Por Cássio Ribeiro
“Os brasileiros se sabem, se sentem e se
comportam como uma só gente, pertencente a uma mesma etnia. Vale dizer, uma
entidade nacional distinta de quantas haja, que fala uma mesma língua, só diferenciada
por sotaques regionais.”
O trecho acima, do livro “O Povo Brasileiro”,
obra do saudoso antropólogo Darcy Ribeiro (1922-1997), menciona o Brasil
integrado em um único Estado Federal, mas salienta as diferenças regionais.
O homem do sertão do sudeste brasileiro,
formado a partir de uma mistura entre os costumes dos andarilhos Bandeirantes paulistas e a cultura dos índios que habitavam o interior do Brasil, é muito
similar àquela expressão cultural do homem do litoral brasileiro, já que, na
beira do mar, também houve uma mistura entre a cultura portuguesa e a cultura
indígena.
Tal mistura no litoral foi incrementada pela experiência
que os índios tinham com o mar, já que sabiam viver de forma rústica e
sobreviver à beira do oceano. Posteriormente, com a vinda dos escravos africanos, a
cultura afro também contribuiu com a formação das manifestações culturais do homem
do litoral do sudeste brasileiro, o chamado caiçara.
É costume no estado de São Paulo chamar aqueles
que nascem e vivem perto do mar de caiçaras. Boa parte do litoral de São Paulo se
desenvolveu entre a encosta da Serra do Mar e o Oceano Atlântico.
A cidade de Ubatuba, no litoral norte de São
Paulo, apresentou entre 23 de agosto e hoje, 26 de agosto, o 13º Festival da Cultura Popular Caiçara, onde se pôde ver
expressões culturais da culinária, arquitetura, artesanato e música caiçara.
Na culinária, destaque para a chef Jéssica Moura, de Ubatuba,
com seu cuscuz de frutos do mar.
O saborosíssimo prato, com lula, camarão, marisco, polvo e peixe, ganhou um concurso de gastronomia
realizado em Santos, concorrendo com receitas vindas de todo o estado
de São Paulo.
Na arquitetura, a casa
de pau a pique com telhado de palha.
E o rústico fogão a lenha.
Além da janela, singelamente decorada com capricho; era, em
sua forma simples, expressivamente nobre.
Num canto da casa, havia as belas obras do artesão caiçara José
Moura, de 65 anos.
Moura, como é chamado pelos amigos, declara-se caiçara e tem muito
orgulho disso.
Neste domingo pela manhã,
haveria uma corrida de canoas bem em frente o local da festa.
Por volta das 10h, chamava a atenção apenas uma competidora pronta para a corrida.
Por volta das 10h, chamava a atenção apenas uma competidora pronta para a corrida.
Era Hayssa Zandona, 42 anos, que tinha nas mãos seu novo remo a ser
inaugurado na ocasião. Em madeira virgem, e entalhado com linhas arrojadas até sua fina ponta, era segurado
pela desapontada Hayssa ao receber a notícia de que a corrida de canoas havia
sido cancelada por conta da chuva e do frio nessa manhã de domingo em Ubatuba.
Mas a moça informou que todo
mês acontece a corrida das canoas no local.
Aliás, outra peça que chamava a atenção na casa caiçara
durante a festa eram as miniaturas de Maria Comprida.
A grande e imponente canoa caiçara, em seu tamanho original de 7
metros, pode levar até 12 caiçaras deslizando pelo mar.
Maria Comprida nasce do entalhe em um tronco só; peça única
produzida por uma técnica herdada da cultura dos índios que habitavam o
litoral.