 4000 reais.

Zezão em túnel de Londres

Sua obra em exposição no RJ...


ficando a definição "grafite" reservada apenas para as práticas públicas no meio urbano, como nesse trabalho no bairro do Bronx, em Nova Iorque
Em diferentes e curiosas ocasiões, sendo elas grafite ou não, é certo que as obras de arte de Zezão saíram dos esgotos e subterrâneos para ganharam literalmente o mundo.
muito bom os trampos desse mano meus parabéns !!!
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