Por Cássio Ribeiro
A particularidade
do princípio ativo estimulante da cafeína está presente no primeiro
registro histórico conhecido sobre o café: Estamos no século 6 da era Cristã, há cerca de mil e quinhentos anos
atrás, nas montanhas da Etiópia, em pleno nordeste da África.
Lá, vários
arbustos repletos de pequenas frutinhas vermelhas crescem selvagens no
meio das pastagens das ovelhas. Um
pastor chamado Kaldi começou a perceber que suas ovelhas ficavam
saltitantes, loucas e felizes, parecendo "eletrificadas", todas as vezes
em que comiam as tais frutinhas penduradas naqueles arbustos.
O rebanho
de ovelhas também demonstrava disposição para percorrer muitos
quilômetros em íngremes terrenos, após a ingestão das tais frutinhas.
O pastor Kaldi decidiu então comer algumas daquelas frutas e ficou estimulado e agitado como seus animais. Um frade observara o fato e, classificando as frutinhas como "coisas do demônio", resolveu levar algumas delas para serem exorcizadas. Jogou-as na fogueira e, subitamente, um doce e inconfundível aroma tomou conta dos ares de seu monastério.
O
frade, assustado com o ocorrido, despejou água sobre as frutinhas
torradas. Pronto, acabava de ser preparado o primeiro cafezinho da
história.
A partir de então, o café seguiu uma longa saga histórica que o
levou a tornar-se o mais popular e principal estimulante do sistema
nervoso central consumido pela humanidade.
Os árabes
dominaram, nos séculos 8 e 9, a região onde o café crescia selvagem em
meio a vegetação natural, na atual Etiópia. Foram eles os primeiros
bebedores, alterando o costume tão comum entre os pastores de ovelhas da
região, que mascavam diretamente as já apreciadas frutinhas
avermelhadas estimulantes.
Os
árabes passaram a controlar de forma exclusiva o cultivo dos pés de
café. Era proibido aos estrangeiros chegarem perto das plantações, que
os árabes protegiam com a própria vida.
As
sementes ou grãos de café só eram comercializados com outros povos
depois de estarem sem fertilidade, o que garantia aos árabes o monopólio
da venda do produto tão apreciado no mundo conhecido da época. Uma
lei árabe de 1475 garantia que qualquer mulher poderia pedir o
divórcio, caso o marido não fosse capaz de dar-lhe uma certa quantidade
de café todos os dias.
O próprio nome café tem origem na palavra árabe "qahwa", que significa vinho. Sendo assim, o café ficou conhecido como o "vinho da arábia" quando chegou à Europa no século 14, por ocasião da invasão árabe naquele continente.
No século 17, o café já era consumido em larga escala na Europa, mas só os árabes vendiam o produto. Italianos, alemães e franceses tentavam sem sucesso, desenvolver o cultivo da planta do café.
O próprio nome café tem origem na palavra árabe "qahwa", que significa vinho. Sendo assim, o café ficou conhecido como o "vinho da arábia" quando chegou à Europa no século 14, por ocasião da invasão árabe naquele continente.
No século 17, o café já era consumido em larga escala na Europa, mas só os árabes vendiam o produto. Italianos, alemães e franceses tentavam sem sucesso, desenvolver o cultivo da planta do café.
Foram os holandeses que conseguiram desenvolver as primeiras mudas nas estufas do Jardim Botânico de Amsterdam. O café passava então, do cultivo ao consumo, a fazer parte da vida diária dos europeus.
Outros países
buscavam o desenvolvimento da técnica de plantio, a fim de obterem
também os grandes lucros gerados pela comercialização do produto.
Artefatos árabes utilizados na moagem e no preparo do café
Os franceses
também conseguiram dominar o plantio, a partir de uma muda proveniente
de Amsterdam. Logo, vários países europeus dominaram a técnica de
produção do café e, com as descobertas de novas colônias na África e nas
Américas por meio do desenvolvimento das navegações européias no século
15, o café chegou a Cuba, Porto Rico, Guianas e Suriname, de onde foi
trazido para o Brasil.
O
sargento-mor Francisco de Mello Palheta foi enviado ao Suriname com a
incumbência de trazer a primeira muda de café para o Brasil. Palheta
adquiriu a confiança da esposa do governador da Caiena, capital do
Suriname, e recebeu dela clandestinamente, uma pequena muda da planta
café arábica.
O brasileiro trouxe a pequenina planta para o Brasil escondida na bagagem. Chagava ao país, precisamente em Belém do Pará, no ano de 1727, a primeira muda do produto que revolucionaria a estrutura econômica colonial brasileira pouco tempo depois.
O café logo se espalhou pela Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo, pois as condições climáticas brasileiras proporcionavam o fácil desenvolvimento da planta. O produto passou a ser o símbolo principal da economia brasileira e seu cultivo foi realizado apenas com recursos nacionais, gerando riquezas de forma independente, a partir das plantações dentro do Brasil Colônia.
O brasileiro trouxe a pequenina planta para o Brasil escondida na bagagem. Chagava ao país, precisamente em Belém do Pará, no ano de 1727, a primeira muda do produto que revolucionaria a estrutura econômica colonial brasileira pouco tempo depois.
O café logo se espalhou pela Bahia, Maranhão, Rio de Janeiro, Paraná e São Paulo, pois as condições climáticas brasileiras proporcionavam o fácil desenvolvimento da planta. O produto passou a ser o símbolo principal da economia brasileira e seu cultivo foi realizado apenas com recursos nacionais, gerando riquezas de forma independente, a partir das plantações dentro do Brasil Colônia.
No
final do século 18, o Haiti, que era colônia francesa e o principal
produtor e exportador de café do mundo, foi arrasado pela crise gerada
em função da guerra de independência contra a França. Foi a brecha para o
Brasil aumentar a produção e a exportação do produto.
Durante
todo o século 19, e boa parte do século 20, o café foi a grande riqueza
absoluta brasileira, responsável pelo desenvolvimento do país e pela
sua participação no comércio internacional.
Inicialmente,
o norte do Paraná, o sul de Minas Gerais e a região do Vale do Paraíba
Paulista foram os locais que mais se destacaram. No Vale do Rio Paraíba
do Sul, em São Paulo, o café possibilitou o desenvolvimento de cidades
como Guaratinguetá e Taubaté, além do surgimento de uma classe social
extremamente rica, os barões do café, que traziam roupas e talheres
importados da frança, e ergueram luxuosos casarões de fazenda.
A
ferrovia chegou em meados do século 19, dinamizando o escoamento e a
exportação do chamado "ouro negro" brasileiro.
Nunca pode ser esquecido que toda a riqueza e a prosperidade ocorridas na economia brasileira naquele
período tiveram a participação essencial, significativa e principal dos
negros escravos.
Com sua força, ao carregar os pesados sacos de café
sobre a cabeça até os entrepostos ferroviários, e com sua pele lanhada e
dilacerada pelo açoite das chibatas, os escravos garantiram a boa vida de uma
classe econômica exploradora e parasita tão presente nos moldes da
produção cafeeira daqueles tempos, classe essa que se perpetuou e hoje ainda é encontrada em forma de herdeiros descendentes e componentes atuais da elite econômica social brasileira.
Casarão que pertenceu ao Barão de Guaratinguetá. Atualmente, o palácio abriga as instalações do Instituto de Educação, uma das escolas responsáveis pelo Ensino Médio na cidade
A imponência da arquitetura, como também o luxo usufruído pela aristocracia cafeeira paulista e brasileira...
foram
proporcionados pelo suor e pelo sangue dos negros escravos. "O Brasil foi um imenso engenho de moer cana, café e negros.", afirma o já falecido sociólogo Darcy Ribeiro, em seu livro "O Povo Brasileiro"
A
marca de café brasileiro mais conhecida na época foi a Santos. Muitas
pessoas acham que o nome se referia à cidade de Santos/SP, porém, a
marca Santos pertencia a família do célebre Alberto Santos Dumont que,
além de ser considerado o pai da aviação, também foi um expressivo
"barão" paulista cafeeiro.
Outro conhecido representante da economia
cafeeira paulista, e neto do Barão de Tremembé, foi o consagrado
escritor de Taubaté, Monteiro Lobato. As
terras do Vale do Paraíba Paulista, embora extremamente férteis no
início da produção cafeeira na região, começaram a das sinas de
esgotamento e escassez de nutrientes no final do século 19.
Monteiro Lobato retrata no livro "Cidades Mortas" o cenário do declínio do apogeu do café na região, que esvaziou economicamente cidades valeparaibanas paulistas, antes consideradas as mais ricas do Brasil nos tempos áureos do café, e que passaram à condição de meros modestos centros turísticos algumas décadas depois.
Embora hoje o café não seja mais o principal produto da economia brasileira, o Brasil ainda é o maior produtor mundial de café. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o Brasil é responsável por 30% do mercado internacional do café, que corresponde também à soma da produção dos outros seis maiores produtores mundiais (Colômbia, México, Guatemala, Indonésia, Vietnã e Costa do Marfim). O Brasil, onde 90% da população admira o cafezinho diário, é o segundo maior consumidor mundial do produto, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
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